quarta-feira, 19 de julho de 2017

O dissidente chinês


* Por Emanuel Medeiros Vieira


Para todos os dissidentes políticos do mundo


A notícia parece que ficou “escondida” –, quase passou em branco.
Mas queria fazer um registro.

O que vou dizer no parágrafo abaixo poderá parecer solene e facilitário.

Meu coração sempre esteve ao lado dos perseguidos e humilhados – na esfera política–, como os perseguidos da ditadura brasileira (o signatário foi um deles...), e os presos, torturados e mortos das ditaduras do Cone Sul etc.

Resumindo: o dissidente chinês Liu Xiaobo , vencedor do Prêmio Nobel da Paz em outubro de 2010, morreu no dia 13 de julho deste ano, aos 61 anos, no Hospital em que estava internado, no norte da China, na cidade de Shenyang. Ele estava tratando de um câncer terminal no fígado e havia sido transferido da prisão há um mês.

Na véspera de sua morte, o hospital informou que o paciente “estava em insuficiência respiratória” e havia sofrido falência múltipla dos órgãos.

Em 2009, o ativista foi condenado a 11 anos de prisão, acusado de “subversão (também nós, após o golpe de 64, éramos chamados de “subversivos” – sem querer comparar o sofrimento do dissidente chinês com o nosso – porque queríamos democracia no Brasil), após reivindicar reformas democráticas na China.

No início de junho, Liu recebera liberdade condicional para tratar-se do câncer.

Depois disso, segundo informes da imprensa , o dissidente recebia tratamento sob guarda policial em um hospital no nordeste chinês.

(Tratar de um câncer, mesmo sem perseguição política, com todos os cuidados, já é difícil e complicado) Imaginemos (todo nós) como deve ser um tratamento com escolta policial.

O que dizer mais? O texto está frio ou “serve à Direita”? Seria verdadeiramente “comunista” um regime que persegue os seus dissidentes e que admite o trabalho escravo?

Claro que não. Todos sabem que lá reina o “capitalismo de Estado”.

Para o Comitê do Prêmio Nobel da Paz, o governo chinês tem uma pesada responsabilidade na morte de Liu Xiabo, pelo fato de “ele não ter recebido tratamento adequado por um longo período”.

Só gostaria que, depois de tanto sofrimento, o dissidente chinês, cujo nome era Liu Xiabo, possa descansar em paz, e que sua morte possa lembrar – a todos nós – que nenhum homem é uma ilha, como escreveu John Donne.
E estamos no século XXI.

Eu sei: na tecnologia, melhoramos. E no resto? Se combatemos o fascismo, o macarthismo, as ditaduras que existiram na América Latina e em outros países, não podemos nos calar.

A Morte do Humano é a derrota da Civilização e da democracia como valor universal.


(Salvador, julho de 2017)


* Romancista, contista, novelista e poeta catarinense, residente em Brasília, autor de livros como “Olhos azuis – ao sul do efêmero”, “Cerrado desterro”, “Meus mortos caminham comigo nos domingos de verão”, “Metônia” e “O homem que não amava simpósios”, entre outros.



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