O fascínio pelo poder
* Por Paulo Reims
Ele existe e é necessário, pois está presente em todas as relações e
instâncias da vida e da sociedade. Começando pela família, a célula básica da
sociedade.
Não é algo ruim sentir atração pelo poder. O que pode se tornar ruim é a
forma como este poder é exercido nas áreas sociais, econômicas, políticas,
familiares, religiosas e em qualquer entidade. Eu mudaria a Constituição, para
que todos tomassem consciência. Em vez de “Os três Poderes” colocaria “Os Três
Serviços da República Federativa do Brasil”.
Todas as pessoas podem e até devem se sentir atraídas pelo poder, desde
que tenham como escopo o serviço e, ainda, que sempre seja debatida a melhor
forma de servir. Caso contrário, o poder corre o risco de se tornar imposição,
autoritarismo, tirania, despotismo e arrogância. O poder exercido desta forma é
classificado pela psicologia como patológico, ou seja, a pessoa que age assim
se auto-revela insegura e fraca. São estas as pessoas que se sentem donas da
verdade e da melhor forma de administrá-la. Aqui começam os sérios problemas na
forma de exercer o poder, pois ninguém é perfeito. Já dizia o cantor Caetano
Veloso: “Olhando de perto ninguém é normal”; e um amigo sociólogo completa:
“Olhando de longe é pior ainda”. Resumindo, como diz o ditado popular: “Todos
temos telhado de vidro”. Portanto, vamos com calma, senhores e senhoras.
Creio que a melhor forma de solucionar o problema em torno do poder é
exercê-lo de forma democrática e participativa. Porém, no Brasil, o artigo 14
da Constituição ainda não foi regulamentado, para que o povo possa exercer seu
poder de cidadania através de plebiscitos e referendos, a respeito de matérias
importantes para vida da sociedade. Há que se continuar a luta. Todavia, o
silêncio ainda não foi quebrado, pois isso convém à maioria da classe política
brasileira. Poder pelo poder corrompe...
Existe um chamado bíblico muito forte a este respeito, ou seja, para os
que exercem o poder buscando o proveito próprio: “Pensa no teu fim e
converte-te”.
Há uma lenda em torno de Alexandre Magno. Diz ela que, vendo ele se
aproximar sua morte, convocou seus generais e manifestou seus três últimos
desejos: 1) Que seu caixão fosse transportado pelos médicos; 2) Que seus
tesouros fossem espalhados no caminho, até o seu túmulo; 3)Que suas mãos fossem
deixadas balançando no ar, fora do caixão, à vista de todos. Perguntaram-lhe a
razão disto, e ele explicou: - “Quero que os mais eminentes médicos carreguem
meu caixão para mostrar que eles não têm poder perante a morte. Quero que o
chão seja coberto com meus tesouros conquistados para que as pessoas possam ver
que os bens materiais conquistados aqui permanecem. Que minhas mãos balancem ao
vento para que as pessoas vejam que de mãos vazias viemos a este mundo, e de mãos
vazias partiremos dele”.
Lamentavelmente, há mais de dois milênios, Alexandre não imitou Pepe
Mujica, atual presidente do Uruguai, considerado o chefe de Estado mais pobre
do mundo. Alexandre mandou espalhar seus tesouros por onde seu caixão iria
passar. Pepe Mujica é um homem prático, se diz ateu, mas vive a partilha, a
simplicidade e a fraternidade solidária, vivida e pregada pelo Mestre Jesus de
Nazaré. Não esperou a morte, mas do seu salário de 12 mil e 500 dólares, ele só
fica com mil e 250 dólares. Os 90 por cento são entregues a ONGs encarregadas
de construções de casas populares para os pobres. Diz que fica com o
suficiente, pois tem gente que vive com menos ainda em seu país. Ele mora numa
casa modesta, numa pequena fazenda de sua esposa, e dirige um velho fusca, que
vale mil dólares.
Nas reuniões dos dirigentes dos países latinos americanos é sempre
ouvido com fervor. Porém, é necessário que todos o imitem, só assim sobrará
verbas para tantas políticas públicas, para pagar melhor aos profissionais da
saúde e da educação e a todos os trabalhadores. Para equipar melhor os centros
de saúde e escolas... É o poder transformado em serviço à vida com dignidade
para todos(as).
* Jornalista
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