A
consulta
* Por Rodrigo
Ramazzini
- Entre!
- Licença.
- Sente-se Seu Romualdo, mas antes
arrume a cortina, por favor!
- O dotô é bom mesmo! Já sabe até o meu
nome...
- Não me chame de doutor. Você marcou
hora, esqueceu?
- Ah é!
- Tarô ou búzios?
- Qual o melhor?
- Búzios! Mas é mais caro...
- Pode ser! Dinheiro não é problema...
- Futuro?
- Sim!
- Problema com mulher ou emprego?
- Os dois. O dotô é bom mesmo! Já sabe
até porque vim até aqui.
- Não me chame de doutor. A maioria dos
homens procura-me por esses motivos...
- É que estou em dúvida. Não sei se
largo a minha esposa para ficar com a... Er... Ahn ...
- Amante! Pode
falar, não há mais ninguém fisicamente aqui.
- Isso, dotô! Sou casado há dezoito
anos e mantenho esse relacionamento por fora, digamos assim, há três...
- Sei! Deixe-me jogar aqui... Splop! ploc! ploct! plop! Vamos ver...
Vejo um filho!
- Não tenho filhos. A minha esposa não
pode ter filhos, dotô!
- Quem disse que é a sua esposa?
- Será a Laurinha? Não poder ser! Eu
ter um filho terminaria de vez com o meu casamento e eu não sei se quero
terminá-lo...
- Quem disse que o filho é seu?
- Mas, dotô!
- Não me chame de doutor. Vejo que a
sua amante pode engravidar, mas não disse que o filho será seu...
- A Laurinha é de confiança, dotô!
- Também não disse que não será. Apenas
vejo um filho.
- Ufa! Menos mal, dotô. Ou não? Nem sei
mais! E o trabalho?
- Sobre o trabalho... Splop! ploc! ploct! plop! Vejo pouca
valorização...
- Isso mesmo dotô! Atchim! Atchim!
Desculpa. É o cheiro do incenso. Tenho rinite alérgica.
- Saúde!
- Obrigado! Sobre o meu trabalho é isso
mesmo, dotô! Eu morro trabalhando e na hora de vir à recompensa, uma promoção,
um aumento, o que acontece? Nada! A empresa está sempre em crise nestas
horas...
- Sei! Vou jogar de novo... Splop! ploc! ploct! plop! Vejo algo
relacionado a estudo, escola...
- Isso dotô! É o que eles sempre
argumentam. Que eu tenho conhecimento, mas não tenho estudo.
- É. O seu caso é grave mesmo! Vamos
ter que fazer um trabalho forte para mudar esta situação.
- Não me assusta dotô. Pelo amor de
Deus! Mas tem solução? O que preciso fazer?
- Não me chame de doutor. Tem solução!
Vamos precisar fazer uns banhos, alguns caprichos, umas galinhas, trocar umas
energias que o cercam. O material necessário é este aqui. O valor do serviço
está embaixo.
- Pelo amor de Deus, dotô! Tudo isso?
- Eu garanto o resultado. Tudo muda
para melhor em uma semana. Depende de você!
No carro
- E aí? Como foi? Conseguiu as
respostas que buscava?
- Quanta pergunta, José?
- Pô! Nada mais justo. Estou esperando
você faz um tempão, e além do mais, foi eu quem fez a indicação.
- Está certo! Conseguiu sim! Respostas
contundentes. Mas muito caros os serviços!
- Ah! Isso é lógico! Os bons nesta área
são caros. Mas pensa bem. Sabe como é. Com futuro não se brinca!
- Pois é, mas eu não sei. Aliás, não
tem outro para me indicar só para eu tirar “uma febre”?
* Jornalista e cronista
Fala e não diz absolutamente nada.
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