Soneto do amor demais
* Por Vinícius de Moraes
Não, já não amo mais os
passarinhos
a quem, triste, contei tanto
segredo
nem amo as flores despertadas
cedo
pelo vento orvalhado dos
caminhos.
Não amo mais as sombras do
arvoredo
em seu suave entardecer de
ninhos
nem amo receber outros
carinhos
e até de amar a vida tenho
medo.
Tenho medo de amar o que de
cada
coisa que der resulte
empobrecida
a paixão do que ser der à
coisa amada
e que não sofra por
desmerecida
aquela que me deu tudo na vida
e que de mim só quer amor –
mais nada.
(Do livro
“Jardim Noturno”, Companhia das Letras, 1993).
*
Poeta,
dramaturgo, jornalista, diplomata, cantor e compositor.
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