Silêncio
rumorento da tarde
* Por
Abílio Pacheco
traz-me
o vento um acorde seco
um sol mofino desafina fios mofos
não têm graça esses seres leves
mais leves que uma aeronave
veículo mais pesado que o ar
e o vento se azucrina desses cavalos
dormentes que trotam em teclas
um sol mofino desafina fios mofos
não têm graça esses seres leves
mais leves que uma aeronave
veículo mais pesado que o ar
e o vento se azucrina desses cavalos
dormentes que trotam em teclas
são
os pássaros em paços urementos
em que sandálias longe de serem dálias
sapatos chapinham em passos
e em tamancos… sim! manqueantes
moças dammes e raparigas chiam
aquele um torce-se e cospe na pedraria
causo do que a praça me faz inalo
em que sandálias longe de serem dálias
sapatos chapinham em passos
e em tamancos… sim! manqueantes
moças dammes e raparigas chiam
aquele um torce-se e cospe na pedraria
causo do que a praça me faz inalo
estridem
dos bicos como gosma
escorrendo entre meio fio e desvio
ou ao menos tento enxoto meu pé
meus cascos dos cacos e gomas de chique
de chicle de boca esnobe “trái” “daite” “laite”
dela mesma mana denasando
a manteiga do escarro ordinário
escorrendo entre meio fio e desvio
ou ao menos tento enxoto meu pé
meus cascos dos cacos e gomas de chique
de chicle de boca esnobe “trái” “daite” “laite”
dela mesma mana denasando
a manteiga do escarro ordinário
há
canções belas esgarçadas por
abafadas por sopros de mormaços
hálitos de bochornos suarentos
bafos de sovacos desadovados
não há canto rijoso a malodor
e duram então essas coisas aí
tecno-quê de melody-lhufas
abafadas por sopros de mormaços
hálitos de bochornos suarentos
bafos de sovacos desadovados
não há canto rijoso a malodor
e duram então essas coisas aí
tecno-quê de melody-lhufas
gargalhos
zanzos banzando
dejetos vesperais nas lâminas
lamas do velho lemos a-tonus
lesmas ideias de empulcrar ruas
ridentes desrimos desrumos
desrimamos dentes de fora
alegrias destons rictos ao sol
dejetos vesperais nas lâminas
lamas do velho lemos a-tonus
lesmas ideias de empulcrar ruas
ridentes desrimos desrumos
desrimamos dentes de fora
alegrias destons rictos ao sol
aos
poucos se ciciam anêmicas
arengas rogos mojos a-rengas
somadas delas de-somadas
à tarde a tarde atarda clara
nívea de cristais núbil
canoros breus soteros brumos
prumos pros rumos rumores
arengas rogos mojos a-rengas
somadas delas de-somadas
à tarde a tarde atarda clara
nívea de cristais núbil
canoros breus soteros brumos
prumos pros rumos rumores
haveres
de versos à espreita
inseto retido em pus catarro
vômito em estômago mareado
o poema no hades dos ruídos
no inferno sonoro da tarde
bolha de ar em balde emborcado
asfalto cedendo à força d’água
inseto retido em pus catarro
vômito em estômago mareado
o poema no hades dos ruídos
no inferno sonoro da tarde
bolha de ar em balde emborcado
asfalto cedendo à força d’água
*
Abilio Pacheco é professor, contista, romancista e editor.
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