Grandes
riscos para os compromissos
internacionais da população brasileira
*
Por Guilhermina Coimbra
A
população brasileira acompanha atentamente toda a política e a
politicagem que os Membros do Congresso Nacional planejam fazer –
impunemente – com dinheiro público brasileiro.
Diariamente,
provam-se incapazes de argumentar, lutar pelos direitos da população
brasileira em quase todas as áreas – principalmente, na área
internacional – no que diz respeito à defesa dos direitos do
Brasil, expressa nos tratados internacionais que assinam e, até,
ratificam.
E
o que é pior: assumem compromissos internacionais gravosos ao
patrimônio público brasileiro.
Na
melhor das hipóteses, são uns despreparados, estão no lugar errado
– faz parte da democracia. Todos são iguais perante a lei, logo
todos têm o direito de encontrar qualquer tipo de patrocinadores
para as respectivas eleições.
Eleitos,
os Congressistas brasileiros – imbuídos da responsabilidade de
representar mais de 200 milhões de residentes no Brasil –
entretanto, precisam não esquecer que quando legislam, acordam ou
discordam – estão a legislar, acordar ou discordar no Brasil,
sobre temas internacionais, sob a atenção da população brasileira
atenta.
Os
Governos da Argentina, Brasil, Paraguai e do Uruguai anunciam a
assinatura do Tratado de Livre-Comércio do MERCOLSUL com a UNIÃO
EUROPEIA, no marco da 11ª Reunião Ministerial da Organização
Mundial do Comércio (OMC). O evento acontecerá na semana de 10 a 14
de dezembro, em Buenos Aires, Argentina.
Se
este Tratado for assinado será equivalente à sentença de morte do
MERCOSUL, porque, trará comprometimentos graves às economias dos
países do Bloco.
O
Tratado, se assinado, terá as seguintes sérias consequências:
– interditará
ao Bloco MERCOSUL a perspectiva de desenvolvimento econômico
autônomo e soberano;
– eliminará
as políticas tecnológicas e industriais de cada país e deste
importante Bloco Regional Sul Americano: o MERCOSUL.
– o
MERCOSUL deverá reduzir as tarifas de importação para produtos
fabricados por empresas europeias.
As tarifas de importação reduzidas, alavancarão
a atual produção destas empresas – com condições tecnológicas
mais avançadas e com padrões de competitividade superiores às
empresas do MERCOSUL – cujos países encontram-se ainda em estágios
atrasados de desenvolvimento;
– com
a eliminação das barreiras tarifárias e aduaneiras, não será
interessante, nem conveniente, para as empresas mega transnacionais
europeias,
manter fábricas instaladas nas últimas décadas nos países do
Bloco do MERCOSUL para disputar o abastecimento do mercado regional
sul
americano.
Com certeza, tais empresas vão considerar a exportação desde suas
matrizes na Europa. E as empresas mega nacionais passarão a gerar os
empregos nos respectivos países das matrizes – hoje gerados nos
países do Bloco Regional do MERCOSUL;
– o
imposto para importar bens, produtos manufaturados e serviços da
UNIÃO EUROPEIA
deverá ser equiparado à tarifa praticada intra MERCOSUL (média de
4%), que tem preferências tarifárias e estímulos aos intercâmbios
intra bloco, concebidas para estimular o desenvolvimento econômico,
tecnológico e a geração de empregos nacionais/regionais.
As
consequências do Tratado serão:
– o
desemprego em escala quase-continental na América do Sul;
– a
desindustrialização acentuada;
– a
condenação dos países do MERCOSUL à re primarização produtiva,
ou seja: será a condenação dos Estados da América do Sul a serem
eternos exportadores de matérias-primas e eternos importadores das
referidas matérias-primas com a tecnologia agregada;
– e
permitirá, além disso, que qualquer outra potência econômica
mundial – EUA, China, Japão – possa invocar a Cláusula da Nação
Mais Favorecida da Organização Mundial de Comércio/OMC para
receber o mesmo tratamento obtido pelas empresas europeias.
Em
contrapartida, a União Europeia não amplia o atual mercado
exportador para as commodities produzidas nos países do MERCOSUL.
Isto
é considerado concorrência desleal – passível de ser levada ao
foro da Organização Mundial de Comércio/OMC.
Os
contribuintes brasileiros mantêm representante na OMC para defender
os interesses do Brasil.
Que
medo é esse de levar ao foro da OMC temas de interesse do Brasil?
Quem
está pagando e quem está ganhando muito para se omitir no referido
foro, causando prejuízos incalculáveis ao Brasil?
Se
os interesses do Brasil não estiverem sendo bem defendidos que sejam
trocados os representantes brasileiros no foro da Organização. É o
mínimo que do governo do Brasil – cioso de suas responsabilidades
– os interessados no Brasil esperam.
É
assim que agem os Estados desenvolvidos em defesa de seus interesses.
Para
proteger corretamente, seus produtores agropecuários, os governos de
vários países europeus estão inclusive exigindo a redução,
através deste Tratado, das atuais cotas de importação de proteínas
importadas do MERCOSUL.
Toda
a atenção é necessária porque, com a abertura indiscriminada,
haverá uma avalanche de importação de produtos manufaturados
europeus, e a liberação aduaneira da indústria Nacional-Regional
dos estados parte do MERCOSUL.
Ocorrerá
a destruição das indústrias e empresas do Bloco do MERCOSUL, dado
que ainda não possuem capacidade competitiva frente às empresas
Europeias, norte-americanas, chinesas, japonesas etc.
DECODIFICANDO:
Como consequência da assinatura do Tratado, os Estados do MERCOSUL
voltarão à condição de exportadores de matérias-primas sem
qualquer tipo de valor agregado.
