Fracassos regulares
Os
fracassos, assim como os sucessos, são condições normais do jogo
da vida. Quem joga sabe que (óbvio) poderá perder, empatar ou
ganhar. E só. Não há outros resultados intermediários, apenas
estes três. O que não podemos é desanimar face aos insucessos,
quaisquer que sejam, e por causa de um deles (ou de vários, não
importa) deixar de tentar novos empreendimentos, por medo de
fracassar de novo. Devemos fazer com que nossas derrotas sejam
“didáticas”, que nos ensinem alguma coisa e que cresçamos, e
nunca nos sintamos diminuídos, com elas. Difícil? Sem dúvida.
Ellis
Regina emplacou um enorme sucesso com a canção “Aprendendo a
jogar”, composta por Guilherme Arantes, cuja letra diz, logo na
introdução:
“Vivendo
e aprendendo a jogar
vivendo
e aprendendo a jogar
nem
sempre ganhando
nem
sempre perdendo
mas
aprendendo a jogar”.
Não
deixa de ser uma lição de vida, mesmo que amarga.
Raríssimos
são aqueles, por exemplo, que nunca fracassaram no amor. Alguns,
inclusive, fracassam logo de cara, na conquista, por diversos
motivos. Isso pode ocorrer ou porque escolheram a pessoa errada para
amar, que não tem a mínima condição de lhes corresponder; ou por
uma abordagem infeliz quando não desrespeitosa ou por tantas e
tantas e tantas outras razões.
O
mais comum é o fracasso vir no curso do relacionamento. Há quem
ache que o amor seja eterno e nunca acabe. Pura ilusão! Até pode
durar toda uma vida, caso seja preservado. Sábia, porém, é a lição
do “poetinha”, Vinícius de Moraes, que concluiu: “o amor é
terno... enquanto dura”. Poderá, sim, durar a vida toda, se os
parceiros mantiverem o mesmo interesse, atenção e carinho do início
do relacionamento. Caso contrário...
O
amor, se não tratado com os devidos cuidados, esfria, esmorece e,
finalmente, morre. Se a “morte” for recíproca, tudo bem, o
sofrimento é menor. Trágico, no entanto, é quando um dos parceiros
deixa de amar e o outro não. Este último verá, subitamente, o
paraíso transformar-se em inferno..
A
propósito de fracassos e sucessos, uma pergunta se impõe: quem é
mais importante na ordem geral das coisas e do tempo: o que planeja
determinados empreendimentos que beneficiem a coletividade ou o que
os executa? Diria que ambos são necessários. Mas, na escala de
importâncias, se tivermos que optar por algum deles, importa mais,
muito mais, o que faz, do que a pessoa que se limita a planejar.
O
motivo é simples: o planejador, caso não conte com quem execute o
que planejou, verá seus planos irem todos por água abaixo,
restritos ao mero terreno da vontade, quando não da fantasia. A
tendência, todavia, é a de se inverter a premissa e não se
valorizar devidamente o trabalhador.
Poucos
atribuem méritos a quem torna concretas todas as idéias, por mais
complexas e aparentemente impossíveis de serem executadas que sejam.
Esse sim, embora não reconhecido, é que tem verdadeira grandeza.
Aos olhos do mundo, contudo, é um fracassado.
Somos,
muitas vezes, críticos em demasia dos defeitos e comportamentos
alheios, sem atentarmos para o fato de que, não raro, temos as
mesmas deficiências que, tão enfaticamente, condenamos nos outros.
Cobramos, por exemplo, mais solidariedade, todavia, é comum
passarmos indiferentes diante de pessoas carentes, sem dar ouvidos
aos seus apelos, agindo como se passássemos diante de algum objeto
inanimado, de um poste, por exemplo.
Reclamamos,
de forma enfática, quando algum pedido nosso (muitas vezes absurdo e
exagerado) deixa de ser atendido, mas ignoramos os que nos pedem as
coisas mais corriqueiras e triviais, como um gratuito sorriso de
simpatia. Levantamos o dedo acusador contra os ingratos, mas nos
esquecemos de agradecer o tanto que fazem por nós, achando que se
trata de obrigação alheia o ato de nos servir.
O
gênio, o indivíduo considerado excepcional naquilo que faz – nas
artes, na ciência, na filosofia etc.etc.etc. – tem, como principal
característica, o fato de estar à frente do seu tempo. Fracassa,
como todo o mundo, mas sabe extrair lições desses fracassos.
Suas
grandes “ferramentas”, que o distinguem dos demais, são a
intuição e a capacidade ímpar de previsão, de enxergar sempre
mais à frente que as pessoas comuns. Suas ações, porém, não
raro, determinam o futuro da coletividade e, em certos casos, até
da humanidade.
O
curioso é que, via de regra, o gênio é incompreendido pelos
contemporâneos. É tido, na maioria das vezes, como meramente
excêntrico, exótico, quando não maluco. Quase sempre é
reconhecido (quando o é) apenas muitos anos após sua morte. Ele
próprio não se reconhece como tal e manifesta sua genialidade não
por palavras, mas por ideias e ações.
Que
se danem, pois, os fracassos! O que importa é continuar, fazer,
tentar, persistir, mas errando cada vez menos, até que não se erre
mais nada e nunca. Não faz mal que os fracassos sejam regulares,
desde que diminuam progressivamente. Afinal, eles são sinais de que
seguimos persistindo e não entregamos os pontos. Um dia, a vitória
vem. Às vezes minúscula. Às vezes, apenas pequena. Mas, de
repente... Vem uma estrondosa e definitiva vitória e, não raro, a
glória. Pois é: “nem sempre ganhando, nem sempre perdendo, mas
sempre aprendendo a jogar!”, é o que importa.
Boa
leitura!
O
Editor.
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