* Por Fábio de Lima
Trabalho com jornalismo desde dezembro de 1994. São quase 12 anos e, portanto, muitas das coisas que surpreendem outras pessoas não mais me espantam. Ser jornalista é, também, uma questão de estômago. Sendo assim, eu deveria assistir aos noticiários e não ficar surpreso. Na verdade, eu deveria assistir aos noticiários e não ter vontade de vomitar. Mas quando vejo os candidatos à presidência beijando criancinhas...! Não dá! Uggghhhhh!
No dia 05 de dezembro de 1891, à meia-noite e meia, no Hotel Bedford, quarto 18, na rue de L’Arcade, número 17, um simples hotel de Paris, morria o Imperador Dom Pedro II. A Monarquia havia sido derrubada em 15 de novembro de 1889. A Família Imperial brasileira partira para o exílio, em Portugal, no dia 17 de novembro. Tudo isso muitos dos leitores sabem. Mas o que pouca gente sabe é que o Brasil virou República, pasme, pela disputa de uma mulher. Isso mesmo: por razões do coração!
O Marechal Deodoro nunca havia sido republicano até o fatídico 15 de novembro. Ele era amigo de Dom Pedro II e, como boa parte da população mundial, admirava o Imperador brasileiro. No entanto, havia indícios que Silveira Martins seria escolhido pelo Imperador para chefiar um ministério. Deodoro e Silveira Martins eram inimigos desde os tempos que eram jovens – pois ambos disputaram o amor da Baronesa do Triunfo. Ao saber da possível nomeação de Silveira Martins, o Marechal Deodoro deduziu que não havia mais jeito de manter a Monarquia no Brasil! Como diria minha avó, rabo de saia vira a cabeça de qualquer homem!
Nem a dispnéia (falta de ar), por causa da arteriosclerose (endurecimento das artérias), que sofria Marechal Deodoro, nem a amizade e admiração ao Imperador Dom Pedro II, fizeram ele recuar do anseio de um Brasil republicano a partir daquele momento. Arrastando-se pelas ruas estreitas do Brasil-Império ou quase dormindo sobre um pangaré, o Marechal Deodoro colocou nosso país no caminho da República, com sua democracia e desenvolvimento...! Será?! Talvez não!
Relato aqui apenas os fatos. A história existe para comprová-los. Mas, detalhe: não a história oficial. Não aquela que estudamos nos livros didáticos. Falo da história que só os pacientes e curiosos conseguem checar. Falo dos papéis deteriorados dos museus e dos livros esquecidos nas prateleiras de sebos. E desta história oficiosa vale lembrar que o Brasil do tempo da Monarquia era bem diferente do Brasil de hoje. Naquele tempo o país era Primeiro Mundo. Ele tinha moeda forte. Possuía uma importante indústria naval e uma das maiores redes ferroviárias do mundo. E instalou os primeiros sistemas de correios, telégrafos e comunicações telefônicas das Américas.
O Imperador brasileiro era reconhecido pelos intelectuais de todo o mundo como um dos homens mais cultos daquela época. A admiração e o respeito por Dom Pedro II eram tão grandes que em 1877, o New York Herald, lançou, como forma de homenagem aos indicados e como forma de protesto aos excluídos, a chapa Dom Pedro II para presidente dos Estados Unidos e Francis Adams para vice-presidente. Só na cidade de Filadélfia, Dom Pedro II teve, espontaneamente, 4 mil votos.
O caro leitor deve estar com uma pulga atrás da orelha. Imagino que também com um sorriso sarcástico no canto da boca. E pensando o que faz uma pessoa ser monarquista em pleno século XXI. Com certeza se estivesse na minha frente, agora, perguntaria:
-E naquele tempo não havia vagabundo de colarinho branco?
Claro que havia, caro leitor. O que não havia era televisão! Mas o que me levou mesmo a escrever este texto foi lembrar do tempo em que o Brasil ter um líder barbudo no poder era motivo de orgulho para toda a nação. Preciso dizer mais alguma coisa?! Talvez não precise, mas direi. Na manhã fria do dia 09 de dezembro de 1891 cerca de 200 mil pessoas assistiram o passar do cortejo fúnebre de Dom Pedro II pelas ruas de Paris. Todos os principais países do mundo tinham algum representante no local – menos o Brasil.
“Um homem só é velho quando suas reminiscências são em maior número que seus sonhos”
Nietzsche
*Jornalista e escritor ou “contador de histórias”, como prefere ser chamado. Atua como repórter freelancer para o jornal Diário do Comércio (SP) e é diretor de programação da Cinetvnet (TV pela WEB). Está escrevendo seu primeiro romance, DOCE DESESPERO.
Desconhecia boa parte dessa história. Interessante, pois me remete a uma pessoa que também é monarquista ferrenha, e nasceu em 1954.
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