Do Outono e do silêncio
* Por
Álvaro Moreyra
Ah! como eu sinto o
Outono
nesses crepúsculos
dispersos,
de solidão e de
abandono...
nessas nuvens
longínquas, agoureiras,
que têm a cor que um
dia houve em meus versos
e nas tuas olheiras...
Tomba uma sombra roxa
sobre a Terra...
A mesma nuança, em
torno, tudo encerra
nuns tons fanados de
ametista...
Paisagem morta,
evocativa, doce...
como se o Ocaso fosse
um pintor
simbolista...
Caem violetas...
Canta uma voz,
distante...
E a luz vai a fugir,
esfacelando
em trêmulas silhuetas
os troncos da alameda
agonizante...
O Outono é uma elegia
que as folhas plangem,
pelo vento, em bando...
E o Outono me endolara
e anestesia
com a saudade remota
do silêncio...
Silêncio vesperal das
ressonâncias
esquecidas
que o Ângelus lento
deixa sempre no ar...
Silêncio
irmão das covas, das
ermidas...
incenso das
distâncias...
onde a memória fica a
ouvir perdidas
palavras que morreram
sem falar...
E do silêncio em
névoas esgarçado,
a cuja extrema
sugestão me abrigo,
tu te evolas, dolente,
tal uma hora feliz de
tempo alado
que às vezes brota de
repente
de um velho aroma ou
de acorde antigo...
(Legenda da luz e da
vida, 1911.)
*
Poeta, cronista e jornalista, membro da Academia Brasileira de Letras.
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