quarta-feira, 9 de maio de 2012

Ocidentes e Orientes


* Por Cyl Gallindo


Frequentei à FLIPORTO de 11 a 15 de novembro, desta vez como visitante. Fiquei encantado, sobremaneira, com a atenção dispensada à criança. É quando se diz “plantar a semente em terras virgens”. Duvido que dali não resulte numa geração de pessoas voltadas à cultura, à leitura, com lógica. A banca destinada à leitura e interpretação de Malba Tahan manteve-se em efervescência. Ora, se eu ao tomar conhecimento de “O homem que calculava” já estava adulto e me fascinei, imagine uma criança, nos 10 ou 12 anos. A fascinação da descoberta do mistério, que ainda hoje perdura.

Esta citação é apenas exemplo, pois pretendo enfocar o livro “Diálogo entre Ocidentes e Orientes”, de Antônio Campos, curador da Festa Literária Internacional de Pernambuco.

É um livro de crônicas escritas para a imprensa, donde se conclui que não podia passar do número de caracteres, nem de palavras. Evidencia-se por muitas conclusões apressadas, ou omissões a puxar a curiosidade do leitor. No entanto o autor deixa-nos a certeza de que se trata de um enfoque global.

Uma visão de mundo em que não pode mais se restringir a um governo, a uma determinação hegemônica, a grupos. Tudo deve ser visto de forma globalizada. Nada mais pertence ao indivíduo. O meu e o teu terão a denominação de nosso: nosso é o misticismo, nossa é a cultura, a civilização.

Essa é a Fliporto, após a curadoria de Antônio Campos. Como visitante, assisti a primeira e segunda Fliporto. Como integrante, figurei na III, indicando amigos argentinos e chilenos, para debater sobre a Integração Cultural Latino-americana; IV e V, produzindo, em parceria com Antonio Campos, a Panorâmica do Conto – Em Pernambuco, livro que estou seguro já entrou para a História.

Na 6ª. edição da Fliporto, salvo uma pequena contribuição dada para o Jogo da Pernambucanidade, preparado por Cláudia Cordeiro, nada mais me cabia além de espectador. E foi exatamente nessa condição que me apercebi a visão internacional do trabalho de Antonio Campos. Está claro o seu propósito no livro “Diálogo entre Ocidente e Oriente” em que versa sobre “O século XXI passou da diversidade como riqueza para a interculturalidade do problema”. Bastaria esse item para o surgimento de múltiplos ensaios, enfocando o descaminho das nações hegemônicas através da boca do canhão; ou das grandes fortunas, acumuladas num passe de mágica, só Deus sabe como. E mais não é apenas o ângulo econômico que se diluiu (como está tão claro nesse colapso que vem sofrendo as grandes potências, que elegeram o lucro a condição de Deus) a transformação chegará pelo lado social, psicológico, moral, religioso, familiar.

Sabiamente Antonio Campos reuniu uma amostra de cada cristal que comporão as pilastras do futuro, a partir do ilustre conterrâneo Gilberto Freyre, com a sua visão de uma nova raça humana, o povo brasileiro. Visão compartilhada por Darcy Ribeiro.

Justifica Antonio Campos que os diálogos entre Ocidente e Oriente antecede a própria criação dos termos definidores das regiões, apontadas, quantas vezes, antagônicas, incompreensíveis, antilógicas. Os motivos ainda hoje apontados pela mídia são incontáveis, tanto lá como cá.

Eu mesmo costumo martelar no exemplo dado por Mahatma Gandhi, como a única figura de líder na história da humanidade capaz de vencer uma guerra contra a prepotente Inglaterra sem disparar um tiro, sem dar uma tapa. Antonio Campos traz o novo Gandhi que vem surgindo na Índia atual, o ativista Anna Hazare, que luta contra a corrupção no seu país, sem violência. Assim como aponta outros exemplos para justificar novos tempos, novas formas de vida, baseadas na verdade e na paz.

Para o visionário Antonio Campos o caminho é do “diálogo no mundo contemporâneo”, em que aponta o Brasil como a nova potência mundial. Potência que vai até as últimas consequências na busca do entendimento, da paz entre os povos, do diálogo.

Ao prefaciar a Panorâmica do Conto em Pernambuco, disse da minha satisfação de trabalhar ao lado do escritor Antônio Campos. Constatei no filho do meu amigo Maximiano “a firmeza de propósito e o grau de cidadania por ele exercida, pela harmonia e entendimento” com que transcorreu todo o período de elaboração do trabalho.

Agora posso ver que a visão desse jovem, na busca desse entendimento e dessa paz, não se limita à jornada uma equipe, de um grupo. Transcende esses horizontes: Antonio, como um embaixador, exerce esse diálogo em casa, no Estado de Pernambuco, na América Latina, na Europa, entre Ocidente e no Oriente. Não é invadindo o país A ou B, matando os líderes que não nos serve mais, que iremos implantar democracia no mundo. Não é assustando civis desarmados com bombas atômicas que iremos conquistar a Paz. A paz se conquista com paz e com diálogos.

Esta é a tônica do livro “Diálogos entre Ocidentes e Orientes”, foi e é a viga mestra da Festa Literária Internacional de Pernambuco.

• Jornalista e escritor

Nenhum comentário:

Postar um comentário