segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Os emparedados


* Por Cida Pedrosa

Silêncio. Todos dormiam e a tarde de agosto era morna. O vento fazia redemoinho no terreiro e surrupiava os panos estendidos no varal feito de arame. A menina olhava para o branco-cal da parede de taipa e fitava com atenção os buracos existentes.

Sobre sua cabeça o barulho hipnótico dos besouros. Aos pés velhas revistas ensebadas pelo tempo. Sentada no chão esperava pacientemente fazendo pequenas bolinhas de papel.

Zummmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmm. Um besouro se aproxima vertiginosamente da parede. Pé ante pé a menina se prepara. O besouro vara o buraco e a menina estanca o barulho com a bolinha de papel.

O besouro vara o buraco e a menina estanca o barulho com a bolinha de papel...  A rede range e o pai levanta. A cama de colchão de palha chia e a mãe levanta. A menina junta as revistas, olha a parede enfeitada com bolinhas coloridas e se cansa da  brincadeira.

* Poetisa e vereadora no Recife



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