* Por Fábio de Lima
Já dizia um provérbio antigo: um dia da caça, outro do caçador.
Cada pessoa aprende uma profissão na vida. Mas tem umas que parecem já terem nascido sabendo. Eu acredito no dom mesmo. Então, umas são pedreiros outras são médicos, têm os advogados, os mecânicos de automóveis, os professores, os jornalistas; eu aprendi a matar. Minha profissão é a de matador. Também conhecido como justiceiro. Este é o meu trabalho. Ganho dinheiro com isso. Sou bom no que faço. Acredito no dom.
Alice fingiu mais um gozo.
- Que delícia! Você é maravilhoso.
Alice aprendeu há muito tempo que a vida não é uma questão de competência, mas de sorte. Ela vendia o que achava ter de melhor – seu corpo. Era puta e não via problema nisso. Afinal, uns eram pedreiros e outros eram médicos. Era mais ou menos assim que seu amado Joaquim falava e Alice acreditava que trabalho era só mesmo um trabalho – todos eles eram importantes, todos eles eram dignos. Não bastassem esses argumentos, sua profissão era a mais velha do mundo, não era? Era puta sim, e daí?
Então o cara levantou.
- Tenho que ir embora. Quando chegar em casa a mulher vai falar pra caralho.
Depois ele deu uma risada que Alice sentiu nojo. Mas seu trabalho era fingimento e Alice sabia fingir como poucas. Sorriu também.
- Amor, quem é mais gostosa: eu ou sua mulher?
Enquanto falava acariciava os seios com a ponta do dedo e olhava para o cara com o um olhar de gata no cio.
Eu saquei a arma e apontei para a testa. Não! Foi no meio dos olhos dele.
- Não! Por favor?! Pelo amor de Deus!
Até os pilantras lembram de Deus na hora do sufoco. Acho que principalmente os pilantras. O tiro acertou na testa mesmo. O cara caiu para trás com o impacto da bala. Caiu de braços abertos. A última palavra dele foi Deus.
Dia 25 de outubro de 1993, dois rapazes eras assassinados, às 9h15, enquanto ‘passeavam’ pela orla de São Vicente – litoral de São Paulo. Em pouco mais de 48 horas minha vida havia mudado.
Então, foi assim que me tornei diferente. Nem melhor, nem pior. Diferente. Meus olhos ganharam um aspecto sereno. Não sei se dor ou tristeza. Não sei. O fato é que todas as vezes que os olhos de um outro homem encontram os meus, com aspecto de feiúra, e esse cara passa por mim e avança respirando – ele é um felizardo. Ele vive, mas poderia estar morto.
Obs: trechos do livro (em produção) DOCE DESESPERO.
*Jornalista e escritor ou “contador de histórias”, como prefere ser chamado. Atua como repórter freelancer para o jornal Diário do Comércio (SP) e é diretor de programação da Cinetvnet (TV pela WEB). Está escrevendo seu primeiro romance, DOCE DESESPERO.
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