* Por Rodrigo Ramazzini
A: Você já parou para pensar?
B: Pensar o quê?
A: Que nesse exato momento em que estamos aqui...
B: O que tem?
A: Tem um monte de coisa acontecendo no mundo?
B: Como assim?
A: Imagina... Nesse exato instante: em algum lugar do planeta tem uma criança nascendo, uma pessoa morrendo, alguém dormindo, alguém acordando, alguém gritando...
B: Ah... Entendi a proposta... Legal! Eu diria: fazendo sexo!
A: Safadinho!
B: Mas, é...
A: Está bem! Vamos brincar de imaginar coisas mais específicas...
B: Como assim?
A: Tipo... Nesse momento no mundo tem alguém derrubando um pão com margarina no chão, por exemplo...
B: Entendi... Vamos lá... Quebrando uma chave...
A: Prensando um dedo em algum lugar!
B: Assinando um documento!
A: Lixando as unhas!
B: Espirrando!
A: Falando ao celular!
B: Tropeçando!
A: Correndo de um tiroteio!
B: Correndo de um tiroteio?
A: Por que não?
B: Está bem... Está valendo! Deixa-me ver... Serrando uma árvore!
A: Escovando os dentes!
B: Tomando uma cachaça!
A: Comendo um Bic Mac!
B: Arrotando!
A: Argh!
B: Está valendo, também!
A: Está bom... Ligando uma lâmpada!
B: Cortando a grama!
A: Rezando!
B: Fazendo uma tatuagem!
A: Pilotando um avião!
B: Desenhando!
A: Discursando!
B: Mergulhando!
A: Zapeando na TV!
B: No banheiro fazendo o número 1!
A: E o número 2, também!
B: Há! Há! Há!
A: Há! Há! Há!
B: Pois é... São muitas coisas!
A: É...
B: O que foi? Por que essa cara?
A: Passou-me um pensamento agora?
B: O quê?
A: Sobre a vida...
B: Como assim?
A: E nós?
B: O que tem a gente?
A: Nesse momento...
B: O que tem?
A: Estamos fazendo o que gostaríamos de estar fazendo?
B: Como assim?
A: Será que não tem nada mais útil para se fazer no mundo do que ficar lendo um conto do Rodrigo Ramazzini?
B: É... Né? Tens razão!
A: Só nós mesmos! Deixa isso de lado...
B: Já deixei...
A: Liga a TV...
B: Ligando... Foi!
A: O que está passando?
B: Desenho do Bob Esponja...
A: Oba! Agora, sim!
B: É... Realmente, agora sim!
• Jornalista e contista gaúcho
Essa me pegou de surpresa. Depois de um tempo de ausência, hei-lo de volta. Vou lendo e pensando em todos os verbos conjugáveis e dou de cara com o nome do autor. Foi uma curiosa pegadinha. Pegou a leitora no contrapé. Uma volta triunfal.
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