Todos os blues
* Por
Clóvis Campêlo
Confesso que já
descobri o blues eletrificado e entrando na maioridade, no final dos anos 60. E
o primeiro bluseiro que me chamou a atenção e atingiu os meus ouvidos foi o
albino Johnny Winter, o sivuca do blues. Gostava daquela guitarra lisérgica,
com solos nervosos e ácidos, muito barulho. Aliás, em uma das suas frases mais
marcantes ele diz exatamente isso, que todo blues deve ser sujo e barulhento.
Ou seja, uma música de contestação cultural e comercial. Nada de concessões.
Hoje, setentão e quase cego, Johnny ainda faz a cabeça de muita gente pelo
mundo a fora, muito embora a sua música e o estilo de tocar tenha se tornado
menos agressivo e mais melódico. Talvez a maturidade já esteja chegando para ele.
Depois, surgiu na minha
frente um furacão chamado Jimi Hendrix. Se Winter era avassalador, Hendrix era
(e ainda é) completamente revolucionário, levando o ouvinte a refazer todo o
seu entendimento do que era o roque, o blues, o modo de se tocar uma guitarra
elétrica. Seduzido por ele, eu sempre quis mais. Com Hendrix, não havia pedras
no caminhos. Tocando, arriscava-se sempre em saltos mortais para cair sempre de
pé, no local certo, na hora certa. Uma porrada nos nossos ouvidos numa hora em
que o rock ameçava se institucionalizar.
Lembro que nos anos 80
fiz o “sacrifício” de levar o meu filho mais novo, Gabriel, na época ainda
criança, ao Cinema São Luiz, no centro do Recife, para assistir ao filme
He-Man. Gostei do filme e pirei mais ainda na sequência em que o herói enfrenta
o Esqueleto numa loja de discos ao som de Purple Haze, de Hendrix.
Inesquecível.
Depois descobri Muddy
Waters, Howlin Wolf e o blues de Chicago. Um som intermediário e de transição
entre os bluseiros mais antigos e tradicionais.
Daí para Robert Johnson
foi um pulo, ajudado pela versão fantástica que os Rolling Stones deram a sua
música Love it Vain, no disco Sticky Fingers. O som de Johnson já define o
blues de três acordes que marcaria as gerações posteriores de bluseiros urbanos
americanos e ingleses.
O mergulho final nesse
processo de resgate e de conhecimento do blues mais antigo e tradicional veio
com a ajuda dos amigos Osman Frazão e Bartolomeu Lima, com os quais, durante
alguns meses, apresentei na Rádio Universitária AM do Recife o programa Boa
Noite Blues.
Lá, nas noites das
sextas-feiras, colocávamos no ar o som de bluseiros ancestrais, como Charley
Patton, com o seu som monocórdio e retilíneo, que em muitos momentos nos
lembravam os sons dos violeiros que circulam pelas feiras livres do sertão
nordestino.
O blues mudou,
modernizou-se e conquistou uma nova clientela, inclusive entre os jovens da
ascendente classe média brasileira, com novas bandas, como o Blues Etílico e a
Uptown Blues Band, que se arriscam a fazer fusões musicais inusitadas e belas.
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Poeta, jornalista e radialista
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