quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Leite moço-II

* Por Fernando Barreto

"Talvez nunca possamos derrotar esses porcos, mas não precisamos nos juntar a eles" Murilo Castro (um brasiguaio)

Capítulo 2 - BAD NEWS IS COMING

Uma ordem cósmica mudou a trajetória de Castro em São Paulo. Num breve lapso de paz interior, guiado por um indistinto impulso interior, nosso protagonista esteve tentado a sucumbir aos aparentemente calmos e seguros caminhos da autodomesticação. Não sabia ao certo se essa autodomesticação se daria de uma forma voluntária ou involuntária, mas sabia o quanto essa idéia era contraditória para qualquer um que saísse de uma pequena cidade paraguaia para viver numa cidade como São Paulo, principalmente se tratando de um cara solteiro de 38 anos e com um passado até certo ponto aventureiro. Era uma espécie de Bruce Springsteen paraguaio. Gostava de pegar caronas, ouvir músicas que falavam sobre estradas, ler livros de aventuras, usar camisetas justas e outras springstinices.

A condição de solteiro o fazia aparentar menos idade. Mas apesar de tudo, ainda parecia viável procurar por um trabalho e por uma mulher mais jovem, que trouxesse de volta a ele alguma perspectiva do que pensava ser uma vida próspera numa cidade grande. Castro sabia que essa seria uma jornada quixotesca.

Na primeira oportunidade real de associar-se a uma boa moça, Castro à sua maneira quebrou o coração de uma potencial candidata a dividir com ele suas desventuras em São Paulo. Antes de apresentá-la ao leitor é importante salientar que o Rock n’ roll foi o culpado. Ele sempre leva a culpa mas sempre acaba se safando. Mas voltemos ao que realmente interessa nesse momento: Quando Castro precisou convencê-la de que o show do Credence Clearwater Revisited (não era o Credence Clearwater Revival) para o qual a moça já havia comprado os ingressos, não era uma apresentação do Credence verdadeiro, uma parte de sua bondade e de sua boa vontade se esvaiu. A banda em questão nem ao menos tentou vender o show de maneira enganosa, mas o público era burro demais. Foram necessários esclarecimentos a ela sobre isso, algo que o surpreendeu.

Com esse episódio, Castro pôde mais uma vez constatar que os paulistanos não eram tão espertos como ele imaginava antes de conhecê-los de perto. Pensava que pela grandeza da cidade e pelo acesso à informação supostamente mais privilegiado que seus habitantes tinham, era certo que uma jovem graduada tivesse o mínimo de cultura geral, especialmente no que dizia respeito à música. Esse engano teve um efeito estranho sobre Castro, como quase tudo que a cidade ainda viria lhe proporcionar.

Vamos então contextualizar o surgimento da tal garota na vida de Castro; Num curto período em que ele viveu de favor no apartamento encardido de Valdir da Chave, antes que achasse uma morada definitiva, e esteve em meio a todos aqueles discos e livros, muita papelada por toda parte, como se fossem enormes coleções de pergaminhos alexandrinos empilhados no chão e em prateleiras improvisadas montadas com caixas de madeira que tomavam suas paredes e as privavam de quadros, fotos ou posters, Castro numa tarde de meio de semana pensou ter visto a sua salvação sentimental e (por que não?) financeira. Ao mesmo tempo em que Castro estava entrando no prédio de Valdir, Maria Eugênia saía de lá apressada e apreensiva para a rua. Castro olhou para o relógio do hall de entrada do prédio e constatou que eram cinco e quarenta e cinco da tarde. Imaginou que no dia seguinte ela sairia mais ou menos no mesmo horário, e teria então 24 horas para encontrar um motivo para abordá-la. No dia seguinte ela não saiu e nem entrou no prédio naquele horário. Ele ficou fumando cigarros das cinco e meia até às seis e quinze. Era melhor esquecer momentaneamente o assunto e encontrá-la ao acaso num outro dia.

O apartamento de Valdir ficava no décimo sétimo andar de um velho edifício na Rua Major Sertório, em meio a putas, travestis, cafetões, traficantes e ladrões. E eis que quando já tinha mesmo esquecido da menina, cinco dias depois (dessa vez era um domingo à tarde), Castro viu a moça indie comportada entrando no prédio, e dessa vez ele também estava entrando, de modo que pôde constatar que ela morava no décimo quinto andar, pois subiram juntos pelo elevador.

Com o passar dos dias ele também constataria que dependendo do horário que usasse o elevador para descer ou subir, a encontraria novamente, saindo ou voltando do trabalho. Maria Eugênia trabalhava com pesquisas na Praça da República. Era pouco mais que um subemprego, mas para ele isso pouco importava. Bastava-lhe o fato de que ela parecia honesta, era suficientemente bonita e tinha um ar de garota meiga.

