segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

A linha do Equador

* Por Emir Sader.


O Equador só existia para nós numa pergunta reiterada nas provas de geografia na escola: “Quais os únicos dois países da América do Sul que não têm fronteira com o Brasil?” Estavam tão distantes, eram tão insignificantes que nem fronteira tinham conosco – um país continente. Do Chile até que nos chegava uma ou outra notícia, pelo menos o Colo-Colo, o time de futebol, não o cacique mapuche que deu o nome à equipe.


Do Equador apenas a linha, parecia que era um país que só existia em função da linha do Equador, assim como o Panamá foi desmembrado da Colômbia pelos Estados Unidos apenas para ter um canal. Um corredor equatoriano – Rolando Vera – ganhou 4 vezes consecutivas a São Silvestre – de 1986 a 1989 –, mas não foi suficiente para que se passasse a falar do seu país por aqui.

De repente a América Latina começou a se reivindicar e a reivindicar seu lugar na história. Países dos quais não conhecíamos quase nada, como a Venezuela, a Bolívia, o Equador, começaram a se projetar através das suas novas lideranças. Foi assim que Rafael Correa passou a ser conhecido entre nós, junto com Hugo Chávez, Evo Morales e outros mais.

Mas quem é Rafael Correa? Como foi que um economista universitário chegou a ser Presidente do seu país e se projetou como o líder político mais importante da sua história?

Rafael Correa fez pós-graduação de economia na Bélgica, com François Houtart, com quem compartilha a formação católica. Voltou para o Equador e pôde participar das lutas do povo que derrubou a cinco governos neoliberais em cinco anos. Chegou a participar brevemente num desses governos, antes que se revelasse ele também neoliberal.

Quando os movimentos populares equatorianos se cansaram de eleger candidatos dos partidos tradicionais e decidiram disputar a direção política da sociedade, escolheram Rafael Correa para representá-los.

Em 2007, quando Hugo Chávez, Lula, Nestor Kirchner, Tabaré Vázquez, Evo Morales já governavam seus países, Rafael Correa se somou a eles. Declarou, naquele momento, que o Equador saía da “longa noite neoliberal” e começava a transitar não apenas para uma época de mudança, mas para uma mudança de época.

Assim Rafael Correa se pôs a dirigir seu povo no caminho da superação da longa noite do neoliberalismo. O Equador passou a ser um dos países que mais avançou nessa direção. Refundou seu Estado, estendeu e garantiu direitos às grandes maiorias antes postergadas, modernizou o país, a começar pelas estradas, promoveu um modelo de desenvolvimento com distribuição de renda e com proteção ambiental, conseguindo sempre manter um alto nível de aprovação da população.

O livro de Rafael Correa que a Boitempo acaba de publicar, com textos de análise do Equador, que ele foi escrevendo ao longo da sua trajetória, especialmente no período de resistência ao neoliberalismo, demonstra suas qualidades como economista e como analista político. Que faz com que ele represente, junto com Álvaro García Linera, um novo fenômeno na América Latina: intelectuais que assumem responsabilidades de direção política de governos.


* Sociólogo e cientista político

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