Paradigmas
Médicos
*
Por Mara Narciso
Dia
1º de setembro é o Dia do Endocrinologista. É tempo de festejar e
falar das nossas angústias. Está no Aurélio: paradigma é modelo,
é padrão. Na ciência, “paradigmas são as realizações
científicas universalmente reconhecidas que, durante algum tempo
fornecem problemas e soluções modelares para uma comunidade de
praticantes de uma ciência” (Kuhn, 1991).
Avançar
em direção ao bem-comum é a vontade de quem chefia as grandes
decisões. Nas mudanças das condutas médicas, de acordo com novas
descobertas, foram vistos exames, medicamentos e procedimentos serem
incensados, endeusados e depois relegados ao abandono, quando não à
condenação. Em quase quatro décadas, foram comuns danças de
reputação farmacológica, com idas e vindas, subidas e descidas.
Medicamentos saíram de circulação por prejudicarem o usuário.
Quando
há uma mudança radical, é preciso tempo, não para entender as
novas normas, mas para nos convencer de que estejam mesmo certas.
Procurar não ser o primeiro e nem o último a adotá-las. Para isso
nos são apresentados trabalhos científicos e experimentos com
milhares de pessoas durante anos. A todo instante aparecem novas
comprovações. A ciência é assim chamada por ser capaz de
reproduzir resultados iguais em situações semelhantes.
No
33º Congresso Brasileiro de Endocrinologia e Metabologia – Belo
Horizonte, 7 a 11 de agosto de 2018 - consolidaram-se novas práticas
em relação ao nódulo maligno da tireoide. Por se tratar de um
câncer de evolução indolente em sua maioria, após observar um
grupo humano no qual foram feitas cirurgias amplas e tratamento com
radioiodo e o outro grupo no qual foram feitas apenas cirurgias
conservadoras, chegou-se a resultados bastante semelhantes. Então,
outras diretrizes (padronização de condutas) foram criadas, com
novas classificações, tratamentos e seguimentos.
A
SBEM – Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia – diz
sobre as diretrizes em seu site: “A atualização depende,
fundamentalmente, das Sociedades avaliarem que a conduta está
defasada, precisando de ajustes à luz das novas descobertas tanto no
campo diagnóstico como terapêutico”. A
partir do consenso, grupos maiores de pesquisadores avaliam e
aprimoram essas orientações.
Há
mais de dez anos, condutas conservadoras no câncer diferenciado da
tireoide estão sendo divulgadas e praticadas. Não é fácil para os
endocrinologistas, que acompanham e indicam os tratamentos
cirúrgicos, radioiodoterápicos, reposição hormonal e tomavam suas
decisões terapêuticas de uma maneira mais padronizada e agressiva,
ter de fazer uma individualização milimétrica, consultando tabelas
e recuando.
Sempre
existiram clientes que, diante de um nódulo da tireoide, mesmo sem
suspeita de malignidade, decidiram por si mesmos retirar toda a sua
glândula tireoide, à revelia do médico clínico, por receio de
malignização. Agora teremos de convencer ao portador de um câncer
diferenciado da tireoide, desde que pequeno (menor que um cm) e sem
indicativos de agressividade, a retirar apenas parte da glândula,
deixando a outra metade.
A
mudança de paradigmas, fazer diferente do que era feito até então,
gera desconforto. Em princípio entender, estudar, e depois arrumar
argumentos convincentes para si e para o cliente. A Medicina baseada
em evidências agradece.
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Médica endocrinologista, jornalista profissional, membro da Academia
Feminina de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico, ambos de
Montes Claros e autora do livro “Segurando a Hiperatividade”
Uma vez li que todo o conhecimento médico cai por terra a cada 5 ou 7 anos - não me lembro bem. Acho um pouco exagerado isso, porém com a velocidade das novas descobertas e tecnologias, provavelmente a afirmação está bem próxima da verdade! Abraços, Doutora.
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