Nessas primeiras vezes em que a viu, Castro chegou a pensar que Maria Eugênia só podia ser uma garota no mínimo nota 7, em sua escala de classificação de qualidade humana. Num primeiro momento poderia jurar que a moça tinha bom gosto musical e que era cinéfila, baseado apenas na aparência da moça. Enganou-se nesse julgamento inicial, afinal de contas era fácil para muitas garotas forjar um visual indie. De qualquer forma, Maria Eugênia era uma boa garota. Apenas não correspondeu ao pré-requisito de se revelar logo de cara uma pessoa culta.

Castro achava que ela o apresentaria a bandas alternativas da Escócia que ninguém mais conhecia. Coisas obscuras do cancioneiro indie mundial. Mas ela era indie só no visual, com seus cabelos castanhos, lisos, claros e curtos, com uma franjinha charmosa e óculos de armação grossa, um metro e sessenta e oito de altura e algo em torno de 58 quilos.

O episódio do show do falso Credence aconteceu quando ela resolveu que só poderiam transar depois que saíssem juntos para algum programa divertido que não incluísse sexo. Uma vez vencida essa etapa burocrática que a moral da garota exigia, poderiam transar depois sem problemas.

No caminho do evento, Castro não pôde deixar de dizer a Maria Eugênia que o sexo somente a partir do segundo encontro caracterizava machismo feminino, uma vez que a garota estava impondo essa condição para que pudesse transar sem culpa depois. Ela respondeu dizendo que caso abrisse mão dessa etapa burocrática, imperaria o machismo masculino, com ela podendo eventualmente ser abandonada com a fama de uma vagabunda que transa no primeiro encontro espalhada pela vizinhança.

- Sem o John Forgetty, o Credence não é Credence, minha filha. É banda cover, como essas que a gente poderia ver nos bares da 13 de Maio. Você pagaria menos pelo rolê. Sobraria mais dinheiro pra pizza e pra cerveja. De qualquer forma o baixista e o baterista são os originais. Já é a terceira vez que eles vêm ao Brasil. Pode ter certeza que virão muito mais. Tocarão aqui com a mesma frequência que o Deep Purple ou o Iron Maiden. Esses provavelmente moram no Brasil e saem eventualmente pra tocar em outros países. Pra eles, tocar aqui é jogar na certeza. – disse Castro.

Por causa da ladainha de Castro, Maria Eugênia se sentiu enganada pelos promotores do show, que em momento algum venderam o espetáculo como não sendo uma enganação. Acabaram indo ao show, e era incrível como no percurso da entrada da casa de espetáculos até a pista, grande parte do público não tinha a menor idéia de que não se tratava de uma banda com sua formação clássica. O que faltava era justamente o líder, vocalista e compositor das músicas, que em momento algum do show foi sequer citado, já que evidentemente existiram atritos judiciais quando essa banda, uma verdadeira mula sem cabeça, foi colocada na estrada.

- Ainda bem que o Robert Plant não gosta nem de ouvir falar em reunião do Led Zeppelin. Você já imaginou se o Cure fizesse uma turnê sem o Robert Smith? Ou se o Jethro Tull tocasse sem o Ian Anderson? Ou os Beatles só com o Pete Best? Ou o King Crimsom sem o Robert Fripp? Aqui no Brasil já pudemos presenciar show dos Doors sem o Jim Morrison, mas ainda assim é um caso diferente, porque todo mundo sabe que o cara morreu e as pessoas sabiam que se tratava de uma mula sem cabeça. O show do Credence Clearwater Revisited não é vendido como o original, mas também não há nenhuma ênfase nesse detalhe, e o público brasileiro definitivamente não prima pelo conhecimento sobre rock. De qualquer forma foi divertido, embora o repertório seja bastante batido. Preciso beber um pouco agora... – disse Castro, seco e ríspido, mas sem deixar de ser gentil por estar esclarecendo algo culturalmente importante para aquela garota que pouco tempo antes havia chamado sua atenção justamente por sua aparência de nerd.

Depois do show, já na rua, um homem de aproximadamente 50 anos, grisalho, vestindo roupa domingueira, e que estava acompanhado de seu filho adolescente fazia a seguinte observação, antes de entrar em seu carro: "Você viu como ele ainda canta bem, meu filho? Está estourando de gordo, mas ainda canta muito!!!"

- Depois dessa a gente tem mesmo é que ir pra casa. Vou começar te cobrindo de chantily e terminar te recheando com Leite Moço, minha filha...

Meses depois, em Maio de 2011, John Forgetty faria uma apresentação em São Paulo. O casal não foi a esse show. Castro mudou-se do apartamento de Valdir quando descobriu que o baleiro que o amigo mantinha ali servia para que as criancinhas do prédio tirassem mais facilmente a roupa quando Valdir pedisse. Elas invariavelmente tinham que experimentar o 'pirulito eterno' do Tio Valdir antes de se empanturrarem de balas com sabores sortidos. Quando questionado por Castro sobre seus perversos hábitos sexuais, Valdir argumentou: "Quando eu tinha 18 anos já gostava de me envolver com jovenzinhos e jovenzinhas, então não vai ser agora que vou deixar de gostar..."

