Delma não sabia
* Por
Marcelo Sguassábia
O que tem a dizer sobre
as denúncias do esquema de propina na Petrobras, onde 3% de todos os contratos
ficavam para o seu partido?
No que se refere a essa
história da capa da Veja, eu devo dizer que... falar que o PSDB varre tudo pra
debaixo do tapete. Falar do mensalão tucano, falar da falta de água em São
Paulo, falar do desemprego no tempo do Fernando Henrique. Falar do escândalo
das privatizações e da emenda da reeleição. Falar que no meu governo tudo mudou
pra melhor, e que, com o projeto “Brasil Carinhoso”, milhares de famílias...
A senhora não respondeu
à pergunta. Essas folhas aí que a senhora está lendo provavelmente eram a sua
“colinha” para os debates... me parecem lembretes para orientá-la...
Ai, meu Deus, que
cabeça a minha. Tem razão. Ai, ai, ai... Deixa eu pegar o papel certo aqui, só
um momento... Então, no que se refere à resposta que você me pede, se eu disser
que não sabia de nada dessa história, seria uma inverdade. Eu desconfiava, sim,
mas não tinha provas ou não queria aceitar que estava cercada de Iscariotes os
mais variados. É como uma mãe, que sabe que o filho está metido em tráfico de
drogas mas no fundo acredita que ele só sai de casa pra ir à escola dominical,
compreende?
E quanto a todas as
outras acusações de corrupção e mau uso do dinheiro público, envolvendo
ministros e assessores diretos?
Pois é, no que se
refere a isso tudo a que você se refere, eu fiquei passada quando a coisa foi
pipocando na mídia. Ensandecida, fui me aconselhar com o Suplicy, que em
questão de honestidade está acima de qualquer suspeita. Cheguei no apartamento
dele em hora imprópria. Estava muito ocupado, de robe de chambre e com o rosto
besuntado de creme esfoliante, redigindo a nova versão do projeto Renda Mínima.
Cheguei e já fui destilando minha ira. Senti que ele me escutava, mas não
ouvia. Depois que contei meu dilema ético, ele virou pra mim, baixou um pouco
os óculos e disse apenas, com aquele seu olhar de ET da terceira idade: “Delma,
o nosso partido jamais faria uma coisa dessas. Ponho minha mão no fogo, ponho o
meu projeto de lei no fogo, eu toco fogo no Supla se for preciso!”. Dito isso,
ele passou mais uma boa demão de esfoliante nas orelhas e no nariz, e em
seguida insistiu pra que eu lesse um whatsapp cheio de segundas intenções, que
ele queria mandar para a Joan Baez, antigo e ilustre affair. Lembro que a
mensagem falava qualquer coisa sobre renda mínima, de que ele queria ver a
renda mínima dela, algo assim.
Ainda no que se refere
a essa história, eu disse aos companheiros que, se as acusações tivessem
fundamento, teríamos que procurar os culpados e cortar na carne. Nesse momento
o Lulinha entrou aos berros no gabinete, não se sabe de onde, dizendo que podia
cortar qualquer carne, menos a Friboi. Não entendi o que tinha a ver uma coisa
com a outra, porque o rapazinho, que eu saiba, nunca lidou com esse negócio de
pecuária e frigorífico. É quase uma criança, até outro dia mesmo só mexia com
games.
Consta que seu comando
de campanha enviou mensagens SMS aos beneficiários do Bolsa Família, afirmando
que o benefício iria acabar caso o governo Delma não continuasse. É verdade?
No que se refere a
isso, eu acho que quem tem celular pra receber SMS não precisa receber Bolsa
Família. Ou seja, se o sujeito recebeu a mensagem, ele não era o público-alvo
dela. Pensa bem, meu marqueteiro não iria ser burro a ponto de montar uma
estratégia tão ilógica.
Qual a sua versão sobre
o uso dos Correios para distribuição de propaganda política do PT?
No que se refere a essa
questão epistolar, a grande verdade é que não tem nada demais nisso. Se o
carteiro vai ter que ir na casa do cidadão entregar carta, já aproveita a
viagem e entrega um papelzinho nosso. Que é que tem de mais? Veja bem, ninguém
tá mandando o carteiro nas casas dos brasileiros e brasileiras só pra entregar
a propaganda... Aí sim, seria safadeza.
Muitos analistas
sustentam que o seu know-how no assalto aos cofres públicos vem dos tempos da
ditadura, como assaltante de banco...
No que se refere a esse
mau passo involuntário, eu era contra a ideia desde o começo. Mas fui coagida
por um companheiro, vulgo Bola Sete, a participar. Acabei concordando quando me
afiançaram que eu ficaria só na retaguarda e que o revólver era de espoleta.
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Marcelo Sguassábia é redator publicitário. Blogs: WWW.consoantesreticentes.blogspot.com (Crônicas e Contos) e WWW.letraeme.blogspot.com (portfólio).
Eu gosto de Dilma.
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