O
Tratado MERCOSUL-UNIÃO EUROPEIA representa um processo de
colonização econômica, comercial, tecnológica e cultural ainda
maior.
Os
efeitos do acordo para o MERCSOUL serão muito piores que o projeto
original da ÁREA DE LIVRE COMÉRCIO DAS AMÉRICAS/ALCA, aquela
ambiciosa estratégia de anexação política, cultural e econômica
dos estados sul americanos ao hemisfério norte americano que os EUA
não conseguiram impor.
A
ALCA foi sepultada em 2005, na cidade de Mar del Plata, Argentina,
durante a Cúpula das Américas.
Na
ocasião, os presidentes sul americanos – Lula, Chávez, Kirchner e
o próprio Tabaré Vásquez (que, desta vez, parece ter aderido ao
Tratado com a UE) tiveram destacado papel na vitória do NÃO Á
ALCA, consigna que sintetizava a voz do povo latino-americano contra
este projeto lançado em 1994 pelo governo democrata de Bill Clinton
e insistentemente conduzido pela administração republicana de
George W. Bush.
O
Tratado MERCOSUL-UNIÃO EUROPEIA é guardado em absoluto segredo
pelas chancelarias, agências e ministérios econômicos dos países
do bloco sul-americano.
Seu
conteúdo foi elaborado secretamente, e decidido dentro da mais
absoluta clandestinidade.
É
um acordo, por isso, que carrega um notável déficit democrático.
Como
todos os ônus terão que ser pagos pelos contribuintes de direito e
de fato do Brasil são aqueles que deverão pagar os ônus, a
população brasileira exige ser mais bem informada, sobre os
encargos com os quais estão a compromissá-la. A população
brasileira já percebeu que, prestes a ser assinado, o Tratado do
MERCOSUL- UNIÃO EUROPEIA é pior que o Tratado da ALCA.
“…Guardado
em absoluto segredo pelas chancelarias,
agências
e ministérios
sobre temas econômicos, o acordo
terá enorme impacto sobre a soberania e a capacidade de
desenvolvimento de cada país do bloco sul-americano”.
(In MIOLA, Jeferson, GGN, publicado em 27.11.2017, às 12:00 horas.).
O
conluio do silêncio impede que coloquem a boca no trombone, gritem e
berrem – para o mundo saber – a respeito da pressão do governo
britânico sobre o Pré Sal (excelente matéria do SBT, semana
passada).
A
atenção da população brasileira nem é questão de inteligência,
porque, é questão de sobrevivência.
Se
a população brasileira não atentar, seus interesses perecerão nas
decisões daqueles que defendem acintosamente interesses de fora do
Brasil dentro do Brasil.
Se
for assinado, o Tratado do MERCOSUL-UNIÃO EUROPEIA será equivalente
à sentença de morte do MERCOSUL e da economia dos estados sul
americanos formadores do Bloco MERCOSUL.
Os
contribuintes de direito e de fato do Brasil estão atentos, porque,
são muitos e diversificadas as áreas nas quais o Brasil aparenta
estar desgovernado.
Uma
delas é concernente ao desvio do dinheiro público originado da
exploração do PRÉ SAL.
A
população brasileira – contribuinte de direito e de fato de todos
os investimentos – está pasma por saber que o dinheiro do PRÉ SAL
– destinado à saúde e à educação – está sendo desviado e
destinado às petrolíferas estrangeiras, através de isenções no
valor de 01/um trilhão de reais em isenções fiscais.
Os
contribuintes, de direito e de fato do Brasil se recusam a pagar o
ônus de tais exonerações, concedidas – na melhor das hipóteses
– irresponsavelmente, pelo Governo do Brasil.
O
governo brasileiro precisa urgentemente insistir com seus auxiliares
diretos – ministros e outros – para estudarem mais, pesquisarem
mais, principalmente, Direito Tributário Comparado, de modo a
aprenderem que, fora do Brasil, a exoneração de tributos é
considerada preço público, a ser pago pelos contribuintes de
direito e de fato do estado no qual a exoneração é feita – no
caso em exame, os contribuintes de direito e de fato do Brasil.
Os
atuais membros do Congresso Nacional – Câmara e Senado vêm
provando diariamente que não têm a menor competência para atentar
e fiscalizar a proteção do interesse público da população
brasileira.
Isto
porque, os atuais membros do Congresso Nacional – Câmara e Senado
– demonstram, no mínimo, estar coniventes ao assistirem,
impassíveis, ao descalabro das propostas indecentes, cujo objetivo é
o de prejudicar, onerando os residentes no Brasil e beneficiando os
residentes fora do Brasil.
O
mundo – que absolutamente não é limitado a este grupo de estados
super desenvolvidos, cuja obsessão é dominar a maior parte do mundo
através da posse das fontes de energia que jazem nos Estados em
desenvolvimento – precisa saber, para não ser prejudicado.
Toda
a atenção é preciso das populações dos estados sul americanos –
principalmente do Brasil, o maior deles – face à repercussão
futura, de enorme impacto sobre a soberania e a capacidade de
desenvolvimento de cada país: este acordo não pode ser assinado sem
o amplo conhecimento e o debate prévio com as sociedades civis e os
parlamentos nacionais de cada um dos estados envolvidos. No Brasil, o
Congresso Nacional – Câmara e Sendo reunidos, para decidirem
conjuntamente em votação única.
A
população brasileira – amadurecida, bem informada, atenta e
revoltada quer que sejam discutidos com amplos debates – antes de
serem assinados e antes de serem ratificados – os negócios
internacionais, perpetrados sob tratados internacionais assinados
pelos representantes do Brasil.
A
população brasileira, amiga e hospitaleira – é população
atenta.
O Brasil merece respeito.
*
Professora, Pesquisadora, CNPq/CAPES, FGV-RJ.
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