Cinco estrelas da quarta idade
* Por
Marcelo Sguassábia
Meu caro Ludovico, seu
doidivanas incorrigível
Esse mundo dá mesmo
muitas voltas. Nem bem abandonei o ramo de cosméticos à base de algas marinhas
e eis-me frente a frente com um novo desafio profissional: organizar as
atividades da equipe de recreação de um hotel voltado à chamada “Quarta Idade”,
ou seja, aquele pessoal com mais de 95. Talvez o termo soe estranho aos seus
ouvidos, mas a mídia em breve irá massificá-lo, com direito até a merchandising
na novela das oito.
Na verdade, preferia
encarar uma turminha mais nova. Mas o mercado da tão falada “melhor idade”, dos
65 aos 94, já está mais que saturado. Os rapazes e moças dessa faixa etária já
têm muito o que fazer, há pacotes aos borbotões para todos os gostos e bolsos.
Sendo o meu produto
inédito, o dilema no momento é formatar os eventos para o grupo de monitores. E
o amigo há de convir que meu leque de opções é um tanto quanto escasso, tendo
em conta o público-alvo e suas naturais limitações. Todavia, seguem algumas
idéias que me vieram à mente, para as quais peço sua ponderada e sempre bem-vinda
avaliação.
Aula de esteira, de
crochê ou de tricô, confeccionada em linha de algodão cru. Uma forma
interessante de manter as velhinhas entretidas por até 3 semanas, dependendo do
tamanho da esteira, do ponto a ser utilizado e da desenvoltura da aluna no
manejo das agulhas.
“Mergulho nas
Cataratas”, um workshop onde especialistas irão expor aos anciãos as mais
recentes novidades no tratamento e controle desta insidiosa enfermidade.
Trilhas radicais:
vinte tabuleiros de trilha, dispostos simetricamente no saguão das piscinas
térmicas, promoverão a integração dos hóspedes e farão a alegria da velharada.
Pensei também na “Hora
H gá”. O nome infame ainda é provisório, mas foi o que deu pra arrumar por
enquanto. Trata-se de um jogo de charadas, do tipo “O que é, o que é”. Exemplo:
começa na cervical, irradia para a região lombar, desce o nervo ciático até a
batata da perna e só cessa com uma dose cavalar de Cataflam. Qual o nome da
doença?
Tem ainda aquela
brincadeira da estátua, onde ninguém pode se mexer, mas a galera das bengalas,
andadores e afins ficaria em evidente desvantagem... a recomendação da
diretoria é não deixar ninguém constrangido, entende?
Meia Maratona: ganha
quem conseguir dobrar o maior número de pares de meia em um minuto. Provas nas
modalidades meia três quartos, meia-calça, meia de lã e meia de nylon.
Estou prevendo a
realização de baladas, com início às dez da manhã e término às quatro da tarde.
A dupla de DJs Janota e Mariquinhas entreterá os requebrantes com uma
sensacional seleção de valsas, dobrados e maxixes.
Encerrando, o
“Vovoyeur”. A proposta consiste em várias câmeras escondidas, que flagrarão
toda a pouca vergonha que vier a ocorrer nos cantinhos e biombos, na calada da
noite, entre os senis convivas.
Bem, vou ficando por
aqui, no aguardo de seus comentários críticos e, se possível, de sugestões para
o meu projeto. Meu amigo, estou num mato sem cachorro e não posso perder esse
emprego. Ponha-se no meu lugar, ou melhor, ponha-se no lugar de um desses
centenários hóspedes e diga sinceramente se as idéias lhe atraem.
Do amigo de sempre,
Capistrano
* Marcelo Sguassábia é redator
publicitário. Blogs: WWW.consoantesreticentes.blogspot.com
(Crônicas e Contos) e WWW.letraeme.blogspot.com
(portfólio).
Achei o termo "velharada" desrespeitoso, ainda que seja a verdade em estado puro. As demais sugestões são exequíveis, porém sugiro coisas mais agitadas. Quase cem anos: poucos chegarão lá.
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