Vantagens e riscos da comunicação
A comunicação é essencial para uma vida em comunidade que
seja segura, produtiva e minimamente civilizada. Imaginem como seríamos caso
fôssemos impossibilitados de nos comunicar. O homem é o único animal da
natureza que desenvolveu meios para tal. Aprendeu como transmitir o que sente,
o que quer e o que pensa. E não somente isso. Também (e principalmente)
comunica o que aprende a terceiros, para que esse aprendizado não se perca,
para que estes aprendam também e que, por sua vez ensinem a outros, em processo
interminável e evolutivo. É o que chamo de “círculo-virtuoso” do conhecimento. Esta é a maior característica da inteligência
humana. O homem não só entende onde está e tudo o que o cerca, mas comunica aos
semelhantes esse entendimento. É por acreditar na importância e na eficácia da
comunicação que fiz dessa atividade opção de vida.
Para comunicarem-se, os homens desenvolveram um sistema de
símbolos – primeiro sonoros e, posteriormente gráficos – para que pudéssemos
dar conta do que pensamos, sentimos, queremos (ou repudiamos, quando o caso)
etc.etc.etc. É o que conhecemos como “palavra”. Quando menciono comunicação, não
me refiro, somente, à das mídias impressa e eletrônica, por exemplo, fenômeno
relativamente recente, de uns três ou quatro séculos, se tanto que, todavia,
por suas características, é impessoal, embora importantíssima. Refiro-me,
sobretudo, à conversa, cara a cara, entre pessoas com experiências e informações
a permutar e que de fato as permutam. Esse tipo de comunicação, que estava a
pique de desaparecer, está sendo relativamente recuperado, com o advento das
redes sociais.
É certo que estas têm, ainda, muitas falhas e são utilizadas
de forma imprópria e inconveniente por várias e várias pessoas. A falha não
está no veículo, mas em quem o utiliza inadequadamente. Por isso, a tendência
geral é a de achar que as redes sociais estão longe de reproduzir uma boa
conversa, a coloquial e do olho no olho. Bem, pelo menos é melhor do que a
ausência completa de contato com dezenas, centenas, quiçá com milhares de
pessoas que não sejam nem de nosso círculo familiar e nem do âmbito do
trabalho, escola etc. com as quais somos induzidos a nos comunicar com certa
frequência.
O que noto nesses contatos todos é a prevalência do
negativo. Aliás, nesse aspecto, as redes sociais são uma cópia, e muito mal
feita, do comportamento da imprensa formal. Esta confere espaço desmedido e
ilimitado a bandidos violentos, a políticos corruptos e a indivíduos egoístas e
maldosos, entre outros, enquanto os bons, os construtivos, os solidários e
idealistas são ignorados, ou quase. Não defendo, óbvio, a alienação. Mas a
lógica diz que deveria haver uma divisão inteligente e justa entre as
informações negativas, de coisas ruins que realmente acontecem e devem ser
informadas, para nos prevenirmos contra elas e as boas, que são tantas, mas que
parecem serem ínfimas, pois poucos tomam conhecimento delas.
Tentarei explicar. Uma propaganda (muito bem feita, por
sinal) para uma vida de melhor qualidade, que foi veiculada pela televisão, se
não me engano em 2002, foi a do Açúcar União. O anúncio dava uma “receita”
inteligente e bem-humorada para se viver 200 anos. Claro que tamanha
longevidade é exagerada. Mas que vai melhorar a “qualidade de vida” de quem a
adotar, disso não resta dúvida. Entre as recomendações do anúncio estão, por
exemplo: “não levarmos nada muito a sério; rirmos mais, especialmente de nós
mesmos; abraçarmos mais aos que gostamos; nos entregarmos mais vezes às
pequenas, porém relevantes sensações (físicas e emocionais); nos apaixonarmos
mais vezes, mesmo que seja sempre pela mesma pessoa” etc.etc.etc. Isto é, devemos viver plenamente o presente, já que
não sabemos qual será nosso amanhã, sem nos descuidarmos do futuro,
prevenindo-nos, na medida do possível, dos potenciais percalços ditados pelo
acaso. Há quem siga essa receita? Estou convicto que há. E por que a mídia não
noticia? Por que não tem violência e sangue?
No jornalismo é bastante comum se afirmar que atos
positivos, em que ressaltem os melhores aspectos morais e emocionais do homem,
"não dão Ibope". Ou seja, não interessam aos leitores. Será? Alguém
já fez pesquisa a respeito? Se fez, desconheço-a. As boas notícias deveriam
interessar a todos. De tanto lerem e ouvirem notícias referentes á violência, à
corrupção e à criminalidade, as pessoas findam por se alienar da realidade. Em
suas cabeças, apenas o mal passa a ser soberano no mundo, como se só ele
existisse, o que está longe de ser verdade. Com isso, até subconscientemente,
tendem a imitar os atos ruins ou, no mínimo, a fazerem vistas grossas a eles,
achando que sejam “normais”. Claro que não são!
O escritor português José Saramago, ganhador de um Prêmio
Nobel de Literatura, escreveu: "As pessoas começam por ceder nas pequenas
coisas e acabam por perder o sentido da vida". E perdem mesmo... Em vez de
ignorarmos os maus exemplos ou, pior, de imitá-los, atentemos para as atitudes
positivas e ajamos sempre assim, construindo, em vez de destruir. Não nos
deixemos levar pela tentação de seguir a correnteza poluída e negativa. A
comunicação existe para construir, não para disseminar, mesmo que a intenção
não seja esta (e estou seguro que não é), ódio, violência, desgraças e horror. Apostemos na bondade, no positivo, no
construtivo e no eficaz. Este é o caminho da felicidade, objetivo de todas as
pessoas inteligentes e de bom senso!
Boa leitura.
O Editor.
Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk
Um bom tema para todos os dias do ano, especialmente o primeiro domingo.
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