* Por Pedro J. Bondaczuk
A boa música não tem tempo, pátria e nem fronteira. Permanece anos (até séculos) após a morte dos que a compuseram, embalando gerações, caso, claro, não se abra mão dela e não a ignorem como coisa velha e sem valor. É o caso do norte-americano – filho de imigrantes judeus russos – George Gershwin. Nascido no Brooklyn, na cidade de Nova York, em 26 de setembro de 1898, era o segundo de quatro filhos do casal Moishe Gershowitz e Rosa Bruskin, cujas composições não podem ser ignoradas, pela beleza e riqueza musical. Foi um gênio na sua arte, quer como compositor, quer como intérprete e tem que ser reverenciado como tal.
Entre seus mais memoráveis sucessos incluem-se canções como "Swanee" (1911), imortalizada na voz de All Johnson – que se vendeu aos milhões por todo o mundo e que valeu ao autor a independência financeira –, a consagrada "Rhapsody in Blue (composição para piano e orquestra fortemente marcada pela influência jazzística) e a ópera "Porgy and Bess" – baseada em novela de Du Bose Heyward, que retrata a vida nos cortiços negros de uma cidade do sul dos Estados Unidos no início do século – entre outras.
Coube a esse compositor, que tinha "ritmo no sangue" conforme enfatizam seus biógrafos e teve como parceiro (letrista) o irmão mais velho Ira (excelente e sensível poeta) em um sem número de sucessos, fazer uma espécie de ponte entre o popular e o erudito. Sou apaixonado por suas composições, que fizeram furor na Broadway, a “Meca do teatro” e que foram sensação, também, em Hollywood, a terra do cinema.
Gershwin compôs os melhores clássicos do cancioneiro norte-americano como, além das canções já citadas, "Of thee I Sing" (primeira comédia musical a ser laureada com o Prêmio Pulitzer), "George White Scandals", "Oh Kay", "An American in Paris" e "Jazz Piano Preludes". Inseriu-se, dessa forma, entre os grandes autores do século XX nos Estados Unidos, ao lado de Cole Porter, Richard-Hart e Irvin Berlin, entre tantos outros.
As composições de George Gershwin atravessaram fronteiras e foram (e ainda são) tocadas no mundo todo. O curioso é que, mesmo tendo feito inúmeras trilhas sonoras de filmes consagrados, recebeu somente uma e solitária indicação ao Oscar. Foi pela canção “They can’t take that away from me”, composta em parceria com o irmão Ira para o filme “Shall we dance”, em 1937.
Mas se há alguma coisa de que George nunca pôde se queixar foi de falta de reconhecimento. Suas composições, gravadas pelos melhores e mais famosos cantores norte-americanos, bateram recordes sobre recordes de vendas de discos. Isso redundou em imensa fortuna em direitos autorais para ele. Tanto que, em 2005 (68 anos após sua morte, ocorrida em 11 de julho de 1937, em Los Angeles, na Califórnia), o jornal “The Guardian” apurou que Gershwin foi o compositor mais rico de todos os tempos. E isso mesmo tendo vivido tão pouco, apenas, 39 anos, mas gozados com tanta intensidade (e produtividade) que foi como se vivesse 300 anos ou mais.
Além de compositor, era músico excelente, de primeiríssima linha. Tanto que causou profunda impressão no compositor erudito francês Maurice Ravel. Pudera. Executava, com a mesma facilidade, perícia e virtuosismo, as mais complicadas peças clássicas e os hits populares do momento, sendo refinado intérprete de jazz, entre outros tantos ritmos. Em se tratando de música, não havia segredo para ele. Não há como ouvir alguma composição de George Gershwin, qualquer uma, sem se emocionar e apaixonar, de imediato, por ela. Pena que cada vez mais as pessoas se apegam a efêmeros modismos, sem atentar para qualidade. Dessa forma, gênios musicais, como ele, como Cole Porter ou como Irvin Berlin etc.etc.etc. são cada vez mais ignorados e postos de lado pelas novas gerações, por ignorância, por desconhecerem as maravilhas que esses gênios criaram e ficam, dessa forma, privadas de tanta beleza.
Vez por outra, é verdade, uma ou outra emissora de TV a cabo apresenta programas ocasionais sobre esses notáveis compositores de um passado nem tão remoto, mas isso ainda é pouco, muito pouco pelo tanto que esses músicos representaram para a arte musical do seu tempo. O GNT (do sistema Globosat) apresentou, por exemplo, um bem produzido documentário sobre George Gershwin, no dia 26 de setembro de 1998, data do centenário do seu nascimento, reprisado no dia 29. Depois disso...mais nada. Foi um silêncio total.
Na mesma ocasião (e pelo mesmo motivo) a edição de 1998 do "Free Jazz Festival" rendeu homenagens a esse músico excepcional, que morreu no auge da fama e da criatividade. Ouvir gravações das suas músicas (e são tantas!) é, portanto, ótima pedida, não apenas em datas especiais, mas sempre, em todos os momentos e ocasiões já que, passados tantos anos, suas criações ainda permanecem vivas e mais atuais do que nunca. Afinal, gênios são atemporais. Principalmente se são como George Gershwin, que tinha “ritmo no sangue” e exsudava música por todos os poros, foi.
* Jornalista, radialista e escritor. Trabalhou na Rádio Educadora de Campinas (atual Bandeirantes Campinas), em 1981 e 1982. Foi editor do Diário do Povo e do Correio Popular onde, entre outras funções, foi crítico de arte. Em equipe, ganhou o Prêmio Esso de 1997, no Correio Popular. Autor dos livros “Por uma nova utopia” (ensaios políticos) e “Quadros de Natal” (contos), além de “Lance Fatal” (contos) e “Cronos & Narciso” (crônicas). Blog “O Escrevinhador” – http://pedrobondaczuk.blogspot.com. Twitter:@bondaczuk
Devo conhecer músicas dele, mas não as estou recordando. Vou procurar para ouvir. Esse tipo de apresentação nos desperta para um conhecimento maior.
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