Olho grande e juízo minúsculo
* Por
Fernando Yanmar Narciso
Uma das coisas mais
marcantes para mim, no início do Plano Real, foi que ele iniciou na mesma época
em que fiquei conhecendo e me apaixonei pelas cadeias de fast-food. Em 1995,
você podia chegar à boca do caixa do McDonald’s com apenas 5 Reais nos bolsos e
sair de lá com qualquer “Mc Oferta” e ainda sobrava algum pro mendigo na porta
do “restaurante”. O Big Mac, assim como todos os lanches do cardápio, custava
apenas $2,95, o que faz supor que os acompanhamentos saíam a 1 Real cada. E não
apenas na loja dos arcos dourados, mas até nas lanchonetes das mais curraleiras
os sandubas costumeiramente saíam por menos de cinco.
No entanto, ao final do
primeiro mandato de FHC, o kit macabro Big Mac+ fritas+refrigerante já saía a
$9,95. Inflação de 50% em quatro anos! Hoje o máximo que dá pra fazer com 5
Reais num balcão do McDonald’s é comprar duas casquinhas e talvez um copinho de
água mineral, e nem deixam lamber o balcão se o sorvete derramar. Para um homem
que não dirige como eu, o mais normal de acontecer é entrar na loja com 50
Reais no bolso e mal sobrar algum pra condução. Pelo menos, podemos queimar as
calorias de todo aquele lixo tóxico andando de volta pra casa...
Vocês se lembram de
como o plano econômico de Itamar Franco, surrupiado por FHC, parecia ter dado
um Ctrl+Alt+Del na vida do povo brasileiro? Naquele mesmo ano em que virei
consumidor assíduo do McChicken, era possível ver coisas hoje acima de nossa
compreensão, como estocar frango para um mês inteiro no freezer com pouco mais
de 10 Reais; gente saindo do supermercado com fardos e mais fardos de latinhas
de Skol nos braços a $0,25 cada uma ou padarias vendendo pãozinho francês por
$0,05 a unidade, e não no quilo!
O poder de compra de
uma moedinha de 1 Real deixava os moleques da época bestificados. Imaginem
comprar um saco de rosquinhas de coco Mabel, de 1 kg, com uma mísera moeda nos
bolsos! Ou passar a tarde inteira cabulando aula na locadora de videogame,
torrando trocados na frente do Super Nintendo! Minha mesada foi de apenas $30
por muitos anos, e dava pra se virar numa boa com aquelas três notinhas... Por
algum motivo as coisas parecem ter saído de controle há alguns anos. A
inflação, apesar de não ser (ainda) monstruosa, põe muita gente pra chorar
embaixo da cama. Conseguem imaginar o que é gastar 5 Reais numa maçã no
aeroporto?
Ano passado, quando
houve aquele descontrole nos preços do tomate ao redor do país, quem de nós não
ficou esperando pelo pior? Felizmente a inflação não subiu como temíamos. Já a
ganância dos vendedores e a vaidade dos consumidores... A publicidade vive
tentando nos conquistar com aquele sonho de vida boa, comerciais e cartazes
cheios de pessoas sorrindo, descontraídas e de bem com a vida, contanto que
compremos o que estão tentando nos empurrar goela abaixo. “Quem anda num carro
X é porque fez por merecer”; “Você MERECE usar calças da marca Y”; “Marca
Fulano de Tal: Você no topo do mundo”.
É preciso ter noções
básicas de como funciona o mercado financeiro para não sair gastando como um
doido e chegar ao meio do mês devendo até o pâncreas em juros. Mas digam aí
quem pensa em apreciar a vida com moderação quando se pode sair de um Shopping
Center usando Lacoste legítimo da cabeça aos pés, especialmente se você faz
parte da classe C e adora se exibir para os vizinhos? Vendedores sempre contam
com a chance de o consumidor ser ingênuo a ponto de enfiar o Visa na maquininha
sem nem perguntar o preço do que está comprando. E depois o caboclo vai checar
o extrato bancário, não consegue entender porque o saldo dele fica mais curto a
cada mês e sai por aí pondo a culpa de seu descontrole no governo. Se as
pessoas não abrirem os olhos e criarem juízo, logo nem uma McCasquinha vão conseguir
comprar...
*Designer
e escritor. Contatos:
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Ainda bem que seu apetite não é tão grande assim.
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