Havia, no entanto, algo que Castro realmente não conseguia entender com clareza. Quando viveu no apartamento de Valdir, Castro se deparou com inúmeras correspondências enviadas por editoras com propostas para publicar os escritos de Valdir, entre ensaios, contos e um romance ao qual Castro nunca teve acesso. Na mesma ocasião em que Castro havia questionado Valdir sobre suas estripulias sexuais, o questionou também sobre as recusas para os convites das editoras. "É o ônus da independência. Eles queriam sempre me editar erroneamente, mutilando o sentido das minhas idéias" – disse Valdir.
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Foi triste quando a cabeça de Castro entrou definitivamente em parafuso. Ele havia sido prevenido por Valdir.

Numa noite em que descia pela escadaria do prédio à procura de cadernos de cultura de jornais do dia anterior, Castro ouviu de dentro de um apartamento que ficava dois andares abaixo do apartamento de Valdir os seguintes gritos:

"Aaaaiiii.... Fode, garotão!!! Você está comendo o cu de um macho, garotão!!! Foda forte, caralho!!!! Você está comendo o cu de um macho!!!"

Quem gritava era o síndico do prédio. Dentro do prédio, o sujeito era onipresente. Era quase impossível não encontrá-lo ao entrar ou sair do edifício. O que chocou Castro não foram os gritos de uma relação homossexual, mas a surpresa por tais gritos terem partido de alguém tão obtuso quanto aquele jovem senhor que deliberadamente se declarava homofóbico. Um sujeito asqueroso sob todos os aspectos. Era blogueiro também, e havia poucas coisas que Castro odiasse tanto quanto os blogs e os blogueiros. Para ele, essas eram pessoas que faziam questão de documentar verdadeiros cagalhões em forma de texto, diariamente, poluindo cada vez mais a rede. Expunham sua imbecilidade sem qualquer pudor ou medida. Faziam parte de uma grande arena onde cada um pensava ter um talento especial com as palavras, mas onde na verdade eram todos fracassados literariamente. Então a sanidade de Castro começou a ruir porque a partir de então perdeu o medo dos desdobramentos da história da humanidade. Aconteça o que acontecer, esses humanos merecem. Ele começou a aprender que o medo poderia ser um instinto saudável, não apenas um sinal de fraqueza. O fluxo de imundice que jorrava diante de seus olhos a cada dia foi demais para Castro.

Bizarrices à parte, a burrice e a ignorância das pessoas com quem Castro tinha que lidar diariamente não se limitavam à completa falta de noção que elas tinham no que se referia a bom gosto musical, literário ou cinematográfico. Elas simplesmente pareciam se deixar enganar. Desde sua chegada a São Paulo, a idéia que ele tinha da esperteza dos paulistanos tinha passado por mudanças de camadas tectônicas. Sua aversão crônica à malandragem oportunista de quem costuma tirar proveito dos trouxas fazia com que se sentisse um outsider, um ingênuo.

Além disso, sua busca por uma vida isenta de materialismos e hipocrisias estava lhe cobrando um preço salgado àquela altura. A consciência de ser uma pessoa extraordinária, pelo menos em comparação ao tipo de gente com o qual era obrigado a lidar, resultava numa impaciência crônica com as outras pessoas.

Sentia-se rodeado por jovens que pareciam velhos e também por velhos que pareciam ainda mais velhos. Seus problemas já não eram comuns aos que o rodeavam. A defasagem de qualidade humana dos próximos com relação a ele fazia com que tudo o irritasse. Foi pesado demais constatar que sua existência tinha se tornado um fardo para ele mesmo. Até porque era um crítico impiedoso das pessoas próximas a ele e também de si mesmo. Cobrava-se para que mantivesse certa distância da apatia da grande massa anônima da qual sabia fazer parte. As pessoas de seu dia a dia conseguiam lhe causar espanto ao tornarem o contexto de sua existência algo cada dia mais amargo. Não ter esse tipo de controle sobre sua vida era algo que o machucava demais.

Ainda que tivesse consciência de sua finitude como homem de ação, a queda drástica de sua energia vital para longas viagens e grandes bebedeiras não foi menos triste. Em seus melhores dias tinha sido um otimista nas suas ações e um pessimista em seus pensamentos. Pouco a pouco tornou-se um pessimista por completo. Um recluso.

Castro era natural de Hernandarias, no Paraguai, de onde emigrou para o Brasil, primeiramente para Toledo, no interior do Paraná e posteriormente para São Paulo, capital.

