quinta-feira, 11 de abril de 2013


O guia turístico

* Por Gustavo do Carmo.

O Maracanã você conhece, né? Quem não conhece o Maracanã?
 — Claro que eu conheço.

 — Pois é. Foi inaugurado em 16 de junho de 1950 para a Copa do Mundo e um mês depois testemunhou uma das maiores tragédias do esporte brasileiro, quando o Brasil perdeu de virada para o Uruguai.

 — (...)

 — Você sabia que antes do estádio existia um hipódromo no seu terreno?

 — Não.

 — Era o Derby Clube.

 — Legal.

 — Aquele ali é o Campus da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Aqui havia uma grande favela, a chamada Favela do Esqueleto. Foi formada pelos operários que construíram o Maracanã. Aí veio o Lacerda e mandou remover tudo para construir a faculdade.

 — Hoje não se pode fazer mais isso, né? Favela rende votos. Por isso que as favelas estão crescendo.

 — Tem razão. Esta é a Rua São Francisco Xavier. Aquele ali é o Colégio Pedro II. Depois, o Colégio Militar.

 (...)

 — Agora estamos passando pela Igreja de São Francisco Xavier e, mais à frente, o Teatro Ziembinski. Sabe quem foi Ziembinski?

 — Já ouvi falar, mas não lembro dele.

 — Foi um grande diretor de teatro. Ator, também. Montou algumas peças do Nelson Rodrigues, como Vestido de Noiva. Ainda atuou em algumas novelas e no cinema. Ele era polonês, tinha uma cara de mama italiana. Fez até papel de mulher por causa disso. Já é falecido há mais de trinta anos.

 — Não lembro.

 — Aqui é o Sindicato dos Escritores do Rio de Janeiro.

 (...)

 — Chegamos à Praça Saens Pena. Aqui nas redondezas existia uma fábrica de chitas. Aí, quando ela fechou, decidiram revitalizá-la. Batizaram a praça com o sobrenome de um presidente argentino. Esta rua passou a ser chamada de Conde de Bonfim, que era o proprietário de todos esses terrenos. Os cinemas começaram a chegar nos anos vinte e três décadas depois esta região já tinha mais cinemas que a Cinelândia, no centro da cidade.

 — É mesmo? Mas eu não estou vendo cinema nenhum.

 — Acabaram-se todos. Mas, pela arquitetura, dá para notar alguns. Onde tem essa farmácia com a fachada vermelha era o América. Nesta igreja evangélica ficava o Carioca. Ainda tinha o Olinda, que foi demolido. Mais à frente, no lugar dessa loja de departamentos havia o Metro Tijuca. Ali atrás, no lugar daquela farmácia de fachada branca, tinha o Café Palheta, um ótimo restaurante, no qual o pessoal lanchava depois de sair do cinema. Os salgados eram ótimos. A lanchonete ainda existe, mas se limita apenas a um balcão dentro da farmácia.

 — Que pena, né?

 (...)

 — Estamos entrando na Rua Haddock Lobo, que foi um vereador muito importante para a cidade. E aqui é o chamado Largo da Segunda-Feira.

 — (...)

 — Sabe por que essa pequena praça tem esse nome?

 — Não.

 — É que aqui foi encontrado o corpo de um homem assassinado misteriosamente em uma segunda-feira e, por isso, passaram a chamar o largo assim.


Meia hora depois, passando pela Rua Maracanã, o grandioso estádio de futebol aparecia novamente no caminho do táxi que levava o turista paulistano. Sem graça, o motorista repetia a informação que dera há uma hora atrás.
 — O Maracanã você conhece, né? Quem não conhece o...

     Ô meu! Já é a quinta vez que você passa por aqui e fala isso. O taxímetro já está marrcando 120 reais. Por que não diga logo que está perrdido e que não sabe me levar para a Barra da Tijuca? Vai ficar me dando volta, meu? Pára no próximo farol que eu vou estar descendo e tomo outro taxi. Toma 50 reais pelas informações turísticas.


* Jornalista e publicitário de formação e escritor de coração. Publicou o romance “Notícias que Marcam” pela Giz Editorial (de São Paulo-SP) e a coletânea “Indecisos - Entre outros contos” pela Editora Multifoco/Selo Redondezas - RJ. Seu  blog, “Tudo cultural” - www.tudocultural.blogspot.com é bastante freqüentado por leitores

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