sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Pedra de raio

* Por Jair Lopes

Quando eu era criança no interior do Paraná, algumas vezes ouvi minha mãe contar que quando caía um raio este conduzia uma pedra no seu interior e que, às vezes, era possível encontrar alguma pedra dessas. Corroborando essa história, minha mãe afirmava que certa ocasião quando ela se encontrava na roça colhendo milho, viu e ouviu um desses raios em pleno céu límpido sem chuva. Dias depois em outro trecho do roçado ela deparou-se com a pedra que teria caído com aquele raio. Guardou a pedra – negra, ligeiramente assemelhada com um machado sem cabo, com arestas arredondadas - por muitos anos, mas esta se extraviou por ocasião de alguma mudança ainda no seu tempo de solteira e nunca mais a encontrou. Obviamente eu acreditava na minha mãe, mas tinha acentuada dúvida quanto à origem daquela “pedra de raio” que ela guardou como uma relíquia por muito tempo

Pois bem, hoje lendo um despretensioso livro “Ontem, o Universo” que trata das origens do universo, do sistema solar e da terra, me deparei com um trecho sobre meteoritos bem interessante, do qual transcrevo parte:

Em todos os tempos, os homens se impressionaram com a queda dos meteoritos. De fato, o espetáculo é grandioso: um rastro de luz atravessa a uma velocidade de dez a vinte quilômetros por segundo, acompanhado de um barulho de trovão prodigioso. Esse fenômenos, visíveis numa extensão de vários milhares de quilômetros quadrados, aterrorizavam as populações. Um acontecimento desses, evidentemente, não podia passar despercebido.

Na antiguidade, os homens conheciam a origem dessas pedras. Foram encontrados hieróglifos que uma delas era designada “pedra caída do céu”. Os egípcios, aliás, utilizavam alguns desses meteoritos que, as vezes, contém ferro em estado de metal quase puro. Encontraram-se armas e ferramentas forjadas com ferro proveniente desses meteoritos. Os gregos e os romanos também conheciam a origem extraterrena dessas pedras e, durante muito tempo, atribuíam um poder mágico a esses objetos. Em diversas civilizações alguns meteoritos eram até divinizados. É possível que famosa Pedra Negra de Meca, santuário do islamismo, seja um meteorito. Curiosamente, a atitude mudou na Idade Média, pois, se o mundo greco-romano nos deixou numerosos testemunhos de seu elevado nível cultural, a humanidade iria entrar, em seguida, em um longo período de obscurantismo.

Foi, então, preciso esperar até o século XIX para se verificar uma mudança de mentalidade: no dia 26 de abril de 1803, uma verdadeira chuva de pedras caiu nas cercanias de Aigle, França. Cerca de 3000 pedaços do meteorito foram encontrados sobre uma superfície de aproximadamente 50 quilômetros quadrados. E, desta vez, a Academia de Ciências enviou observadores que tiveram que se render às evidências: de fato, tudo aquilo tinha mesmo caído do céu!

A tradição popular ainda atribui um poder mágico a esses objetos. Em lugarejos do interior (Aqui lembro de minha mãe que vivia numa pequena localidade chamada Pinheiral de Baixo), são chamados “pedras de raio”. O que mostra simplesmente que sua queda se faz acompanhar de um clarão e um troar de trovão. Às vezes, são encontrados sobre esse nome objetos talhados pelo homem pré-histórico, e sua origem também era atribuída ao raio. “Seja como for, o camponês (minha mãe, novamente) que achasse tais objetos guardava-os como preciosidades, fixando-os na parte de cima da porta de entrada de sua habitação: a casa ficava, assim, protegida contra incêndios...”
À minha mãe, já falecida, peço perdão se em algum momento possa ter deixado de acreditar plenamente na origem da sua “pedra de raio” tão estimada e venerada. A crença dela estava em sintonia exata com o que a tradição popular de seu tempo entendia como verdade verdadeira.

* Escritor, autor dos livros “O Tuaregue” e “A fonte e as galinhas”.


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