Quem
ama casa ou quem casa ama?
* Por
Mara Narciso
Muitas
vezes a vida nos coloca em encruzilhadas e nem sempre temos o bom
senso para escolher o melhor caminho. Quantas vezes optamos pela
estrada mais tortuosa e complexa? Algumas vezes chegamos ao Éden,
mas noutras caímos no poço. São tantos os perigos do roteiro, uma
armadilha atrás de cada árvore. Enquanto houver árvores. Mas são
muitas as luzes encontradas.
Viver
é excitante, exatamente pelas surpresas em cada capítulo. Ao fim de
uma etapa há a emoção da série, e no outro dia, um capítulo
inteiro para escrever. A vida tem seu tortuoso tempo, nem longo nem
curto. A expectativa de vida no Brasil está em 75 anos. Queremos
chegar lá. Mas muitos caem antes, e falo de causas naturais. Então,
devemos viver da melhor maneira. E qual é esta maneira? Cada povo
tem suas expectativas. Uns vão pelo lado da posse de coisas e
pessoas, outros vão pelo lado leve, vida simples, despojada,
descomplicada, cada um livre para ser o que quiser. Pensam que a
maioria quer a segunda opção? Não! Quer a primeira.
A
relação humana é um risco a cada momento. Quantas vezes pessoas
são tão próximas que fazemos uma verdadeira imersão no seu modo
de viver? Ficamos sabendo detalhes íntimos que só contamos ao
terapeuta. Depois somem para nunca mais voltar. Boa parte das
aproximações é circunstancial, por interesse de vizinhança,
escolar, trabalho, instituição, financeiro, afetivo. Depois, laços
apertados se rompem, rasgando a carne. Ficam cicatrizes e lembranças.
Pessoas
se unem para suprir o que mais lhes faltam. Então, pessoas
diferentes se aproximam pelos mesmos motivos que as separarão. Nas
rupturas são diversas dores e alegações. Há o pensar,
medir, pesar, decidir e falar. Ou escrever. Porque está em curso uma
moda cruel de rupturas por escrito. As que são vítimas da ruptura
reclamam, para ler a justificativa dos ruptores de que é melhor
assim.
Desde
a Bíblia se diz que haverá choro e ranger de dentes no sofrimento.
A maioria sabe o que vem a ser isso. E aqui não falo do Apocalipse
Universal e sim do individual. Quantas vezes fizemos chorar? E
quantas vezes choramos? E outras que sorrimos e nos beneficiamos das
melhores delícias?
Sonhar,
vivenciar e sorver o que a vida tem de melhor. E porque não? Desde
que procuremos não punir quem não merece e sim, nos afastar do
convívio de quem nos faz sofrer. O mundo continua coalhado de
injustiças, de penalizações a quem não deveria ser punido,
enquanto muitos merecedores de punição encontram o Reino dos Céus
na terra. Outros, completamente bons passam a vida a sofrer. Há
culpas e culpados, mas quem produz dor sofre? Quem constrói o bem,
usufrui dele?
Vivendo,
e o melhor, ninguém sabe até que dia, o mundo pode ser visto como
um lugar injusto onde, todos os dias vemos cair os bons e se levantar
os maus. Sem intriga não há enredo. Assim é nos livros, nas
novelas, nos filmes e na vida. O marasmo não é bom companheiro,
então precisamos fazer acontecer, irmos em busca da ação,
preenchermos a vida em todos os níveis. É o óbvio, mas se vive
basicamente nele e dele.
Então,
podemos falar do amor, esse sentimento traiçoeiro com quem se mete a
senti-lo e, o pior, escrever sobre ele. Inevitavelmente caímos no
ridículo. Mas sem isso não se conhece o amor. Quanto à pergunta do
título, é dever de casa. Que cada um procure a sua resposta.
*
Médica endocrinologista, jornalista profissional, membro da Academia
Feminina de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico, ambos de
Montes Claros e autora do livro “Segurando a Hiperatividade”
Boa pergunta, Mara. Mas somos demasiado humanos para termos uma resposta... abraços.
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