Garota de Ipanema
* Por José
Teles
Carlinhos
Lyra, um dos grandes da bossa nova, já se cansou de contar a história. Estava
em casa (na Rua Barão da Torre, em Ipanema), quando recebeu a visita de
Vinicius de Moraes. Ele vinha trazer a letra para uma parceria que estavam
fazendo. Ele conta que pegou o violão e tentou encaixar a letra na melodia. Um
trecho da letra: “Olha que coisa mais linda, mais cheia de graça / é ela,
menina, que vem e que passa / num doce balanço a caminho do mar”.Carlinhos Lyra
comentou com Vinicius que não estava dando certo. Imitando perfeitamente a voz
de Vinicius ele conta o que aconteceu em seguida: “Mas não é essa a letra. Essa
estou fazendo pra Tomzinho”, daí puxou do bolso outra, que casou bem com a
música, batizada de Minha namorada”.
A Garota
de Ipanema, de Tom
e Vinicius, virou cinquentona. A bem da verdade, tem 51 anos. Foi composta em
1962, mas a primeira gravação é de 1963. O privilégio foi de Pery Ribeiro, no
LP Pery é todo bossa (Odeon) e num compacto que traz O que eu gosto de
você (Sílvio César), no lado B. Nem Tom nem Vinicius imaginavam o sucesso
que faria a canção despretensiosa, inspirada numa adolescente que passava pela
Rua Montenegro, em Ipanema (hoje, Vinicius de Moraes). Enquanto ela ia à praia,
a dupla, numa mesa do Veloso (hoje o Garota de Ipanema) elogiava a beleza da
moça, Heloísa Eneida Menezes Paes Pinto Pinheiro (que faz 68 anos em 2013), a
Helô Pinheiro, filha do general que, anos mais tarde, seria o censor oficial do
seminário O Pasquim, do qual Vinicius de Moraes era um dos redatores.
Garota de
Ipanema
tornou-se um clássico instantâneo da bossa nova, mas ainda assim os autores nem
tinham ideia de onde ela chegaria. “O Vinicius era casado, eu era casado, a
garota que passava por ali era muito jovem. Nós, como homens casados, não
podíamos nos aproximar muito. Ela também certamente queria fugir desse assédio,
de homens notoriamente casados e com filhos. Não tinha idade para ter
liberdade. Nem cantávamos para ela quando passava. Primeiro, porque não podia
tocar violão no botequim. O português proibiu logo, porque violão dá briga.
Nossa atitude era bem discreta. Inclusive a garota era filha de um general do
SNI, mas nós não sabíamos disso. Nós estávamos ali por causa do chope, não é?
Eu pedi ao Vinicius uma letra e ele fez a letra. A gente não achou muito boa,
ele fez outra. A que ficou foi a terceira letra”, disse Tom Jobim (no site
oficial do compositor).
Publicado
no Jornal do Commercio, Recife, em 14/4/2013 (domingo)
* Jornalista e crítico musical
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