Duas
formas de cortar um país ao meio
* Por Fernando Yanmar Narciso
Despindo a humanidade de tudo que é supérfluo e passageiro, amor e violência são as nossas preocupações mais primitivas. Acompanho muito a CNN. Toda noite dois entrevistadores, o americano Anderson Cooper e o inglês Piers Morgan, possivelmente os melhores do país, trazem à mesa de debate os mesmos dois temas: A aprovação das novas leis para porte de armas de fogo e a legalização da união de pessoas do mesmo sexo. Em ambos os casos, a América está irremediavelmente dividida.
Precisamos evitar que continuem a invadir colégios
e cinemas com o arsenal do Rambo e matem criancinhas inocentes, mas como? Será
que os gays precisam mesmo se casar para viver juntos? Enquanto isso o
desemprego, economia, inflação nas alturas e outros problemas “menores”
continuam sendo postos no fim da fila...
Morgan e Cooper sempre dão um jeito de encaixar os
dois assuntos na pauta de seus programas, às vezes pedindo de surpresa a
opinião de entrevistados que sequer são autoridades no assunto, e não raro os
debates são tão vorazes que suponho que os produtores devam tomar medidas
extremas para que estes programas do prime-time americano não virem o programa
de Christina Rocha.
Vamos às armas, compatriotas! Ao contrário daqui,
onde aquele tal referendo sobre o desarmamento foi mais uma jogada de marketing
que qualquer outra coisa e logo virou a piada da nação, nos EUA isso é um
assunto um pouco menos importante que o Superbowl.
Todos sabem que os norte-americanos só são mais
neuróticos que os mexicanos. Tudo para eles é motivo para um levante em armas,
sempre dão um jeito de torrar uns 5000 dólares num fuzil AR-15 e levar a
munição de troco na padaria, com a desculpa de manter suas casas protegidas
contra a ladroagem até que a polícia chegue. O problema é que quem compra armas
não pensa em outra coisa além de atirar, e a quantidade de loucos no país
cresce com a mesma proporção da fabricação de lançadores de granadas.
Num país onde as pessoas são ensinadas a pisar no
pescoço umas das outras para subir na vida, não há lugar melhor para a propagação
do bullying. Quase todos os massacres escolares foram causados por jovens
cansados de ter a cara enfiada na privada pelos valentões da escola e que
passam tempo demais jogando Call of Duty e assistindo Walking Dead,
jogos e séries de TV com espalhamento de vísceras por todo lado.
Sabem por que o desarmamento deles é mais difícil
de aprovar que o nosso? Porque, ao contrário do Brasil, a maioria das armas
deles é comprada legalmente. E como na terra do Tio Sam o dinheiro vem antes
até da própria mãe, claro que os fabricantes de armas querem puxar o freio de
mão da “corrida desarmamentista” a todo custo, inventando as desculpinhas mais
esfarrapadas possíveis para travar a aprovação das leis. Parece que, enquanto
Obama não for baleado ao vivo em rede nacional, nada vai mudar.
Casamento gay... Sabe qual era o grande barato
dessa questão? Era a única questão para a qual George Bush trazia a resposta na
ponta da língua. Sempre que perguntavam a Bush sobre casamento gay, ele sacava
o revólver. Na visão cristã tradicional, homossexualidade é quando dois homens
se unem para fazer deus chorar. Mas como eu não sou cristão, aí vai meu pitaco.
O mundo já mudou muito nos últimos milênios, assim como a concepção da unidade
familiar. Nem os heterossexuais querem mais casar tanto como os homossexuais.
Todo casal sabe que, depois de uns dez anos de convívio, cada um acaba migrando
para o extremo oposto na mesa de jantar, e não raro para o quarto de hóspedes.
Será que os gays acreditam que não possa acontecer o mesmo com eles? Nem Romeu
e Julieta seriam tão ingênuos hoje em dia. Pelo menos essa delicada batalha já
teve uma pequena grande vitória quando Obama admitiu ser favorável à união
entre pessoas do mesmo sexo. Pensando bem, mesmo que eles ainda se considerem
alvos móveis, atualmente os homossexuais já recebem mais proteção que os
héteros. Por que não deixá-los levarem uma vida frustrante e miserável a dois
como todos nós?
Pelo visto, esses problemas vão continuar sem
solução por tempo indeterminado, até que apareça algum líder com colhões o
bastante para jogar uma bomba ideológica em cima do mundo e mudar as coisas na
marra, como quando Kennedy levou o aluno negro para o colégio de brancos ou
quando Clinton mediou o aperto de mão entre Israel e Palestina, que infelizmente
não deu em nada. Mas enquanto tal “novo Jesus” não aparece... Que continuemos
dando audiência para Cooper e Morgan. Se o presidente não conseguir aprovar
essas leis, os dois com certeza o farão...
Peraí! Acabamos de receber a notícia de um massacre
a faca num ginásio de lá! Bom, não tem mais jeito. Terão que criar uma lei de
“desfacamento” da nação. E lá vai a Ginsu fazer lobby contra as propostas para
tirar as facas do povo...
*Designer e escritor. Sites: HTTP://terradeexcluidos.blogspot.com.br
HTTP://cyberyanmar.deviantart.com e HTTP://www.facebook.com/fernandoyanmar
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Gostei dessa de deixar os gays se casarem para terem uma vida miserável. Faz sentido. Não é porque eles são do mesmo sexo,que viverão felizes para sempre. O "desfacamento" também ficou engraçado.
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