quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Se liga, Brasil!

* Por Fernando Yanmar Narciso

O grande ser humano Nelson Mandela diz que considera o voto uma dádiva. A África do Sul, que por milênios viveu sob asas de reis, é uma das democracias mais jovens do mundo. A cada cinco anos, o velho Madiba anota na cédula quem irá segurar o timão do país. A escolha dele e do resto do povo pode trazer sérias conseqüências ou grandes melhoras à nação. Quase todos os países com regimes democráticos têm esta consciência, principalmente os Estados Unidos. Então, por que esse pensamento não faz parte da agenda brasileira? Somente os mais esclarecidos têm certeza do que estão fazendo a cada dois outubros e usam a cabeça na hora de apertar os botões da urna eletrônica. Já os 99% vão à zona eleitoral como se tivessem tido os tornozelos algemados uns aos outros e viesse um jagunço logo atrás da fila com uma carabina e um cinto de balas.

É de se esperar que um país que ficou longe das urnas por duas décadas tenha interesse nas eleições. Pelo menos assim o foi de 1989, com o retorno da democracia, até 2002, quando o país se reuniu para colocar a faixa presidencial em Lula. Mas nossos estimados políticos não param de nos envergonhar... Nos 10 anos seguintes, depois dos tropeços do PT, o Brasil enfim jogou a toalha. Dos políticos só desejamos distância e que sejam postos atrás das grades. O ativismo político, que costumava ser fervoroso desde a década de 60, agora é motivo de chacota. Experimenta usar uma camisa do PT dentro de um ônibus pra ver o que acontece.

O povão criou nojo do PT, quase tanto como sempre teve de todos os outros partidos. Isso graças à mídia elitista, que mal pode esperar para enforcar cada petista na faixa presidencial e colocar a direita de volta no poder, trazendo de volta os saudosos tempos das reportagens de meninos flagelados da seca do Nordeste comendo espetinho de calango.

Um povo que sequer sabe ao certo o que veio fazer no mundo e crê que sofre mais que a Maria do Bairro “porque assim Deus o quer” devia mesmo manter distância das urnas. Mesmo assim, permitam-me dizer a vocês como poderíamos tentar melhorar o país no quesito da relação políticos/eleitores. Para começar, assim como existem centros de formação de condutores ou auto-escolas, poderiam ser criados centros de formação de eleitores. Eleição é um bagulho sério demais para colocar a responsabilidade na mão de leigos. Num país onde a pessoa se esquece em que deputado ou vereador votou assim que sai da urna, seria muito bem-vindo um curso que ensinasse a serventia de deputados, vereadores, senadores, governadores, prefeitos e presidentes. Outra coisa que devia ser ensinada nestes centros é a famigerada Educação Moral e Cívica, terror dos pimpolhos nos tempos de regime militar. Todos nós precisamos de um norte, um guia nesses tempos onde ética e honestidade tornaram-se sinônimos de babaquice e caretice. Teríamos orgulho de ter estudado nesses lugares, e o título de eleitor seria tão valorizado como um diploma, emoldurado e pendurado na parede.

Como na música e no futebol, política por essas bandas sempre foi um negócio instintivo. Se a pessoa tem vocação, não é preciso ter mais nada. Quer dizer, se até um ex-torneiro mecânico semianalfabeto pôde mudar a cara do país e recuperar a fé no Brasil interna e externamente, quem mais não poderia? Precisamos de uma faculdade de política, o primeiro curso do gênero no mundo, que despeje no país s´so os melhores. Jovens motivados para assumir as cadeiras das raposas velhas, com a cabeça e o coração no lugar certo.

Aqui, votamos nos políticos, não em seus partidos. Noutros países mais sérios, os presidentes são meros porta-vozes dos ideais de seus partidos, não concentram tantos poderes em suas mãos nem tamanho culto à personalidade como no Brasil. Políticos brasileiros trocam de sigla como quem corta as unhas, estão pouco se lascando para os ideais partidários e só o fazem em busca de maior status. Se as pessoas aprendessem a prestar atenção no que lêem e ouvem e se aprofundassem na filosofia dos partidos que apóiam, talvez não houvesse tantos tiros no pé e arrependimentos terríveis nos quatro anos seguintes à eleição.

Políticos em campanha de reeleição são feras perigosas. Em minha opinião a idéia da reeleição é, simplesmente, ruim. Políticos que já estão ocupando seus cargos só aceitam enfrentar campanhas de reeleição para afagar os próprios egos. Se eles já não conseguiram fazer o que se propuseram a fazer em quatro anos, por que haveriam de conseguir em mais quatro? Aqui no Brasil, os mandatos deveriam ser de no máximo seis anos e sem possibilidade de futuras candidaturas.

Utopias, utopias... Um homem indignado tem o direito de sonhar, não é verdade? Mas, enquanto nada disso acontece (obviamente, jamais acontecerá), que continuemos mantendo essa distância “segura” de nossos mandatários. Mas, por via das dúvidas, é melhor colocar um cadeado na minha carteira.

*Designer e escritor. Site: HTTP://terradeexcluidos.blogspot.com.br

2 comentários:

  1. A confusão do eleitor, é sua também. Noto que considera alguns feitos de Lula e do PT como coisas boas, mas ainda assim por dentro os critica, devido ao mensalão. Falar mal dos políticos é natural. Quero ver um texto original falando bem. Por exemplo: O que seria de nós sem os políticos?

    ResponderExcluir
  2. Errata: A confusão do eleitor é sua também.

    ResponderExcluir