No começo de sua vida tinha aversão aos estudos, o que lhe rendeu fama de vagabundo entre seus familiares que também lhe atribuíram uma falsa defasagem intelectual. Descobriu na adolescência que tinha aversão mesmo às pessoas que o cercavam. Um pouco mais tarde, descobriu que tinha verdadeira aversão à maioria das pessoas, onde quer que estivesse.

No fim da vida, com o acúmulo de duros golpes que vieram de todos os lados (e eles vinham o tempo todo), perdeu-se enfim, mais por não conseguir lidar adequadamente com os paradoxos que ele mesmo criou para si mesmo do que pelo esforço em decifrar aqueles que a vida lhe impunha.

Procurou incessantemente criar uma personalidade própria que compensasse a suposta defasagem intelectual no começo de sua vida. Buscava conciliar uma vida atlética a uma vida boêmia. Tentava também ser numa pessoa só o intelectual estudioso e o aventureiro sem repouso. Não tinha religião, mas tinha interesse pelas coisas do além.

A consciência da própria finitude era aliada à uma espécie de armadura invisível que imaginava ter e que haveria de torná-lo invulnerável aos acidentes carnais de uma vida aventuresca e também ao alcoolismo.

O melhor da festa sempre foi esperar por ela. A festa poderia ser pouca coisa além do que conseguir dar risadas raivosas de pais desencorajadores enquanto se aproveita o sabor do reconhecimento tardio, especialmente se esse reconhecimento for por méritos artísticos, e mais especial ainda se livrar para sempre o sujeito reconhecido de um emprego formal para o resto de sua vida.

Castro nunca pretendeu tornar-se filósofo mas mesmo assim conseguia de tempos em tempos encontrar sentidos para sua vida. Era movido pela raiva e pelo gosto por uísque. Sabia que todas as palavras já tinham sido usadas antes que ele nascesse e que a única diferença era a forma como as pessoas as combinavam.

Queria ser cruel sem necessariamente ter que se envolver diretamente com as vítimas de sua crueldade. Essas pessoas nem mesmo poderiam ser consideradas vítimas, na verdade. Não ter que pegar numa arma o pouparia de problemas com a 'Justiça'. Ele preferia outros caminhos, que também não eram brandos, na verdade. Caminhos mais longos, de sacrifício solitário e de paciência infinita.

Castro não queria e não tentava achar beleza no fato de não ter dinheiro, comida ou uma casa. Isso poderia servir apenas como estímulo para exercícios literários, na melhor das hipóteses. E talvez servisse para que conseguisse saborear melhor um eventual sucesso financeiro antes que sua morte chegasse. Era preciso tentar fazer com que a festa chegasse antes da morte. E a festa jamais seria tão boa quanto a morte. A morte é o remédio supremo para todos os infortúnios.

Os pais desencorajadores sempre existiram antes de seu nascimento e certamente continuariam a existir num número crescente em progressão geométrica. Da mesma forma como nas cenas musicais de qualquer época sempre existirão sujeitos como Paul Anka ou Engelbert Humperdinck. É evidente que o mundo da música produziu coisas muito piores que esses dois sujeitos, com o passar do tempo. Mas o fato é que esses eram caras cujos discos Castro encontrava à venda nos sebos do centro de São Paulo, e que representavam o bom mocismo do qual ele preferia se manter afastado na medida do possível. De uma maneira ou de outra, tanto Paul Anka como Engelbert Humperdinck representavam o bom-mocismo de uma época em que a música era muito mais interessante. Eles precisavam concorrer com artistas de verdade, mesmo que tivessem como foco apenas a boa vendagem de discos.

O Brasil produziu e produz inúmeros representantes dessa vertente formada supostamente por artistas de bom caráter, que passam mensagens 'positivas', o que faz com que os pais desencorajadores multipliquem-se com o passar do tempo, uma vez que eles pensam que têm o argumento de que uma eventual tentativa por parte dos filhos no ramo da música, ou das letras, ou das artes plásticas seja completamente inviável, por causa principalmente do ridículo ao qual é necessário se entregar para que alguém pague pela aparição desses aspirantes na televisão, no rádio, nas livrarias, nas revistas e jornais.

Para esses pais desencorajadores a arte alternativa, ou marginal, ou independente, ou seja lá como seja denominada, é não só inviável a ponto de não merecer sequer ser cogitada, como é objeto de verdadeiro repúdio, especialmente pela garantia de não se conseguir qualquer retorno financeiro através dela.

São pessoas 'conservadoras'. Esse termo pode soar esquisito porque imediatamente nos ocorre que essas pessoas querem conservar algo que elas deveriam saber que já apodreceu antes mesmo delas nascerem, mesmo se levarmos em conta os conservadores octogenários ou nonagenários que costumam dizer que já viram de tudo na vida.

