Vazio do buraco
* Por
Alexandre Vicente
Levo minha vida a
cavar. Cavo cada rua dos bairros do Rio, cavo amizades no meio das amizades dos
amigos. Faço de um tudo para que esses sejam também meus amigos e gosto de
misturar tudo: música, literatura, artes plásticas… Os artistas me seduzem.
Talvez por isso eu cave tanto uma vaga no meio dessa gente tão sensível.
Esta sensibilidade a
que me refiro é essa capacidade de perceber a beleza do mais singelo acaso.
Como em “Certas Canções” do Milton Nascimento. Elas cabem tão dentro dele como
de mim. A própria canção, poderia ser minha. E eu também pergunto:
- Por que não fui eu
quem fiz?
Em contrapartida,
quanto mais eu cavo mais deixo um vazio prá trás. Porque o buraco é o vazio de
quem cava. Essa terra toda que retiro todos os dias, fica no passado. Na
beirada do buraco e, as vezes, alguém tem que me ajudar a tirar o entulho.
Nessas horas é que caio na armadilha de olhar prá trás.
Quando se cava e se
olha para trás o que se vê é um monte de terra e o vazio do próprio buraco.
Estas pessoas, cavadoras por excelência, tem que olhar prá frente o tempo todo.
Como se tivesse medo de altura:
- Continue andando e
não olhe para baixo!!!
Recentemente olhei prá
trás e vi o vazio. Desculpem, mas a sensação não é boa. Você cai no clichê: de
onde vim, para onde vou. Nessas horas tento me agarrar a Raulzito (Não sei onde
estou indo, só sei que estou no meu caminho). O problema é que essa etapa vem
depois que perco o chão… E aí…
A sorte é que, como
disse antes, cavo amizades e elas me ajudam com o entulho, para que eu volte a
cavar e cavar.
* Escritor
carioca
Nenhum comentário:
Postar um comentário