Por vários motivos principais
* Por Stanislaw Ponte Preta
Durante uma recepção elegante, a flor dos Ponte Pretas estava a mastigar o excelente jantar, quando uma senhora que me fora apresentada pouco antes disse que adorou meus livros e que está ávida de ler o próximo.
— Como vai
se chamar?
Fiquei meio chateado de revelar o nome do próximo livro. Ela podia me interpretar mal. Como ela insistisse, porém, eu disse:
—
"Vaca Porém Honesta." (*)
Madame deu um sorriso amarelo mas acabou concordando que o nome era muito engraçado, muito original. Depois — confessando-se sempre leitora implacável, dessas que sabem até de cor o que a gente escreve —, madame pediu para que não deixássemos de incluir aquela crônica do afogado.
— Qual? —
perguntei.
— Aquela do
camarada que ia se afogando, aí os carros foram parando na praia de Botafogo
para ver se salvavam o homem. Depois um carro bateu no outro, houve confusão e
até hoje ninguém sabe se o afogado morreu ou salvou-se. Lembra-se? Aquela é uma
de suas melhores crônicas.
Foi então
que eu contei pra ela o caso do colecionador de partituras famosas, que um dia
foi a um editor de música procurando o original de certa sonata que fora
composta por Haydn e Schumann juntos. O editor ficou olhando para ele e o
colecionador esclareceu: - Sei que essa partitura é raríssima, mas eu pagaria
qualquer preço por ela.
— Vai ser
um pouco difícil — disse o editor — conseguir uma partitura composta por Haydn
e Schumann juntos, por vários motivos. Primeiro: quando Schumann nasceu, Haydn
tinha morrido no ano anterior.
A leitora que se lembra de tudo que eu escrevi estranhou e perguntou:
— Por que
me contou essa história?
— Porque
lembra a história que estamos vivendo agora. A crônica sobre o afogado que a
senhora diz ser uma das minhas melhores crônicas... quem escreveu foi Fernando
Sabino.
Ela achou engraçadíssimo. Papai agrada em festa.
(*) O título, mais tarde, foi trocado, porque a vaca protestou.
Texto extraído do livro "O melhor da crônica brasileira", José Olympio Editora - Rio de Janeiro, 1997, pág. 88.
* Pseudônimo do escritor,
jornalista e humorista Sérgio Porto.
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