quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Que não me esqueçam

* Por Fernando Yanmar Narciso

Ser famoso na internet tem tanto valor quanto um troféu feito de ar, mas não dá para evitar o desapontamento quando ninguém diz nada a respeito de nossos trabalhos, textos e artes digitais. O quê? Meu trabalho duro ficou tão ruim assim? Não me dão nem um tapinha nas costas ou um sorriso... Será que o mundo se esquecerá de mim quando eu “vier a faltar”? Talvez nunca me ergam um busto em alguma praça ou dêem meu nome a uma praça. “Aterro Sanitário Fernando Yanmar Narciso” simplesmente não soa bem. “Pomada para hemorróidas Yanmar” também não. Por favor, deixem minha chama acesa!

É costume dizer que a fama estraga qualquer carreira. Se for verdade, então por que qualquer artista- eu incluso- é faminto por reconhecimento? George Harrison já disse que fazer parte dos Beatles foi maravilhoso até o momento em que eles desembarcaram nos EUA, daí pra frente tudo desandou.Não sei como é para eles, mas deve ser muito esquisito quando você deixa de ser uma pessoa para tornar-se um ponto de referência. Não duvido que, quando surgiram, os Rolling Stones tenham sido apelidados pela imprensa de “os novos Beatles”.

Quando Luan Santana estourouano retrasado, o candidato a galã teen Fiuk logo se tornou coisa do passado, aí apareceu o –pausa para vomitar - Michel Teló com a melô do estuprador “Ai se eu te pego”, ficou famoso no sistema solar inteiro e agora nem a própria mãe se lembra mais do nome do coitado do Luan.

Quando Britney Spears apareceu em 1999 rebolando de traje colegial japonês, logo disseram que ela era a Princesa do Pop, pois até hoje Madonna permanece inalcançável como a grande Rainha. A ex-virgem deu tantos tropeços na vida que sua chance na realeza logo lhe foi negada. Quem tem sido alardeada nos últimos anos como próxima na lista para ocupar o trono ao lado da vovózona tarada é a Lady Gaga, mas ela parece ser bem mais artificial do que Madonna jamais conseguiu ser. E olha que ele tenta muito...

O grande problema de nossa a geração é a facilidade de tudo. A um clique de distância, carreiras meteóricas se iniciam, e ao mesmo clique, todos podem se esquecer de quem você é. Duvida? Experimente ficar umas duas semanas sem se comunicar por Twitter, Facebook ou até mesmo por e-mail. Se, depois desse tempo, você resolver tuitar qualquer coisa, a primeira pergunta que farão é “Quem é você?”

Tornamo-nos dados numa tela, algoritmos, meros aplicativos. Se não gostam da gente, nem precisam se dar ao luxo de dizer na cara, basta arrastar nossos nomes para a lixeira do Windows, com toda a frieza que o computador fornece. As pessoas não querem mais se lembrar das coisas. A música moderna é tão descartável que nos recusamos a pagar um centavo que seja por ela. Basta entrar no 4Shared, baixar o novo trabalho da bandinha ou do artistinha do momento, curtir por no mínimo 3 semanas... E mandar pra lixeira, para não deixar o HD obeso.

A lição que aprendemos com essa geração é para aproveitarmos o que conquistamos o mais intensamente possível, pois tudo desaparece com a mesma velocidade que surgiu. Os famosos 15 minutos de e fama pelo menos foram ampliados. Se você começou sua carreira musical postando seus trabalhos no Myspace ou no Youtube, e seus vídeos hoje somam mais de 10 milhões de acessos, aproveite os poucos meses de fama com todas as forças, porque após esse período até você mesmo vai esquecer seu nome. Por isso, futuros colegas de revista de fofoca, a pior forma de tentar chegar ao topo hoje em dia é se inscrevendo nesses reality shows no estilo caça-talentos. Até hoje, não apareceu um único aspirante a cantor revelado nesses programas cuja fama durou mais de um ano, nenhum deles sequer ultrapassou a marca de oito dígitos nas vendas, e olha que já é difícil pra caramba chegar à marca dos seis dígitos hoje em dia!

A mídia impressa continua sendo a forma mais antiga e segura de conservar as idéias. Discos de vinil podem arranhar, fitas K7 podem desmagnetizar, mofar e perder todos os dados gravados, CDs podem ser estilhaçados num peteleco, vasos egípcios cheios de hieróglifos podem cair no chão, HDs lançados há 20 anos não têm nenhuma utilidade hoje. Então, se quisermos reconhecimento mesmo depois de mortos, é melhor começarmos a imprimir cada texto que escrevemos, selar a vácuo, guardar em cofres... E torcer para que as próximas gerações ainda saibam ler.

*Designer e escritor. Site: HTTP://terradeexcluidos.blogspot.com.br

Um comentário:

  1. Parabéns pelos argumentos, querido filho. Achei seu texto o máximo! E terminou de forma retumbante com ouro e diamantes.

    ResponderExcluir