quinta-feira, 15 de maio de 2014

Tropa de bandidos


* Por Vitor Orlando Gagliardo

- Bati!
E dessa forma, os visitantes, Angelo e Magali, venceram mais uma partida de buraco de Paulo e Juliana, os anfitriões. Já era uma tradição o carteado entre os amigos no domingo à noite.
- Ouviram isso? – perguntou Juliana.

O barulho aumenta. A campainha toca. Os quatro assustados vão até a porta. Para a surpresa de todos, havia dois carros da polícia e aproximadamente 40 pessoas aos berros.
- Quatro bandidos entraram na sua casa. – disse Geraldina, a moradora mais antiga e fofoqueira da rua.

Paulo e Juliana residiam em um terreno com duas casas grandes. Moravam na da frente e deixavam a dos fundos aberta nos finais de semana.

O policial intercedeu:
- Estamos na captura de quatro elementos. Precisamos investigar seu domicílio.

Paulo sem entender nada abriu a porta. Os policiais, eram cinco, entraram pelo corredor e viram marcas de sangue no chão. A mancha ficou mais forte na porta da casa dos fundos.
- Se tiver alguém aí dentro, vocês prometem que não os matarão aqui dentro? – perguntou Angelo.
- Fica tranqüilo, patrão.

Três policiais entraram e dois ficaram na porta fazendo guarda, na presença dos quatro amigos, ainda atordoados.

Após dez minutos de um silêncio quase sepulcral, saíram os policiais com os três bandidos algemados.

O número de pessoas na rua havia dobrado. Quando viram os policiais trazendo os marginais começaram as manifestações. Geraldina era uma das mais animadas.
- “Vamos acabar com esses vagabundos” ou então “Viva a polícia!”.

Passado o trauma, os quatro amigos foram limpar a casa dos fundos.
- Vou pegar a vassoura e sabão – disse Juliana.
- Engraçado, não vi ninguém machucado – estranhou Magali.
- Não disseram que eram quatro bandidos? – questionou Angelo.
- Já acabou pessoal. Vamos limpar logo essa sujeira e tentar esquecer isso – falou Paulo em tom imperativo.   
Os amigos se dividiram pelos cômodos. De repente, um grito. Era Juliana. Todos foram ao seu encontro e ficaram pálidos com a cena. Os policiais deixaram um dos bandidos na casa. E ele tinha um corte profundo na perna direita.

Apontando uma arma para os quatro e gemendo de dor, o bandido ordenou:
- Pelo amor de Deus, me ajudem!

Já eram quase nove horas da noite e chovia muito. O bandido pediu o telefone celular de Paulo emprestado e ligou para um comparsa pedindo ajuda.

Por volta das onze, o resgate chegou. Paulo e Angelo ajudaram o bandido colocando-o no carro.
- Estou deixando dois sacos lá no quarto e amanhã venho pegá-los por volta das cinco da tarde. Obrigado por tudo.

Angelo e Magali foram para casa.

Paulo e Juliana tentaram dormir. Não conseguiram.

Com uma pontualidade britânica, a campainha tocou às cinco horas. O casal, que não foi trabalhar, foi até a porta e tomou um grande susto. Junto com o bandido que ajudaram na noite passada, estavam mais três – os mesmo que saíram de sua casa algemados.
- O que vocês três fazem aqui? – indagou Paulo.
- Vocês sabem o que têm dentro dos sacos?
- Não fazemos idéia.

Ao verificar os sacos, o casal levou mais um susto – não o último do dia. Um estava cheio de munição de revólver e dois celulares. A outra bolsa estava cheia de notas de cinqüenta reais.
- Nessa bolsa tem cinco mil reais. Como vocês acham que os três estão aqui e eu não fui preso ontem?

Paulo agora entendia tudo. Os policiais demoraram a sair da casa, pois estavam negociando com o líder do bando. Ainda por cima, enganaram a todos fazendo aquela cena. Paulo sentia-se humilhado. Tinha ânsia de vômito.
- Já sabemos quem nos entregou. Vamos cumprir nossa parte do acordo, pagando aos policiais o combinado. Estaremos sempre pela área. Caso precisem de algo, basta nos chamar.
Paulo vomitou.

O casal com medo da violência na cidade e sem saber em quem acreditar, procura uma casa no interior.
Inutilia truncat(1)

(1)   Acabe com as inutilidades.

Obs.: Esse texto é baseado em fatos reais.

* Jornalista

  

Nenhum comentário:

Postar um comentário