terça-feira, 12 de janeiro de 2016

“O rio, a lama e a dor”, sobre o desastre em Mariana (MG)


* Por Emanuel Medeiros Vieira


O Rio? É doce.
A Vale? Amarga.

Ai, antes fosse
Mais leve a carga (…)
(Carlos Drummond de Andrade, “Lira Itabirana”)


O que dizer? Tudo, praticamente, já foi escrito sobre o maior desastre ambiental da história do Brasil, dizimando vidas, destruindo tudo o que havia. Em nome do “progresso”. Prefiro que todos reflitam.

Que modelo almejamos? A natureza é para o homem. E dia a dia, vamos destruindo o todo o que há pela frente. O planeta no qual vivemos é transformado num apocalipse de lama, morte e destruição.
Enquanto isso, muitos se preocupam em apenas TER e comprar, elegendo o hiperindividualismo como modelo de vida. E segue a vida. E o rio com os seus dejetos entrando no mar.

E toda esta lama – eu sei, a comparação facilitaria – é também metafórica. Reflete a lama deste Brasil, num intenso processo de degradação e de destruição de valores. O rastro da lama é o rastro da desilusão.

O rastro da lama é das ilusões perdidas, dos sonhos de nossa juventude: de um país mais decente e mais justo. Enquanto isso, massacram-se pelo poder. Esquecem-se tais “nobres” figuras, que logo passarão, deixando apenas o rastro da lama e da ignomínia. Sim, Drummond: antes fosse mais leve a carga.

* Romancista, contista, novelista e poeta catarinense, residente em Brasília, autor de livros como “Olhos azuis – ao sul do efêmero”, “Cerrado desterro”, “Meus mortos caminham comigo nos domingos de verão”, “Metônia” e “O homem que não amava simpósios”, entre outros. 



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