* Por Antonio Magalhães
A morte de diretor teatral Augusto Boal, aos 78 anos, me fez lembrar um episódio aqui no Recife que o tirou do sério. Ao trazer para a cidade, nos anos 80, o seu Teatro do Oprimido, no qual o público era transformado em autor, Boal teve que enfrentar uma situação muito difícil. Incompreensível para quem o tinha como um artista sujeito a situações inusitadas.
Apresentando seu espetáculo com a participação da platéia na Igreja do Carmo, em Olinda, Boal sugeriu que todos ficassem à vontade para assumir os papéis que mais se aproximassem do seu Eu. O fotógrafo Xirumba, legenda em Olinda e nos meios alternativos, radicalizou a proposta de Boal: tirou toda a roupa e circulou nu pela igreja.
Boal chamou a atenção de Xirumba, talvez com receio dos donos da casa – os padres carmelitas de Olinda. E a partir da contestação abusada de Xirumba ao pedido de Boal, começou uma discussão na platéia sobre liberdades individuais, repressão, essas coisas que encantam os alternativos.
O diretor saiu chateado do evento. Xirumba foi o herói da noite. Foi o homem que perturbou Boal, coisa que nem a ditadura militar conseguiu fazer.
• Jornalista
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