Catando
piolhos: entre Jadelvone e Amazonino
* Por
José Ribamar Bessa Freire
Supunhetemos
que dia 27 de agosto aconteça um provável segundo turno da eleição
para o mandato tampão de governador do Amazonas. Supunhetemos ainda
que sobrem dois improváveis candidatos: Jadelvone Deltrudes (PPL
vixe vixe) e Amazonino Mendes (PDT ex-PFL vixe vixe). Um dilema: em
quem votar? Quem é politicamente mais digno do nosso voto: o
cabeleireiro Jadelvone, um desconhecido da mídia, cuja convenção
do partido tinha quatro pessoas ou o ex-governador Amazonino - um
notório finório cujas pilantragens ocupam as manchetes dos jornais
do Amazonas há meio século?
Os
dois estão entre os nove candidatos na eleição do dia 6 de agosto
que, ao que tudo indica, terá um segundo turno, se o Tribunal
Superior Eleitoral (TSE) presidido pelo outro Mendes – o Gilmar
(vixe) – não mudar as regras do jogo, decidindo pela eleição
indireta. Será que é correto optar por Jadelvone Deltrudes, nome,
aliás, predestinado para um designer de cabelo que lida com prótese
capilar, lavagem de cabelo, coloração, depilação, barba, bigode e
até piolho? Nome tão apropriado – reconheço humildemente -
quanto Ribamar como porteiro de motel.
O
que é notícia
Em
2012, em plena eleição para prefeito de Manaus, um dos meus quatro
leitores reclamou da coluna por abordar outros assuntos, o que em sua
opinião não passava de pretexto e desculpa esfarrapada para não
opinar sobre o pleito eleitoral. Outra leitora confirmou naquela
ocasião que eu estaria mesmo sem noção da hierarquia dos fatos:
-
Não fuja do pau! No lugar de escrever sobre índios faça um balanço
da administração desastrosa do prefeito Amazonino Mendes. Por que
você não discute a "guerra do ovo" ou a "guerra do
cuspe", tomando posição quanto aos candidatos a prefeito? Isso
é que é notícia, o resto é abobrinha que a ninguém interessa.
Diante
das cobranças feitas, lembrei da frase do poeta Thomas Eliot, que li
em algum lugar:
-
Numa terra de fugitivos, aquele que anda na direção contrária é
que parece estar fugindo.
Afinal,
o que é notícia numa visão de longa duração? Daqui a cem anos,
quem se lembrará de Amazonino ou de Jadelvone, ou de algum de nós,
já tornados pó? No entanto, suspeito que se o Brasil existir até
lá nossos descendentes morrerão de vergonha pela entrega que se faz
agora das terras indígenas à bancada ruralista como moeda de troca.
É assim que o presidente Temer está comprando votos de deputados
para não ser investigado por crimes de corrupção que todo o país
conhece. Portanto, a situação dos índios, muito mais do que essa
eleição, parece decisiva para os destinos do Brasil.
Acontece
que, como regra geral, a mídia se lixa, olimpicamente, para eventos
que afetam a vida dos índios ou para o que ocorre na universidade.
Uma aula, uma conferência, a defesa de tese, o lançamento de um
livro, a reunião da SBPC – Sociedade Brasileira para o Progresso
da Ciência, por mais excepcionais que sejam, não são notícia, a
não ser que um aluno dê um tiro nos cornos do professor, ou uma
aluna use minissaia, bem mini, excepcionalmente mini, como aquela
estudante que, em 2012, tumultuou a faculdade de São Bernardo do
Campo (SP) num espetáculo machista deprimente. Mas aí, a notícia
não é o fato acadêmico.
Contra
os piolhos
De
qualquer forma, leitores são raros, hoje, e mais raros ainda aqueles
que te dão um retorno. Por isso, é recomendável tratá-los com
mingauzinho de aveia. Para puxar o saco do (e) leitor amazonense,
faço um parêntese naquilo que considero fundamental – a questão
indígena - e volto o olhar para a eleição, que em termos imediatos
é o que lhe interessa, perguntando como exercício especulativo:
-
E agora, José? Entre Amazonino e Jadelvone Deltrudes, o que fazer?
Nesse
caso, é preciso optar entre a figura bufonesca e pícara do
ex-governador e a de Jadelvone Deltrudes, cujo nome ninguém sabe de
onde os pais tiraram. Entre a Mansão do Tarumã e a Voz da
Compensa, o que escolher?
O
governador José Melo Merenda (PROS vixe vixe) e seu vice foram
cassados por haverem comprado votos na eleição de 2014, prática
que Amazonino Mendes conhece muito bem e nela se doutorou e na qual
Temer é useiro e vezeiro. Já o nosso Deltrudes, por enquanto, não
gasta um centavo nesse tipo de operação, ao contrário, é pago
para fazer a cabeça dos eleitores que constituem sua clientela.
Supunhetemos
ainda que Deltrudes vence o pleito e assume o governo do Estado, mas
logo renuncia, num golpe dado por sua vice Fabiana Campos Silva
Wilkens, formada em direito e que era uma das quatro pessoas
presentes na convenção do PPL. A governadora dará sequência ao
combate contra os piolhos? Ninguém sabe.
Agora
supunhetemos que o vitorioso seja Amazonino, que governa por dois
meses e é cassado por corrupção. Assume seu vice, Bosco Saraiva
(PSDB vixe vixe), com um currículo à altura do momento que vivemos.
Ele já foi levado algemado à Polícia Federal e conseguiu driblar o
Judiciário, como o presidente do seu partido Aécio Neves no qual se
inspira. A chapa dos dois juntos caracteriza formação de matilha.
Nesse caso, também temos a garantia de que o modelo Temer-Loures
continua no Amazonas.
Pelas
razões acima expostas, declaro que no primeiro turno visto a camisa
do José Ricardo Wendling, mas no segundo, se confirmadas as
improváveis suposições, cravo em Jadelvone Deltrudes, cujo nome é
uma redondilha maior, um verso de sete sílabas. Para o Amazonas
ainda é melhor a inexperiência do Jadelvone, matador de piolhos, do
que a tarimba e o know-how do escolado Amazonino, que vem com uma
voracidade sobre os cofres públicos do tamanho do seu jejum. Quem
vota no Amazonino é cúmplice dele. Abaixo os piolhos.
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