No carrossel da vida
* Por
Arita Damasceno Pettená
Se é verdade que cada
homem que passa é um drama que caminha, nós somos esses dramas que perambulam
pelos compartimentos do mundo, ora jogados no asfalto quente das desilusões,
ora trancafiados entre quatro paredes a sofrer, mesmo rodeados de gente, o
desespero da solidão, o massacre das injustiças que colocam, muitas vezes, em
dúvida a nossa fé num ser superior. Mas é também nessas horas que a gente volta
o olhar cansado para trás e vê que não estamos sós. Lá longe, num país
distante, jovens, crianças e mulheres sendo dizimados por uma guerra que não
programaram. E aqui, tão perto de nós, cabecinhas brancas, órfãos de pais
vivos, adolescentes entregues às drogas, morrendo, lentamente, nos asilos, nas
“febens” do mundo, nas grades das prisões, pelo descaso que sempre lhes damos
quando apelos nos fazem de que precisam de nossa paciência, de nossa palavra,
de nossa compreensão.
Ah! No carrossel da
vida, quantas almas sem ter para onde
ir... sem ter com quem ficar... É o filho de pais separados, dividido entre o amor
dos dois. É a dissolução de um sonho de ternura, provocando traumas profundos.
É a mãe que vê partir seu filho, recebendo na hora última o conforto que não
consola seu pranto. É alguém que trabalha sob o peso do desgaste a abalar-lhe o
físico e o emocional, sem encontrar uma mão amiga a desviar-lhe da depressão. É
o homem reduzido a escombros diante do inevitável: a calúnia, a inveja, a falta
de amor ao próximo. É o artista sufocado em sua sensibilidade pelos limites
impostos à sua criação. É o cronista que vê cerceado seu pensamento, porque “um
poder mais alto se alevanta” para deter sua luta em prol de um futuro menos
condicionante às leis que impedem o homem de ser livre e procurar seus próprios
rumos. É a vítima de um mal incurável, esperando, no minuto que passa, o
instante da morte, em sua derradeira passagem pela vida.
Ah! No carrossel da
vida, nos igualamos todos. Somos ao mesmo tempo algozes de irmãos que
condenamos aos cárceres da desesperança pela nossa falta de confiança no outro.
Somos desertores de nossos próprios sonhos porque nos faltou a coragem de
crermos em nós mesmos. Mas hoje, por certo, o espírito da ressurreição há de
expulsar de nossa mente todos os temores vãos, para dizer-nos, em uníssono, que
nos tornamos, neste momento, mensageiros da palavra do Senhor, varrendo de
nossos caminhos a semente da dúvida e do pessimismo.
Não nos torturemos com
nosso olhar cheio de vazio, com as rugas que fizeram vincos em nosso rosto, testemunhas fiéis não da
alegria que dissimulamos para o mundo, mas depositários de todas as lágrimas
que choramos pelos golpes que marcaram fundo nossas almas. Hoje, tal como a
terra ressequida tem sede da chuva para rasgar-lhe o solo, nós temos sede de
Ti, ó Senhor, para nos trazer a bênção do orvalho e a força do Teu amor.
Hoje nos
bendizemos todos os sofrimentos que se
armazenaram dentro de nós, como desertos de
areia que custamos a vencer pela
fadiga de nossos passos, pelas trevas de nosso egoísmo, , porque é somente pela
dor que conquistamos o cetro da vitória. Senhor, que a gente não Te busque mais
nas altas paragens, no infinito que nunca se alcança, nos templos que às vezes
não nos dizem nada, mas como verdade presente em todas as ocasiões em que nos
sentimos sós, em todos os instantes que pudermos propalar a Tua palavra, até
mesmo nesta humilde crônica, suplicando a Tua ajuda para levarmos uma mensagem de esperança a todos que precisam de nós.
*
Poetisa, escritora e professora, membro da Academia Campinense de Letras e da
Academia Campineira de Letras e Artes.
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