segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Me acorda quando o movimento terminar


* Por Alexandre Vicente

Recebi pelo facebook o trailer do filme “Brasil meu amor” da compatriota, radicada em Los Angeles, Débora Reis Totton. É o Brasil visto por brasileiros exilados por motivos diversos. Quando falo em exilados pretendo ser o mais abrangente possível. São várias as razões que nos levam a esta condição de estrangeiro: Política, financeira, amorosa… mas não tenho a intenção de discursar sobre o filme. Seria leviano fazê-lo, pois ainda não assisti. A cineasta garante estar fazendo de tudo para que seu trabalho seja exibido em nossas salas. Torço para que consiga.

O que me fez ponderar – este é um hábito antigo sempre que sou surpreendido por uma metáfora intencional ou não – foi a sentença extraída desta curta apresentação: “Me acorda quando o movimento terminar”.

Não sei em que contexto ocorre esse diálogo e antecipo minhas desculpas à autora, mas passei o dia pensando nesse jeito brasileiro de ser. Queremos mudanças, mas desde que não nos dê trabalho. A obra de Lima Barreto já nos retrata assim. Queremos o favorecimento dos arranjos e que o milagre venha dos céus. Exigimos que os presidentes mudem o Brasil, mas não queremos que mude nossa vida. Não queremos ceder nem um milímetro, pois já cedemos demais. Deixamos a corda correr por muito tempo. Nos roubaram, extorquiram, trapacearam, enganaram… E nós? O que fizemos? Dormimos.

Certa vez estava no metrô da linha 2 e o calor era absurdo. O ar condicionado estava quebrado, o trem todo vedado e com ocupação muito além de sua capacidade. Não suportando mais aquela tortura, uma senhora desceu na primeira plataforma e começou a reclamar com o condutor.

“É um absurdo! Este trem não tem condições de transportar as pessoas!”

Você deve estar imaginando que todos deram razão à mulher. Enganam-se. O que mais se ouviu foram censuras a sua atitude. Sugestões anônimas como: “Tá incomodada?
Pega um táxi” ecoavam da coletividade que insistia em dormir no cantinho quente e fedido que se encontrava.

Prefiro acreditar que vamos despertar e ser mais do que vândalos nas ruas. Vamos protestar com consciência política e exigir direitos cumprindo nossos deveres. Mas diante das recentes pesquisas de intenções de votos para os cargos executivos e legislativos, lhe peço um favor: me acorda quando o movimento terminar.


* Escritor carioca

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