O ganso
* Por
Ana Deliberador
Os
três amigos, em campanha pela prefeitura, passavam em todos os
sítios e fazendas pedindo votos.
Essa
era uma via sacra que se repetia em todas as eleições: água por
água, sítio por sítio, casa por casa. Eleitor que não fosse
“visitado” ficava ofendido pela desfeita.
Pararam
o carro na estrada principal e enveredaram por cerca de quinhentos
metros até a casa.
Muito
bem recebidos, conversaram com a família, tomaram café e se
despediram, não sem antes receber a promessa do voto, dos vários
votos.
Fazendo
o caminho de volta para o carro escutaram uma barulheira danada vindo
por trás: um ganso vinha à toda, como se fora cão de guarda, para
atacá-los.
Marinho,
o candidato a prefeito, virou-se na sua habitual amabilidade, pedindo
ao ganso:
– Calma
fio! Calma! –
enquanto gesticulava tentando acalmar a ave.
Vendo
aquela situação Zezão – apelido indicativo do tamanho –
afastou os amigos para o lado:
–
Não
adianta, é animal! Deixa comigo!
Enquanto
falava deu um chute de bico no animal. O pobre subiu, deu um salto no
ar e caiu duro, estatelado, no chão.
Morto!
O
dono do ganso, ao ver sua ave de estimação naquele estado, gritou
lá da janela, desesperado:
–Seus
fio da puuuuuta!
A
partir daí passou a ser inimigo, declarado, dos três.
*
Professora, pintora e escritora
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