sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

Tudo é desafio


A vida é bela, e fascinante, e misteriosa, por se tratar de um desafio, de um permanente processo de renovação, embora, paradoxalmente, envelheçamos a cada dia que passa. É como um rio, cujas águas são sempre diferentes. A sobrevivência humana, quer no âmbito individual, quer no coletivo, sofre, constantemente, ameaças de toda a sorte, que vão desde as decisões dos líderes políticos no que se refere à guerra ou à paz, até a possibilidade (sempre presente) de que uma catástrofe cósmica venha a destruir este pequeno e insólito planeta azul do Sistema Solar.

O que é a vida? É, sobretudo, mistério. É muito mais do que meros conjuntos de aminoácidos combinando para formar proteínas componentes de células, tecidos, órgãos, estruturas completas. Há algo impalpável que anatomista algum, nenhum cientista, por mais perito que seja, conseguiu isolar, separar, dissecar e reproduzir em laboratório, posto que é imaterial. É impossível saber se ela existe em outros planetas, dos “zilhões” que há no universo, embora a intuição nos induza a achar que sim. Mas, se houver, será que há, alhures, tanta abundância de espécies como há na Terra, que ascende a vários bilhões (quantidade jamais apurada com exatidão, tamanha que é).

Nossa vida, a do Homo Sapiens, que é a que, ao fim e ao cabo importa, é curta, curtíssima; é breve, brevíssima; é como um raio, um quase imperceptível lampejo de luz, entre duas eternidades de trevas, embora mais extensa do que a da maioria das espécies.. Pode ser comparada a uma ligeira observação inserida entre dois parênteses numa determinada sentença. Se pertinente ou não, se valiosa ou inútil, se explicativa ou obscura, dependerá só de nós.

Dependerá dos valores que cultivarmos, dos pensamentos e obras que criarmos e, sobretudo, de nossas ações. Por mais que se queira, não há como fugir dessa incômoda realidade. Se quisermos viver com dignidade e utilidade, temos que preencher este brevíssimo intervalo do texto da nossa existência com atos e fatos e feitos de grandeza e de amor. É só o que podemos e o que nos compete fazer.

O ser humano, todavia, no relativamente curto tempo que a espécie existe, ainda não aprendeu a valorizar a vida, nem mesmo a sua, quanto mais a das demais criaturas, animais e/ou vegetais. Ela, no entanto, é privilégio, metáfora, milagre. Ao longo da história, as pessoas entregaram-se (e ainda se entregam), invariavelmente, à perversa cultura da morte.

Hoje em dia, por exemplo, filmes, romances, novelas e peças teatrais apresentam cenas em que determinados personagens matam outros com a maior naturalidade, com absoluta sem cerimônia, como se fosse ato banal e corriqueiro. Evidentemente, não é. O pior é que as crianças crescem sob essa estúpida cultura da morte, que lhes é incutida a pretexto de se tratar de “arte”.

Mas a vida é sagrada, posto que (supostamente) rara na vastidão universal. Sua preservação e valorização deveriam ser enfatizadas, sempre, cotidiana e incansavelmente, às crianças (e aos adultos infantilizados), e não essa estúpida e absurda cultura da morte que lhes é impingida, não raro subliminarmente.

O homem convive com mistérios, alimenta-se deles, é um mistério... Tenta explicar (em vão) tudo, desde o maior dos enigmas, que é o da natureza e finalidade da sua vida, a detalhes corriqueiros do cotidiano, aos quais dá interpretações pessoais, mais ou menos lógicas de acordo com seu preparo intelectual, mas ainda assim empíricas, na base de tentativas e erros, sujeitas, portanto, a mudanças, ao sabor dos acontecimentos.

Temos que construir nossa personalidade. Precisamos compor nossa biografia com atos e fatos, com obras e idéias, com paixão e emoção. Admiramos heróis e santos do passado, de épocas bastante remotas, que entendemos tenham sido gloriosas e inesquecíveis. Porém, não raro, nos sentimos diminuídos face à grandeza desses mitos da espécie. Tolice!

Todos nós temos, adormecidas, as características que levaram esses gigantes humanos às grandes realizações. Basta, apenas, que as identifiquemos e desenvolvamos. Nosso potencial é grandioso e não ficamos devendo nada a ninguém, seja de que época for.

Mas, para agir como esses heróis e santos, que tanto reverenciamos (com justiça), teremos que agir como eles e, se possível, superá-los. Ou seja, devemos ser desprendidos, abnegados, solidários, altruístas e corajosos. Temos que ser construtivos e justificar nossa passagem pelo mundo. Por isso, tudo o que pensamos ou fazemos é desafio.

A palavra “viver” justifica, plenamente, sua condição de verbo. Caracteriza “ação” e não apenas uma e única, mas inúmeras, em quantidade quase infinita. Traz, implícita, dezenas de outros verbos vinculados, como amar, sofrer, sorrir, chorar, lutar, vencer e tantos e tantos outros. Um deles, porém, deveria ser sumariamente eliminado: matar.

Há, todavia, pessoas que virtualmente não vivem, mas se limitam a “existir”. Fogem dos sentimentos, economizam ações e se julgam merecedoras apenas de vantagens e de proteção, sem que façam nada para justificar esse suposto merecimento.

Nosso maior desafio, porém, entre os virtualmente infinitos que a vida nos impõe, é o de viver, plenamente, com alegria, otimismo, confiança e bom humor. Não tenhamos nunca medo de nos expor ao que possa, eventualmente, nos ferir ou magoar. Não nos conformemos a meramente existir, como as pedras, as águas, os abismos e os montes. Sejamos, sobretudo, humanos, em toda a plenitude que essa nobilíssima condição sugere.

Boa leitura!

O Editor.

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Um comentário:

  1. Os veganos não sentem que matam quando comem um vegetal, e para eles, apenas os animais (leite, ovo, mel) não devem ser comidos. No caso, a nossa sobrevivência depende do verbo matar. Está bem, entendi que sua defesa é não matar o semelhante, mas ainda assim o verbo matar não poderá ser suprimido.

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