“O
rio, a lama e a dor”, sobre o desastre em Mariana (MG)
* Por
Emanuel Medeiros Vieira
O
Rio? É doce.
A
Vale? Amarga.
Ai,
antes fosse
Mais
leve a carga (…)
(Carlos
Drummond de Andrade, “Lira Itabirana”)
O que dizer? Tudo, praticamente, já
foi escrito sobre o maior desastre ambiental da história do Brasil, dizimando
vidas, destruindo tudo o que havia. Em nome do “progresso”. Prefiro que todos
reflitam.
Que modelo almejamos? A
natureza é para o homem. E dia a dia, vamos destruindo o todo o que há pela
frente. O planeta no qual vivemos é transformado num apocalipse de lama, morte
e destruição.
Enquanto isso, muitos
se preocupam em apenas TER e comprar, elegendo o hiperindividualismo como
modelo de vida. E segue a vida. E o rio com os seus dejetos entrando no mar.
E toda esta lama – eu
sei, a comparação facilitaria – é também metafórica. Reflete a lama deste
Brasil, num intenso processo de degradação e de destruição de valores. O rastro
da lama é o rastro da desilusão.
O rastro da lama é das
ilusões perdidas, dos sonhos de nossa juventude: de um país mais decente e mais
justo. Enquanto isso, massacram-se pelo poder. Esquecem-se tais “nobres”
figuras, que logo passarão, deixando apenas o rastro da lama e da ignomínia. Sim,
Drummond: antes fosse mais leve a carga.
* Romancista, contista, novelista e
poeta catarinense, residente em Brasília, autor de livros como “Olhos azuis –
ao sul do efêmero”, “Cerrado desterro”, “Meus mortos caminham comigo nos
domingos de verão”, “Metônia” e “O homem que não amava simpósios”, entre
outros.
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