Varrição social em Blumenau
* Por
Magali Moser
A decisão da
prefeitura de Blumenau de retirar as bancas de vendedores ambulantes da Rua
Sete de Setembro esconde um viés marcado pela intransigência e dificuldade do
governo municipal dialogar com os mais pobres. Não por acaso, a varrição social
foi feita sob a escuridão da noite do feriado do dia 15 de novembro. No dia
seguinte, a cidade amanhece livre do que considera “incômodo aos olhos” na área
mais nobre do município.
Com o aval da polícia
militar, o poder público destrói quatro barracas e a vida de quem dependia
delas para a própria sobrevivência. Os argumentos oficiais usados pelo governo
de que o horário escolhido para a remoção justifica-se para não alterar a
rotina da cidade e de que as barracas impediam o andamento das obras do
trânsito - com os corredores exclusivos de ônibus - ocultam uma decisão
autoritária e truculenta, pautada por uma postura arbitrária, como se os
ambulantes fossem “pessoas indesejáveis”.
É preciso reconhecer:
A coexistência dos ambulantes numa das principais artérias da cidade incomoda,
sobretudo porque trata-se de um comércio direcionado à população de baixa
renda. O discurso moralizador que se expressa sob o pretexto de que a
prefeitura, com a medida, civiliza o uso do espaço público e retira obstáculos
à circulação de pedestres, ignora a vida de quem está sob as calçadas há até 30
anos e para quem o comércio informal pode ser a única forma de reinserção no
mercado de trabalho.
Se eles estavam ali há
tanto tempo, é porque tinham a autorização do poder público. Em vez de
encaminhar uma proposta humanizada para este tipo de comércio, a prefeitura de
Blumenau vai na contramão e gera desempregados sem recursos para sobrevivência.
O mínimo que se esperava era um prazo maior ou a busca de outros espaços para
construir uma alternativa às famílias que retiram dali o seu sustento.
O governo municipal
sempre usou a mesma estratégia para lidar com os pobres no Centro. A visão de
varrê-los para periferia já demonstrou ser falha ao longo da história.
Ambulante não é caso de polícia, mas fruto de uma questão social. Eles não
podem ser tratados como criminosos! O governo não pode agir de forma despótica
e reprimir generalizadamente a atividade. Os discursos que se tem ouvido de que
a decisão é necessária em nome da recorrente expressão “reurbanização do
Centro” escancara o descaso pelos que dali sobrevivem, varrendo-os como se eles
fossem literalmente lixo. Essa tendência anula aqueles que lutam pelo direito da
população de permanecer no Centro e torná-lo um lugar mais democrático.
As ações adotadas pelo
governo demonstram uma política segregacionista, com medidas como a proibição
de bebida alcoólica nas praças, a proposta do toque de recolher -
posteriormente travestido com o nome toque de acolher -, que recaem sempre
sobre uma parcela da população já carente de acesso a oportunidades e privada
de opções. Preocupante perceber que a sociedade não questiona a causa dessas
situações, preferindo a indiferença. Parece estar anestesiada. Até quando o
problema do próximo deixará de ser seu também?
*
Jornalista
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