terça-feira, 14 de agosto de 2012

Tratado Manso de Loucura

* Por Flora Figueiredo

Como amo a paz de estar comigo!
Essa minha fusão de alma-umbigo,
esse roteiro quente do meu sangue.
Eu que conheço cada palmo dos meus passos,
que me componho e me descompasso,
que me retenho e me disponho.
Faço dos versos meu avesso,
dos adversos, meu passado,
das alegrias, meu recomeço.
Deito liquefeita e de repente
amanheço solidificada.
Sou água, sou pedra,
às vezes nuvem,
às vezes nada.
E por ser mutante e difusa,
enrolo e desenrolo essa vida
num movimento mágico e confuso.
Me certifico e me desacredito.
E admito ser ou não ser
e ser assim.
Mas como é bom sentir-me tão querida,
tão bem-amada e tão dividida,
eu revolvida inteiramente por mim..

• Poetisa, cronista, compositora e tradutora, autora de “O trem que traz a noite”, “Chão de vento”, “Calçada de verão”, “Limão Rosa”, “Amor a céu aberto” e “Florescência”; rima, ritmo e bom-humor são características da sua poesia. Deixa evidente sua intimidade com o mundo, abraçando o cotidiano com vitalidade e graça - às vezes romântica, às vezes irreverente e turbulenta. Sempre dentro de uma linguagem concisa e simples, plena de sutileza verbal, seus poemas são como um mergulho profundo nas águas da vida.

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