Surdina
* Por Cecília Meirelles
Quem toca piano sob a chuva,
na tarde turva e despovoada?
De que antiga, límpida música
recebo a lembrança apagada?
Minha vida, numa poltrona
jaz, diante da janela aberta,
vejo árvores, nuvens – e a
longa
rota do tempo, descoberta.
Entre os meus olhos
descansados
e os meus descansados ouvidos,
alguém colhe com dedos calmos
ramos de som, descoloridos.
A chuva interfere na música.
Tocam tão longe! O turvo dia
mistura piano, árvore,
nuvens,
séculos de melancolia...
(Do livro “Obras Poéticas”).
* Poetisa, jornalista,
pintora e professora.
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