segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

A vida uma aventura


* Por Ana Suzuki


Não sei se consigo encarar a vida com otimismo. E tampouco com pessimismo. Viver é uma aventura, e numa aventura o que se pode esperar inclui o inesperado.

Lembro-me de quando vim morar em Campinas, há décadas. Eu morava no fim da rua e tinha que caminhar até o ponto do ônibus. Na área a percorrer havia apenas um terreno baldio, onde pastavam algumas cabras.

Como é que eu podia adivinhar que um dia, naquele exato local, seria construído um prédio de apartamentos, que eu iria casar-me com um japonês e morar no segundo andar? Como, se ainda não havia o prédio e eu nem conhecia o japonês?

E assim tem sido sempre - um suceder de fatos inesperados.

Há alguns anos, estava eu limpando camarões para comemorar o meu aniversário, quando, de repente comecei a sentir enjôo. Como é que eu ia pensar que a náusea era o prenúncio de um infarto, se camarões grandes têm tripas nojentas mesmo?

E depois, na Unidade de Tratamento Intensivo, sabendo que em minha família nunca ninguém havia escapado de um infarto, como eu ia saber que dali a cinco dias estaria em casa, comemorando com atraso o meu aniversário e comendo aqueles mesmos camarões, que eu tivera tempo de deixar limpinhos e congelados?

A vida, por rotineira que seja, é sempre uma aventura.


* Escritora e acadêmica da Academia Campinense de Letras.

Nenhum comentário:

Postar um comentário