Por dentro das nossas
tradições
O
brasileiro (salvo raríssimas exceções) não conhece o Brasil, por
isso não se entende, não entende as motivações e o modo de agir
de seus coirmãos e tem uma visão negativa e errada deste País que
lhe serviu de berço e lhe servirá de tumba.
Não
se trata, porém, de nenhuma pobreza cultural. Muito pelo contrário.
Nossa cultura é tão rica, tão vasta, tão caudalosa e variada e
nossas tradições são tantas, que seria necessária constante
divulgação de tudo o que de bom, em termos de cultura em seu
sentido lato, se produz por aqui.
Não
conhecemos, por exemplo, sequer o folclore das regiões em que
vivemos, quanto mais o da Amazônia, ou o do Nordeste, ou o do
Centro-Oeste ou o do Sul. Nesse aspecto, os responsáveis pela nossa
educação cometem pecado mortal.
Há
anos defendo a inclusão no currículo escolar, do pré-primário à
universidade, da disciplina “Folclore Brasileiro”. Ensinam-nos
tanta baboseira inútil, o tal do conhecimento de algibeira,
enciclopédico, de almanaque, esse que, atualmente, com uma simples
consulta ao “Google” temos ao nosso dispor na hora em que
quisermos, e não falam nada, absolutamente nada da essência da alma
do nosso povo, das nossas lendas, danças, simpatias, comidas,
tradições, festas populares etc.etc.etc. Literalmente,
desconhecemos o Brasil.
Para
nós, escritores, isso chega a ser trágico. Tenho lido livros até
que muito bons, notadamente romances, contos e novelas, mas com erros
crassos quando o escritor do Sul, por exemplo, quer retratar o
nordestino (ou vice-versa), dando-lhe um mínimo de verossimilhança.
Nestes casos, é necessária muita pesquisa antes de começar a
escrever e, claro, é preciso visitar o lugar que se quer abordar, e
passar certo tempo ali, conversando com pessoas de todas as classes
sociais, para saber o que pensam, cultuam e produzem etc.
Mas,
cá pra nós, não se pode falar de folclore sem recorrer a essa
figura maiúscula que foi o historiador, folclorista, antropólogo e
jornalista potiguar, Luís da Câmara Cascudo. Quanto este
intelectual já me serviu, serve e certamente servirá! Sempre que
precisei de alguma informação sobre cultura brasileira (mas aquela
em sentido lato, reitero), encontrei em sua profusão de livros.
Pudera! Publicou mais de setenta, abordando praticamente todos os
aspectos do brasileiro, inclusive (ou principalmente) seu linguajar,
suas danças típicas, seus trajes, sua culinária etc.
Entre
seus livros, o que mais consulto, obviamente, é esta maravilha de
“Dicionário do Folclore Brasileiro”. Não gosto de destacar
nenhuma obra em especial, da produção de algum escritor, por
entender que todas têm seu valor (se não tivessem, não seriam
escritas e muito menos publicadas).
Mas
relacionar as cerca de setenta e três, de Luís da Câmara Cascudo,
mais confundiria, do que esclareceria, o leitor. Ainda assim, cito
algumas que li, como “O homem americano e seus temas” (1933),
“Viajando o sertão” (1934), “Vaqueiros e cantadores” (1984),
“Antologia do Folclore brasileiro” (1944), “Lendas brasileiras”
(1945), “Contos tradicionais do Brasil” (1946) e “Geografia dos
mitos brasileiros” (1947).
Sentiram
quanta variedade de temas nosso maior folclorista abordou? E estes
livros que citei são meras gotas d’água em um oceano de cultura,
tradições e manifestações artísticas do nosso povo, que Cascudo
observou e transcreveu com tanta fidelidade e abrangência.
O
Brasil, em relação a outros povos, é um país bastante jovem. Foi
descoberto pelos europeus há somente 518 anos, um quase nada, um
verdadeiro “ontem” em relação, por exemplo, à China, à Índia,
à Grécia, a Roma e à maioria dos europeus.
Se
não me falha a memória, nossa colonização começou, somente, em
1532 com Martim Afonso de Souza que, em 22 de janeiro daquele ano
fundou São Vicente, no litoral paulista, a primeira cidade do
Brasil. Somos independentes há 196 anos (completados, apenas, em 7
de setembro passado).
Mas
recebemos gente do mundo todo, que se mistura com a nossa gente,
incorporando, dessa forma, costumes, tradições, folclore e cultura
de todos os povos, mas modificados, com acréscimos todos nossos, que
os valorizam sobremaneira.
Quanta
riqueza cultural, portanto, há no Brasil! E, no entanto... quase não
é conhecida por nós. Precisamos, portanto, ou não precisamos,
transmitir todo esse acervo às jovens gerações, para que não
venha a se perder? Não estou certo, pois, em afirmar, que o
brasileiro não conhece (mas de verdade e a fundo) o Brasil, e por
isso não o entende e pouco o valoriza? É questão de lógica! Leiam
os livros de Luís da Câmara Cascudo e concluam o quão pouco
conhecemos da alma do nosso próprio povo.
Boa
leitura!
O
Editor.
Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk
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