Dever de tentar
* Por
Pedro J. Bondaczuk
As maiores conquistas humanas foram
empreendidas por grandes sonhadores. Todavia, esses homens e mulheres notáveis
não se limitaram a sonhar. Agiram, trabalharam, lutaram e perseguiram seus
sonhos, até que eles se concretizassem. Nisso é que se diferenciaram das
pessoas comuns, que também sonham, mas sonhos pequenos, pífios, medíocres, tão
minúsculos que findam por se diluir no ar. Além disso, nada fazem de concreto
para torná-los realidade. Desanimam ao primeiro obstáculo e optam por lamentar
fracassos, que poderiam ser só transitórios, em vez de extrair deles preciosas
lições.
Temos que sonhar, sim, e sonhos
grandiosos. Mas, sobretudo, devemos empenhar os melhores esforços na sua
concretização, mesmo que jamais tenhamos sucesso. Conseguiremos, pelo menos,
construir uma vida exemplar.
Não raro, abrimos mão dos nossos mais
preciosos sonhos, ao concluirmos (ou somente desconfiarmos) que eles são
impossíveis de se concretizar. Ou seja, que são inatingíveis, por serem demasiadamente
altos. Trata-se de um erro. Não há mal algum em ousarmos em nossas pretensões
e, principalmente, em lutarmos com todas as nossas forças e toda a nossa
capacidade para atingir o supostamente (ou apenas imaginariamente) impossível.
Agindo assim, teremos, pelo menos, o
prazer de uma boa luta, o que, certamente, nos engrandecerá. E quais são os
grandes ideais que, desde o princípio da civilização desafiaram e desafiam mais
do que nunca sucessivas gerações e que a humanidade ainda está longe, muito
distante de alcançar?
São, na verdade, vários, cada um mais
complexo e assustador do que o outro. São desafios monumentais para os ousados,
os criativos, os idealistas, os competentes, os verdadeiros líderes, que
comandam multidões apenas com o argumento dos seus exemplos. Um deles, e sem
dúvida o mais complexo e aparentemente irrealizável, é o de convencer o máximo
possível de pessoas (se possível, todos os 7,6 bilhões de habitantes do
Planeta, com sua diversidade de condições sociais, econômicas, políticas, psicológicas,
culturais etc.) a substituírem a brutalidade pela razão.
Com todos os disfarces, criados (e
aperfeiçoados) ao longo de dez mil anos de civilização, o que ainda prevalece
no relacionamento do dia a dia (diria, cada vez mais) – e em todos os níveis de
vida – é a lei da selva. É o mais forte (ou o mais apto) subjugando o mais
fraco (ou mais incapaz). É possível essa transformação? Com a mentalidade
existente hoje, quando estamos convencidos, de antemão, que se trata de causa
sem esperança, a resposta óbvia é: não!!!
O que fazer? Desistir? Fazer de conta
que tudo está bem? Entrar no jogo e procurar ser o mais forte? Entendo que não!
Concordo com John W. Gardner quando afirma que “nosso dever como homens é
tentar”, nos abstraindo do fato da tentativa ter ou não validade, de haver ou
não mínima chance (ínfima que seja) de sucesso. Temos que entrar nessa batalha
com a plena certeza da vitória. Se ela não vier... Paciência! Pelo menos
teremos tentado. Combateremos o bom combate.
Outro desafio gigantesco é o de
substituir a iniqüidade pela justiça. Todos nós, em algum momento de nossas
vidas, em determinadas circunstâncias, nos colocamos na posição de juízes dos
atos alheios (sejam eles quais forem). Sentimo-nos, contudo, injuriados quando
nos reservam o papel de réus. Apesar da evolução do Direito, com o Código de
Hamurabi, a Lei das Doze Tábuas de Roma, os princípios implantados por Sólon na
Grécia Antiga e tantos outros avanços ao longo do tempo, ainda impera a prática
do “dois pesos e duas medidas” (em maior ou menor grau, não importa) mundo
afora. As leis, iníquas em boa parte, beneficiam determinadas camadas sociais e
são sumamente severas com outras. Isso que há no mundo, atualmente, pois, não
passa de caricato arremedo de justiça.
Um terceiro desafio, este até mais
complexo do que os dois anteriores, é o de substituir a ignorância pelo
esclarecimento. Convenhamos que hoje, mais do que nunca, abundam os meios para
encarar essa tarefa. O que falta, no entanto, são líderes que se disponham a
encará-la. Falta vontade dos que poderiam realizar isso, mas que, por
comodismo, receio, egoísmo, ou seja lá porque for, não se dispõem a encarar
esta batalha que reputo a mais meritória de todas. É sublime tirar alguém, não
importa quem, das trevas da ignorância e conduzi-lo à luz da sabedoria!
A responsabilidade maior, óbvio, cabe
aos que foram melhor-dotados pela natureza. Afinal, não há limites para os
gênios quando se propõem a criar o que as pessoas comuns não ousam sequer
pensar. Por isso, são indivíduos especiais, e raros, presentes do céu à
humanidade, para promover seu progresso material e espiritual. Contam com
características ímpares e incrível clarividência.
Por isso conseguem enxergar
“oportunidades” onde a maioria só vê “perigo”. Mas não se limitam a vislumbrar.
Aplicam seu talento inato, com entusiasmo e confiança, nas tarefas a que se
propõem. Operam maravilhas, enriquecendo as artes, a cultura e a ciência. São
fatores imprescindíveis de progresso e bem-estar gerais.
Às vezes, somos dotados de genialidade,
mas, por excesso de modéstia, sequer nos damos conta. A esse propósito,
recorro, mais uma vez, a John W. Gardner – um dos gigantes da espécie na
atualidade, fundador, em 1970, da “Common Cause”, organização popular de
representação política, suprapatidária e sem fins lucrativos, ganhador de uma
das maiores comendas civis dos Estados Unidos, que é a Medalha Presidencial da
Liberdade – que escreveu, em um de seus livros: “Freqüentemente enfrentamos uma
série de grandes oportunidades disfarçadas em problemas insolúveis”.
Quando isso acontece, e não conseguimos
distinguir uma coisa da outra, ocorre um terrível desperdício de talento. Quem
perde não somos, apenas, nós, mas toda a espécie. O compositor alemão, Ludwig
van Beethoven, constatou, certa feita, a esse propósito: “Ainda não se
levantaram as barreiras que digam ao gênio: ‘daqui não passarás’”. E não se
levantaram mesmo! E “nosso dever como homens é tentar”. Sempre!!!!
*
Jornalista, radialista e escritor. Trabalhou na Rádio Educadora de Campinas
(atual Bandeirantes Campinas), em 1981 e 1982. Foi editor do Diário do Povo e
do Correio Popular onde, entre outras funções, foi crítico de arte. Em equipe,
ganhou o Prêmio Esso de 1997, no Correio Popular. Autor dos livros “Por uma
nova utopia” (ensaios políticos) e “Quadros de Natal” (contos), além de “Lance
Fatal” (contos), “Cronos & Narciso” (crônicas), “Antologia” – maio de 1991
a maio de 1996. Publicações da Academia Campinense de Letras nº 49 (edição
comemorativa do 40º aniversário), página 74 e “Antologia” – maio de 1996 a maio
de 2001. Publicações da Academia Campinense de Letras nº 53, página 54. Blog “O
Escrevinhador” – http://pedrobondaczuk.blogspot.com. Twitter:@bondaczuk
Quando a carga da bateria está acabando fica quase impossível avançar, mas, mesmo nessas circunstâncias, soube que ainda se pode render 30% da capacidade inicial.
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