sexta-feira, 11 de maio de 2012

Conselho de amigos da ACL


* Por Rubem Costa


Fundada em 1956, a Academia Campinense de Letras tem o privilégio de ser no interior do Brasil a única entidade na espécie detentora de prédio construído pelo poder público com a precípua finalidade de lhe servir de sede. O projeto obedeceu aos mais rígidos princípios da ordem dórica (posta em voga 600 anos antes de Cristo) que se revelam nas colunas sulcadas de caneluras ou estrias em meia cana grossas no primeiro terço da altura total, adelgaçando um tanto para cima numa projeção típica dos primeiros templos gregos.

Firmado na tradição histórica, o sodalício campineiro foi concebido à imagem e semelhança da Academia Brasileira que, por sua vez, teve como modelo a Academia Francesa de Letras, inaugurada em 1635 pelo Cardeal Richelieu no tempo do Rei Luiz XIII.

Como se percebe, o sodalício insere-se numa sequência de entidades assemelhadas no desejo de fazer da linguagem uma expressão pura e eloqüente do pensamento. Pretensão ambiciosa que infelizmente atravessou os séculos gravada de elitismo hermético, vezo que compromete a realidade de uma civilização em permanente mudança e para a qual, já no início do século XX Kilpatrick reclamava atenção sugerindo uma reavaliação de conceito sob pena de se perder na marcha do tempo a edificação da vida.

Trocando em miúdos, a urgência de se abrirem janelas da sociedade fechada para agasalhamento das solicitações vitais da história em movimento. Em síntese, era crítica formal inafastável a agrupamentos culturais que, como caramujos, carregam a casa às costas. Foi essa situação aterrorizante (arrisco-me a uma confissão à parte) que deparei logo à minha posse na ACL. No final do século XX, em sessão convocada para assistir à palestra de um dos mais importantes historiadores da cidade, aconteceu o inimaginável. Não se fez necessário abrir o salão de conferências, já que a platéia se resumia a meia dúzia de pessoas. Momento desolador. Descoberta dolorosa de que a entidade estava a abdicar de sua proposta máxima – que sempre a de difundir cultura.

Impunha-se uma reavaliação. Foi o que aconteceu, quando já presidente, no ano seguinte, encontrei a comunidade acadêmica empenhada no mesmo desejo de mudar a regra do jogo para vitalizar o sodalício: intenção que tinha como mote os versos de Rodrigues de Abreu – Minha casa é uma sala sem paredes onde o sol bate de cada lado. Em conseqüência abriram-se de par as portas do sodalício para atividades culturais da gente de Campinas e agasalho de entidades que não possuem sede própria para apresentação de suas realizações.

Do salutar propósito, resultou o quadro que se oferece hoje que mostra o edifício monumental, edificado à semelhança de templo grego (sede da ACL) convertido em centro de convergência que em suas dependências acolhe múltiplas entidades de Campinas para exercício de suas atividades culturais. Um panorama consolador que, mercê da sorte, atualmente vem sendo enriquecido pelo trabalho inexcedível que na presidência do instituto realiza o acadêmico Agostinho Toffoli Tavolaro.

Intelectual de trânsito internacional (dono de vasto currículo que engloba múltiplas atividades jurídicas e literárias), põe em prática um brilhante programa de divulgação das realizações culturais de Campinas. Arregimentação de valores que já desperta atenção nacional, ensejando o surgimento de um órgão inédito, o “Conselho de Amigos da Academia”, composto de destacadas personalidades do mundo cultural e empresarial da nação. Assim, está prevista para o dia 17 do mês corrente (data em que a Academia comemora o 56º aniversário de fundação) a instalação oficial do importante organismo de apoio com a posse dos seguintes conselheiros: Sylvino de Godoy Neto, Adolpho Lindenberg, Mário Garnero, Álvaro Bacelo, Ives Gandra da Silva Martins, Antonio Augusto Gomes dos Santos, Antonio Celidonneo Ruette, José Bonifácio Coutinho Nogueira Filho, José Maria Amaral Gurgel, Antonio Luke Ribeiro Machado, Antonio Penteado Mendonça, Augusto Luís Rodrigues, Cláudio Lembo, Armindo Dias, Ari Del’Alamo, Carlos Alberto Vieira, João Grandino Rodes, José Augusto Delgado, José Renato Nalini, Luiz Gonzaga Bertelli, Luiz Norberto Paschoal, Marie Rose Gebara Maluf, Mario Rubens Costa, Miguel Jorge, Miriam Leitão, Ney Prado, Nathanael Pereira de Souza, Peter Graber, Rodrigo Neves e Ruy Martins Altenfelder Silva.

• Rubem Costa é escritor e membro da Academia Campinense de Letras.

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