Ao longo de sua vida, Castro sempre trocou facilmente qualquer relacionamento amoroso por uma canção convincente e uma garrafa de bebida forte. Na sua vida prática, esses dois elementos eram capazes de mexer muito mais com seus sentimentos do que uma relação longa. Eram sobretudo mais orgásticos do que aquilo que a maioria das pessoas que ele conhecia entendiam por casamento. As mais bonitas histórias de relacionamentos felizes valiam sobretudo para se criar canções que invariavelmente durariam mais do que o relacionamento descrito.

Seus conflitos internos eram basicamente oriundos de um violento combate entre sua ansiedade por segurança (fosse ela emocional ou financeira) e seu instinto de cão libertino. Ele sabia que a busca pelo equilíbrio entre ambos era uma batalha perdida, ou no mínimo vitalícia. A marcha para a decrepitude era inevitável, então o tempo que ainda restava tinha que ser bem aproveitado, e Castro era a pessoa para quem ele mesmo devia satisfações a respeito disso. As retaliações divinas não o preocupavam porque ele não gostava de Deus.

Tinha um relacionamento amoroso verdadeiro com as bebidas alcoólicas. Uma relação muito mais conjugal do que adúltera. Poucas vezes substituía a loucura do álcool por alguma loucura de outro tipo. Os outros tipos de entorpecimento serviam apenas para complementar a delícia do torpor alcoólico. Castro gostava de beber sozinho, porque eram poucas as pessoas com quem gostava de conversar. Sempre que ouvia alguém falar que quem bebe só é alcoólatra, passava a gostar ainda mais de beber sozinho. Esses adjetivos só existem porque foram criados por humanos que morreram acreditando numa salvação que não os salvou de nada.

Se a política é a arte do convívio, Castro era o apolítico por excelência. Chegava a pensar que em algum momento de sua vida talvez desenvolvesse para si um tipo de ideologia mais viável no que diz respeito à sociabilidade. Talvez algum dia conseguisse desenvolver para si alguma teoria que pudesse descrever um tipo de anarquismo aristocrático em prol de seus interesses.

Castro esperava pelo dia em que só tivesse interesse real por uísque e latas de pistache. Tinha um certo receio de concluir que na verdade nem precisaria esperar por esse dia. Ele tinha muito pouco interesse por quaisquer outras coisas. Sabia que não tinha mais uma alma, mas tinha certa dificuldade em admitir esse fato para si mesmo, pelo menos enquanto pudesse se considerar um jovem demais para ser desalmado.

O único herói do brasiguaio Castro era um velho amigo dos tempos da escola em Hernanderias. o impagável Tito. Castro o reencontrou depois de anos de um afastamento que começou após o término do Segundo Grau na cidade natal sobre a qual trataremos mais adiante. Quando já estavam vivendo em São Paulo Tito foi comer hambúrgueres na lanchonete onde Castro trabalhava.

Tito era filho ilegítimo de um padre beberrão de Hernanderias e tinha planos de permanecer em São Paulo por duas ou três semanas. Era tido por seus contemporâneos como uma obra demoníaca em sua cidade natal e desde criança procurou fazer o máximo para que sua lenda correspondesse à realidade. Seu lado vira-lata predominava amplamente em relação à sua parte racional. Não houve realmente um combate interior entre essas duas partes, porque ele nunca sequer cogitou deixar de ser vira-lata para tentar constituir família. Foi uma escolha totalmente intuitiva.

No dia em que se deu o reencontro, ambos perceberam que dentro deles ainda havia uma fagulha do que haviam sido nos seus bons tempos, vinte anos antes. Foi apenas nesse dia que ambos descobriram que se interessavam por literatura e guardavam cadernos e mais cadernos com anotações de frases ouvidas ou lidas por ambos, mas que até então não haviam rendido publicações literárias. Concluíram que cada um precisaria de uma mulher para cada livro escrito e publicado.

Estava claro para ambos que a finalidade de um eventual sucesso no ramo das letras seria benéfico muito mais para que tivessem como se embriagar decentemente do que pela arte literária propriamente dita. Eis aí mais uma razão para que Castro se considerasse um homem quase sem alma. O uísque era prioridade em relação à literatura enquanto arte. E ainda assim a literatura era uma prioridade em relação ao cinema. No entanto, não se sentia bem com a idéia de nunca ter se tornado um cinéfilo. Até aquela época o seu tempo de vida parecia ter sido curto demais para que pudesse satisfazer sua eterna vontade de viver ao ar livre podendo conciliar esse tipo de prazer físico com atividades intelectuais intensas.

Podia ser mesmo apenas uma questão de tempo até que conseguisse se sentir como um animal livre que tivesse conhecimento artístico a ponto de ter através da arte o mesmo prazer que tinha ao fazer sexo ou nadar ou beber. A música o fazia sentir prazer, mas de qualquer forma ela podia ser aproveitada sem que fosse necessária uma concentração tão grande como a que se necessita para que se leia um livro ou para que se assista a um filme até o final. Havia também o fato de Castro nunca ter se incomodado com a possibilidade de jamais conseguir compor alguma canção que lhe agradasse. Parecia bem pior a possibilidade de um livro escrito por ele receber criticas ridicularizantes.

