Dilema decisivo para nossa geração
A atual geração da humanidade vive, nesta segunda década do
século XXI do terceiro milênio da Era Cristã, um dilema decisivo, como nenhuma
outra que a antecedeu jamais viveu. Se nenhum cataclismo cósmico se abater
sobre a Terra, está, exclusivamente, em suas mãos, na clarividência e sabedoria
das decisões que seus líderes tomarem, um desses dois caminhos para o ser humano:
uma vida maravilhosa, de justiça e paz, facilitada por feitos extraordinários
da ciência e da tecnologia, de duração ilimitada e quase eterna, ou a extinção
da espécie, sem que reste um único homem para reiniciar do zero nossa
experiência no Planeta. Exagero meu? Longe disso! Antes fosse. A quem achar que
estou exagerando, recomendo a leitura de matéria publicada na edição deste 19
de janeiro de 2016 no jornal “O Globo”, sobre recente palestra proferida pelo
físico inglês Stephen Hawking, em Londres, a convite da rede BBC.
O tema da preleção não foi, propriamente, o dilema referente
ao destino da humanidade. Foi o assunto que é uma das especialidades desse
reconhecido gênio da atualidade: os buracos negros. Todavia, à certa altura da
palestra, em resposta a uma pergunta formulada por alguém da platéia, conforme
a matéria de “O Globo”, Stephen Hawking advertiu: “É quase certo que a
humanidade não terá outra saída senão abandonar a Terra e colonizar outro
planeta se quiser sobreviver”. Ao contrário do que possa parecer, o físico
mostrou-se não pessimista e nem catastrofista, mas sumamente otimista.
Estranharam? O “quase” de certeza que ele colocou em sua resposta quer dizer
que o homem ainda “pode” evitar sua extinção, caso adote providências
inteligentes, adequadas e urgentes. Outra manifestação de seu otimismo é o
prazo que ele impôs para que o dilema seja resolvido: entre mil e dez mil anos.
Eu, todavia, não sou tão otimismo. Até concordo que o fim da
nossa espécie pode ser evitado – e isso se não ocorrer nenhuma catástrofe
cósmica, como a colisão com um asteróide ou cometa, os “humores” do nosso Sol e
outros tantos perigos externos – mas desde que se aja já, se possível hoje
mesmo, para corrigir tudo o que se vem fazendo de errado. E quais são esses
perigos iminentes, criados pelo próprio ser humano? São aqueles que toda pessoa
bem informada conhece de sobejo, mas que não mexe uma única palha no sentido de
urgentíssima correção: o galopante aquecimento global, uma guerra nuclear e os
vírus desenvolvidos pela engenharia genética que, se iniciarem uma pandemia
mundial, tendem a nos destruir a todos. O cientista enfatizou que o progresso
na ciência e na tecnologia criou, e ainda tende a criar muito mais, “novas
formas das coisas darem errado”.
Stephen Hawking não foi o único homem de ciência a fazer esse
tipo de alerta. Há décadas, o eminente biólogo e escritor Isaac Asimov publicou
um livro, com o sugestivo título de “Escolha a catástrofe” – que comentei
detalhadamente neste espaço – citando nove situações, internas e externas, que
se ocorrerem acabarão com a vida na Terra. Ele igualmente foi otimista, dando a
entender que confiava na capacidade do homem de se proteger e salvaguardar a
sobrevivência da espécie. Mas apontou, muito antes do físico inglês, o mesmo
dilema. Ou seja, que o destino da espécie (salvo algum cataclismo cósmico,
sempre possível, reitero mais uma vez) está, ainda, em mãos humanas. Mas... Até
quando?
Hawking fez a seguinte ponderação: “Apesar de a
possibilidade de um desastre no planeta Terra, em um determinado ano, poder ser
bem baixa, isto vai se acumulando com o tempo, e se transforma em quase uma
certeza para os próximos mil ou dez mil anos. Até lá já deveremos ter nos
espalhado pelo espaço e para outras estrelas. Então um desastre na Terra não
significaria o fim da espécie humana”. Será que não?! O próprio físico admitiu:
“Não vamos conseguir estabelecer colônias autossustentáveis no espaço nos
próximos séculos. Então temos que ser muito cuidadosos neste período”. Mas
estamos sendo? Há o mínimo de prudência em relação ao meio ambiente? O que está
sendo feito para deter o galopante aquecimento global? A resposta é fácil,
objetiva e direta: Nada! Absolutamente nada!
Segue-se poluindo o ar e a água, como se o homem pudesse
escapar impune dessa sua burrice. Florestas e mais florestas desaparecem, da
noite para o dia, muitas vezes apenas para criar pastos ou nem mesmo isso. O
pior é que muita gente rica e poderosa acha isso normal e defende que nada vai
acontecer de ruim. Grandes lobbies nos Estados Unidos e na Europa garantem, com
olímpico cinismo, que o aquecimento global só existe na cabeça dos
catastrofistas. E como são os que detêm o poder, ninguém toma nenhuma providência.
Acha-se normal poluir ó ar e a água, cansar a terra com práticas inadequadas de
agricultura, devastar as florestas ainda remanescentes e cometer tantas e
tantas e tantas outras, e estúpidas, agressões à natureza.
Stephen Hawking não se opõe, óbvio, às miraculosas façanhas
da tecnologia. Disse, à certa altura, na resposta dada à pergunta feita por um
ouvinte da platéia: “Não vamos parar de progredir, ou reverter o progresso. Então
temos que reconhecer o perigo e controlá-lo. Sou otimista e acredito que
conseguiremos”. Insisto, todavia, que meu otimismo não chega a tanto. Aliás,
não tenho nenhum. Estou, isto sim, apavorado com a indiferença dos que deveriam
tomar providências para eliminar esses riscos, cuja eliminação depende, ainda,
do homem, mas que não movem uma única palha. Numa coisa concordo, sem a mínima
restrição, com o que esse gênio do século XXI disse em sua palestra. É com esta
afirmação: “Do meu ponto de vista, tem sido uma época gloriosa para estar vivo
e pesquisando na área de física teórica. Não há nada como aquele momento
Eureka, da descoberta de algo que ninguém sabia antes”. Em termos de ciência,
não há o que contestar. Vivemos, de fato, nesse aspecto, “uma época gloriosa”!!!
Mas no que se refere à prudência... Nunca o homem mereceu tanto a designação,
cunhada por Edgar Morin, de “homo demens” substituindo a designação da espécie
de “homo sapiens”, como agora.
Boa leitura.
O Editor.
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