Perfil da economia
brasileira em fins do século XIX
A despeito das várias
crises políticas que afetaram o Brasil durante praticamente todo o período
imperial – em especial nos seus derradeiros anos – havia inegável prosperidade
econômica no País, pelo menos de alguns grupos específicos, sustentada pela
agricultura, particularmente, pela produção do café, no último ano do governo
de D. Pedro II, então entregue à refência do Conde D’Eu e da Princesa Isabel. As
crescentes exportações do produto geravam sistemáticos superávits na balança
comercial brasileira, a despeito das imensas importações. Na época,
praticamente todos os produtos consumidos por aqui vinham do Exterior. Essas
importações, porém, eram superadas, e muito, pelas vendas do café no mercado
externo.
Claro que não estou
falando de distribuição de riquezas. A renda nacional estava concentradíssima em
poucas mãos (guardadas as proporções, mais ou menos como ocorre agora), no
caso, dos produtores e, principalmente, dos exportadores de café. Os superávits
da balança comercial possibilitavam que o Brasil gozasse de amplo crédito internacional.
Havia considerável reserva de moeda forte no País, o que permitia a abertura de
uma profusão de bancos, de companhias de seguro e de empresas comerciais de
toda a sorte. A agricultura (no caso, a do café) e o comércio eram, pois, os
dois pilares da economia brasileira.
Esporadicamente
surgiam, aqui e ali, algumas indústrias, em geral criadas por sonhadores que,
no entanto, não dispunham nem de capital (sem o que não conseguiam se expandir
e raramente tinham condições de sequer sobreviver) e muito menos de
conhecimentos técnicos, necessários para tocar, com um mínimo de
competitividade, esse tipo de empreendimento. Tanto seu maquinário quanto seus
processos de produção eram incipientes, primitivos, rústicos, não raro
artesanais (ou quase). A indústria nacional, portanto, não contava, naquele
período, como fator econômico minimamente considerável.
O recurso daqueles
ousados (não seriam temerários?) pioneiros da industrialização, o único, até para
sobreviver, era o de apelar para o governo. E apelaram de fato. Foi então que
nasceu o protecionismo oficial, mediante subsídios aos (raros) bens produzidos
no País. A qualidade (levando em conta o primitivismo das máquinas e dos
métodos de produção) até que era razoável. Claro que era nitidamente inferior
aos similares importados. Mas nem tanto. O que pesava era o custo de produção,
que, em alguns casos, era de até o dobro ou mais do que os trazidos do
Exterior. Para que os preços fossem minimamente competitivos, teriam que ser
subsidiados pelo governo. E foram. Ainda assim...
Os capitais investidos
no comércio e nos bancos era originado, na totalidade, da atividade agrícola, a
maior parte oriunda do café e alguma coisa da produção e exportação do açúcar.
A indústria, subsidiada, só dava prejuízos. Não tinha como se auto-sustentar e
se tornar economicamente viável. O lucro – seguindo a lógica capitalista e
principalmente a do bom senso – era todo reinvestido nas atividades lucrativas.
Essa progressiva aplicação teve maior incremento ainda após a campanha abolicionista.
O fim da escravidão, ao contrário do que se pensa, trouxe mais vantagens do que
desvantagens para a agricultura, que utilizava massivamente mão de obra
escrava.
Explico. À medida que
os agricultores foram obrigados, tão logo foi promulgada a Lei Áurea, em 13 de
maio de 1888, a substituir o trabalho de escravos pelo de trabalhadores remunerados,
seus custos caíram, em vez de crescer. Não precisaram mais investir na compra
de homens trazidos da África, cujos preços não eram nada baratos,
principalmente depois que a Inglaterra mobilizou sua marinha para perseguir
navios negreiros. Ademais, os salários que os fazendeiros pagavam eram
irrisórios, se comparados com os de outros países. Começou, portanto, a sobrar
dinheiro na praça. E, para ampliar ainda mais seus ganhos, os agricultores
investiram esses excedentes em setores que lhes davam seguros e polpudos
retornos: no comércio e em serviços. Quanto à indístria... nem pensar!
A República, que foi
proclamada pouco mais de um ano após a abolição da escravatura, em 15 de
novembro de 1889, nasceu com o Rio de Janeiro, a então capital federal, atravessando
furiosa “febre de negócios” Foi aí que se perdeu pé da realidade. O “Encilhamento”
(sobre o qual tratarei na sequência, após esta breve contextualização),
atribuído a Ruy Barbosa (então ministro da Fazenda), surgiu, na verdade, pouco
antes, com um dos últimos gabinetes da Monarquia, o de Ouro Preto. Pelo menos no
que se refere à sua concepção. É certo que a execução, e o desastre econômico
que causou, se deram na gestão do Águia da Haia no comando da economia
nacional, no primeiro ministério republicano.
Naquele tempo, os
bancos tinham a prerrogativa de emitir moeda, com lastro em reservas de ouro que
tivessem. O valor das cédulas emitidas, portanto, era assegurado. O
Encilhamento, todavia, simplesmente mudou a natureza dessa garantia monetária.
Em vez do ouro, o lastro passou a ser representado pela emissão de títulos da
dívida federal. Foi aí que a coisa pegou. Mas... esta é uma história que fica
para amanhã.
Boa leitura
O Editor.
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Ruy Barbosa, um gênio desastrado. Caso tivesse chegado a presidente do Brasil que outros desastres teria impetrado?
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