Conseguiam se divertir o suficiente com o nível de cultura que tinham até aquele momento, que embora não fizesse deles eruditos, também nunca o fizeram passar vergonha numa rodinha de filósofos bêbados que não tinham para onde ir quando o bar fechava.

A partir do momento do reencontro passaram a conversar muito sobre o problema da evidência trágica do fim. Era um bom assunto para se tratar no bar, porque dele nunca se tiraria nenhuma conclusão definitiva, mesmo depois de horas de conversa e em vários encontros. Qual proveito era tirado por parte dos grandes escritores de best-sellers depois que estavam mortos? O prestígio entre os humanos parecia algo bem pouco atraente ou necessário depois que alguém consegue se livrar disso tudo.

Sempre esperavam que no exato momento em que se encontravam para beber, algum geniozinho sardento universitário estivesse trabalhando arduamente para destruir o mundo, vingando-os também. Tinham conhecimento da existência de recursos suficientes para que algum tipo de rebelião histórica fosse finalmente consagrada, ainda que fosse justamente para pôr fim à história da humanidade. Algum nerd mal tratado nos tempos da escola colocaria tudo a perder sem tanta cerimônia.

As estréias literárias de Castro e Tito seriam difíceis como um parto. O ideal seria que a primeira mulher de cada um bancasse a publicação de seu respectivo parceiro e pouco tempo depois seriam deixadas de lado para darem lugar a outras, para que ambos tivessem inspiração renovada para um eventual segundo livro.

Castro e Tito nasceram na mesma cidade, Hernandarias, na divisa do Brasil com o Paraguai. O contato que tinham com o resto do mundo era feito por meio do rádio do Fusca do pai de Castro. Passaram duas décadas sem qualquer contato. Duas décadas conturbadas para os dois. Tito foi o primeiro a partir. Foi trabalhar em Maringá e depois seguiu para São Paulo. A passagem de Castro por Toledo, no interior do Paraná, à qual já nos referimos brevemente, foi bastante curta e infrutífera, a ponto dele não ter conseguido estabelecer nenhum vínculo sócio-afetivo com nenhum morador da cidade. Até então, para Castro, as cidades médias tinham todas as desvantagens da cidade grande sem as vantagens das cidades pequenas.

Menos de dois anos após terem se reencontrado em São Paulo, Tito, depois de pedir uma boa quantia de dinheiro emprestada ao banco (aquele tipo de empréstimo que invariavelmente se transformaria numa dívida eterna), gastou tudo em putaria, drogas e bebida e se matou num quarto de hotel quatro estrelas quando o dinheiro acabou. Tito havia chegado a uma encruzilhada em sua vida e precisou de apenas uma noite em claro para decidir que ia abreviar sua vida com estilo e deixar uma dívida a ser paga. Comprou uma pistola, uísque e cocaína. Preferiu um hotel de quatro estrelas a um de cinco. Só não pagou putas porque resolveu que ao invés disso seria mais gentil de sua parte se despedir de algumas amigas que fizeram com que não ele não tivesse dado cabo da própria vida antes. Esse foi seu ato heróico, que fundiu a resolução definitiva de uma vida penosa com a perpetuação de uma dívida não paga em vida, além do trabalho para removerem seus restos do quarto do hotel.

Castro nunca soube no entanto que uma das garotas das quais Tito quis se despedir era sua irmã. De qualquer forma, esse detalhe fez com que mesmo de maneira inconsciente, Castro tivesse algum motivo para não mitificar tanto o ato final do amigo morto. Até porque a irmã de Castro era integrante de uma banda de MPB pretensamente cabeça e ao mesmo tempo engraçadinha, o que Castro não podia aturar. "Essa cretina quer ganhar o gosto dos universitários engajados fãs de cantoras brejeiras', era o que sempre repetia ao falar das tendências musicais de sua irmã.

Tito deixou ainda a dívida com as diárias do hotel em que se matou, além de muito trabalho para que limpassem o sangue, e alguns prejuízos futuros para o dono do hotel por causa de potenciais hóspedes que se recusavam a se instalar no mesmo quarto em que ele morreu. Era um personagem com potencial para que Castro escrevesse sobre. A difícil luta de um escritor contra os mais ridículos clichês tirava o sono de Castro. Ele tinha convicção de que tanto ou mais importante do que o tempo em que passava praticando a escrita propriamente dita, era o tempo em que se punha a pensar sobre a possibilidade de se criar um novo tipo de prosa no século 21. Muitas das atitudes do seu amigo Tito pareciam servir como potenciais histórias, mas pareciam muitas outras vezes com os mais batidos clichês referentes a rebeldia em vida, seguida de suicídio.

