quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018


Último filho de Inca

* Por Pedro J. Bondaczuk

A febre turva-lhe a visão.
Ar, ar!”, clamam os pulmões,
estourando de asfixia.

As lágrimas de Inca
refrescam-lhe o calor.
O deus está irado.
Permitiu ao invasor
apossar-se da dádiva
exclusiva dos filhos do sol.

As forças, lentamente, se esvaem.
É um duro pesadelo”, pensa,
do qual, presto, vou despertar”.

Amanhã, ofertarei outra virgem,
no altar sagrado de Inca,
para que não mais tenha
sonhos tão opressivos, maus!”.

Mas, oh! Não era sonho!
Estava emparedado
e faltava-lhe ar, ar... a ..r...!!

O varão desfaleceu.
Cortejo de virgens nuas,
com ânforas de chicha,
e fartos favos de mel,
recepcionam-no no pórtico.

E Inca vem buscar,
em pessoa, com amor,
Atahualpa, o mancebo,
seu derradeiro
rebento na Terra.

(Poema composto em Sumaré, em 24 de junho de 1974).


* Jornalista, radialista e escritor. Trabalhou na Rádio Educadora de Campinas (atual Bandeirantes Campinas), em 1981 e 1982. Foi editor do Diário do Povo e do Correio Popular onde, entre outras funções, foi crítico de arte. Em equipe, ganhou o Prêmio Esso de 1997, no Correio Popular. Autor dos livros “Por uma nova utopia” (ensaios políticos) e “Quadros de Natal” (contos), além de “Lance Fatal” (contos), “Cronos & Narciso” (crônicas), “Antologia” – maio de 1991 a maio de 1996. Publicações da Academia Campinense de Letras nº 49 (edição comemorativa do 40º aniversário), página 74 e “Antologia” – maio de 1996 a maio de 2001. Publicações da Academia Campinense de Letras nº 53, página 54. Blog “O Escrevinhador” – http://pedrobondaczuk.blogspot.com. Twitter:@bondaczuk

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