quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Princípio de tudo

* Por Pedro J. Bondaczuk

O amor é o sentimento mais propalado e menos posto em prática pelo homem através dos tempos. A palavra, por sinal, serve para rotular tanta coisa diferente! Designa tanta emoção desencontrada! Nomeia tanta ação contraditória! É confundida com paixão, ou com atração sexual, ou com posse etc. Por isso são raros os que exercitam ou exercitaram o amor em alguma ocasião. Os que o fizeram, são designados "santos".

Este é outro conceito mal entendido. A santidade não implica em perfeição. Não é atributo de pessoas especiais, iluminadas, sem vínculos com este mundo. Qualquer um pode chegar a essa condição. Mas desde que se conheça. Desde que saiba ser senhor de suas tendências, impulsos e instintos. E desde que, sobretudo, ame.

A maioria, porém, sequer conhece o real significado do amor. Amar não implica em interesses (materiais ou de qualquer outra ordem). Sequer exige recíproca. É um gesto generoso, altruísta, abnegado. Há muito mais mérito quando amamos nossos inimigos, aqueles que atravancam nosso caminho e nos fazem tropeçar, do que os que nos beneficiam, protegem, ajudam. Nesse caso, o amor é confundido com gratidão.

Não é, como se vê, aquele sentimento banal, passageiro, "infinito enquanto dura", cantado em verso e prosa por poetas e compositores. A palavra, desgastada pelo uso inadequado, hoje está longe de expressar a verdadeira transcendência dessa atitude (mais do que emoção). Sua crescente ausência do mundo é que o torna tão tenso, tão violento, tão repleto de rancor e sofrimento. O filósofo Blaisé Pascal escreveu a respeito: "O cosmos pode ser infinitamente maior do que o homem, mas um único ato de amor vale mais do que todo o nosso universo".

A propósito de santidade, li, há anos, em uma publicação da "Morehouse-Barlow", uma receita que considero lapidar e que diz: "Por que os santos foram santos? Porque foram alegres quando era difícil ser alegre, pacientes quando era difícil ser paciente; e porque foram avante quando queriam ficar parados, calavam-se quando queriam falar e foram agradáveis quando queriam ser desagradáveis. Só isso. Era perfeitamente simples e sempre o será".

Para fazer tudo isso, todavia, é necessário absoluto autodomínio, que somente é obtido através do autoconhecimento. E este é fruto exclusivo do exercício permanente, disciplinado e consciente da meditação. Da visita paciente e quotidiana ao "país da luz", esse território mágico da sabedoria e razão.


* Jornalista, radialista e escritor. Trabalhou na Rádio Educadora de Campinas (atual Bandeirantes Campinas), em 1981 e 1982. Foi editor do Diário do Povo e do Correio Popular onde, entre outras funções, foi crítico de arte. Em equipe, ganhou o Prêmio Esso de 1997, no Correio Popular. Autor dos livros “Por uma nova utopia” (ensaios políticos) e “Quadros de Natal” (contos), além de “Lance Fatal” (contos) e “Cronos & Narciso” (crônicas). Blog “O Escrevinhador” – http://pedrobondaczuk.blogspot.com. Twitter:@bondaczuk

Um comentário:

  1. Esse auto-conhecimento não seria coisa para a Psicanálise? Um comportamento de santo reflete um auto-controle absoluto.

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