Se aquele último ato de Tito foi covarde ou não, pouco importava. Principalmente para Castro. Se tivesse que haver algum julgamento, este seria pessoal e subjetivo. O importante eram as conseqüências provocadas às partes envolvidas, no caso o próprio Tito de um lado e todos os que ficaram de outro. Se o tipo de suicídio que Tito escolheu era um clichê, se ele imitou Hemingway e Hunter Thompson em sua última cena, isso importava menos ainda. A camareira que o viu com a cabeça estourada não tinha lido nenhum dos dois escritores em questão. No fim das contas é sabido que sai o cão do lobo, nunca o lobo do cão.

Indo de ônibus do Centro até o Itaim, onde trabalhava, Castro via quase diariamente perto da Praça Roosevelt, entre quatro e cinco horas da tarde, um sujeito empunhando um guidão de bicicleta e correndo a pé no meio da Rua da Consolação ou da Avenida Ipiranga pela contramão por entre os carros. Poucos dias depois desse cara do guidão sumir das ruas, Castro soube que ele havia sido preso numa noite de apagão em São Paulo. Na ocasião ele vestia um colete que brilhava quando as lanternas dos carros apontavam para ele. O tal colete fazia com que o cara no meio da confusão do trânsito não pudesse ser distinto entre um guardador de carros ou um funcionário da C.E.T. , de modo que quando ele descobriu que os motoristas pensavam que ele estava lá para comandar o trânsito, não teve qualquer dúvida: comandou o trânsito por alguns minutos, fazendo com que a esquina da Rua da Consolação com o acesso à Amaral Gurgel virasse algo ainda mais assustador do que nos dias comuns, que por ali já parecem ser o máximo concebível em termos de balbúrdia.

Era um rapaz enlouquecido, por quem nenhum dos transeuntes e motoristas dava a menor importância. Eventualmente ria-se dele. Na verdade, ria-se na primeira vez que se via o sujeito. À medida que aquilo deixava de ser novidade, ele passava a ser um simples figurante da região. Às vezes o cara dormia em algum albergue, às vezes na rua, às vezes ficava acordado fumando crack e dormia na praça durante o dia e deixava o guidão guardado.

Se para Castro uma parte do sentido da vida poderia ser desvendado junto com a escolha da cidade, estado e país certos para se viver, então o Brasil parecia a escolha errada para ele, o homem que só tinha sobrenome. Pelo menos era o que ele dizia ao ser perguntado a esse respeito. E não foi realmente uma escolha. Ele nasceu no interior de São Paulo e a mudança para a capital no final da adolescência já significava um limiar transposto.

As pessoas que poderiam saber facilmente seu primeiro nome não tinham qualquer interesse nesse assunto. Castro era manobrista em uma lanchonete grande no bairro do Itaim, na zona sul de São Paulo. Vivia numa parte mais extrema ao sul da cidade, e depois de passar horas manobrando carros caros e modernos, não tinha nem ônibus circulares para voltar para casa, por causa do horário em que saía do serviço. Tinha tempo para dormir algumas horas até que os primeiros ônibus voltassem a circular pouco antes de o sol aparecer.

Não costumava passar muitas horas na cama, e gostava de literatura. Comprava livros nos sebos do centro da cidade antes de ir para o serviço e essa é a razão pela qual via o sujeito do guidão da bicicleta quase todos os dias. Lia seus livros no ônibus ao longo do trajeto do Centro até o Itaim e só se desconcentrava quando via o tal sujeito passando pelo meio dos carros.

Castro também era fã de quadrinhos pornográficos. Continuou carregando os gibis consigo até o fim de sua vida, porque nunca lhe causaram qualquer problema que fosse tão grande como o que teve quando levantou com o pé a tampa da privada do banheiro da casa de uma namorada. Aquela garota nunca reclamou dos gibis de Carlos Zéfiro que encontrava em seus bolsos quando procurava cigarros dele para fumar enquanto Castro dormia. E ele por sua vez dava pela falta de algumas unidades de seus cigarros paraguaios e também não se queixava porque sabia que ela sabia que além dele levantar a tampa de sua privada com o pé e deixá-la levantada ao sair do banheiro, também se masturbava em horas ociosas nas madrugadas em que precisava esperar pelos ônibus voltarem a circular.

Era entusiasta da obra de Carlos Zéfiro mais pelo fato de o cara ter sido um funcionário público que ao invés de trabalhar, desenhava quadrinhos pornográficos para matar horas de serviço. Era um ideal de heroísmo que Castro admirava e que só não tinha alcançado por não confiar o bastante em seu próprio intelecto para conseguir tamanha vantagem em cima do Estado. Esse intelecto limitado permitia no entanto que Castro soubesse que uma imensa maioria jamais estaria quite com o Estado em termos de terminar no azul, ao invés de morrer no vermelho após uma vida toda nessa luta estúpida. Estúpida para o cidadão contribuinte, é claro. De qualquer forma ele admirava quem fazia algo que pelo menos pudesse ser documentado a serviço de algum tipo de rebelião para as tristes gerações futuras.

Castro não era engajado em causas humanistas ou trabalhistas e não gostava de quem tivesse esse tipo de ideal. Não tinha tempo a perder com isso. Era um recluso anti-humanista, além de individualista convicto, ainda que não gostasse de usar verbalmente esses termos para expressar sua confusa ideologia. A convivência forçada com engajados que transitavam em torno dele diariamente o desgastava. Esses engajados pensavam que por Castro ser razoavelmente culto, deveria engajar-se também, ainda que fosse só para se tornar um chato com algum propósito de vida. Era difícil para Castro imaginar-se perdendo seu tempo tentando convencer alguém que ele considerava idiota de que essa outra pessoa poderia deixar de ser idiota se passasse a seguir alguma de suas convicções. Castro era fã de Ayn Rand. De seus livros saíram muitos dos seus ideais individualistas.

Quem visse Castro nas ruas de São Paulo num dia comum, sem conversar com ele (a menos que Castro fosse abordado, era sempre mais provável que não se conversasse com ele, pois em qualquer que fosse a situação, ele procuraria evitar ao máximo ter que puxar uma conversa, fosse com um conhecido ou com um desconhecido), não conseguia de maneira nenhuma diferenciá-lo dos tipos medianos que andam pelo Centro e pela Zona Sul de São Paulo. Um anônimo completo.

Castro não entendia de Física Quântica mas gostava de ouvir Leonard Cohen, de modo que sabia usar adequadamente seu discernimento para estabelecer prioridades relacionadas ao seu conhecimento. Suas prioridades eram voltadas para o conhecimento cultural, para seu próprio entretenimento e diversão. Fazia parte de seu temperamento admitir para si mesmo que ele jamais poderá ou mesmo desejará saber sobre músicos completamente underground, porque Castro entendia que os verdadeiros alternativos devem ser descobertos ao acaso. O acaso seria mais agradável se um dia, por alguma razão muito simples, alguma garota galesa o abordasse pedindo informações sobre algum lugar aberto 24 horas que venda vodka, no meio de alguma madrugada desesperançada. Ela naturalmente o abasteceria de informações sobre novidades indies e ele teria companhia por algum tempo, talvez por meses ou anos, para viver um romance alcoólico em meio a compactos importados de bandas escocesas dos anos 80 e 90 que despontaram para um anonimato verdadeiramente indie.

Seu porte físico não era propriamente avantajado, embora também não fosse um sujeito franzino. Tinha um metro e setenta e cinco de altura distribuídos em setenta quilos. Geralmente usava uma camiseta branca para dentro da calça jeans, como se fosse para propositalmente deixar à mostra seu cinto que tinha uma grande fivela de metal com a cabeça de um cavalo em perfil. Parecia um Neal Cassidy tupiniquim dos dias de hoje, mas com as maçãs do rosto salientes que evidenciavam traços indígenas. Num primeiro momento você não diria que ele tem bom gosto musical se o avaliasse apenas pelo seu visual, mesmo que ele estivesse usando seu hay-ban igual ao do Bob Dylan. No entanto, se você fosse um fã de Oswaldo Montenegro e quisesse desdenhar dele sem saber que ele gostava de Marianne Faithfull, pagaria caro, fosse por ter que ouvir um bom esculacho grosseiro caso fosse uma mulher, ou tomando umas porradas se fosse um homem.

Castro dizia que não deixava o cabelo crescer por ter um cabelo ‘ruim’. Era um cabelo muito preto e crespo. Tinha obsessão por répteis alados e bebês com nadadeiras. Sonhava com essas criaturas e colecionava miniaturas de todo tipo de ser bizarro que encontrasse em lojas de tranqueiras, além de bonecas quebradas que usava para seus trabalhos artísticos. Por essas peças gastava uma parte significativa de seu salário. O resto era gasto com discos de vinil e livros, além das despesas com sua moradia, no caso uma pensão familiar no extremo sul da cidade. A comida lá era boa, e na lanchonete onde trabalhava podia comer de graça quantos hambúrgueres conseguisse. Embora as circunstâncias que o levaram até ali tivessem o obrigado a optar por viver um dia de cada vez, sem tantos planos a longo prazo, Castro descobriu que se ainda existia algum conceito apropriado para a liberdade, ele estava vinculado a essa incerteza e a essa falta de planejamento, que limitava e desencorajava ações apropriadas para quem no fundo queria ser uma bomba que derramasse napalm por onde passasse, para finalmente explodir de uma vez por todas num momento e num lugar que julgasse adequado.

Leia amanhã o capítulo III deste conto

• Escritor

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